O impasse em torno da execução do pacote de obras de transmissão de eletricidade no Estado agrava a situação de duas usinas – uma quase concluída, outra com dificuldade para sair do papel – que dependem desse reforço na conexão para poder operar, no caso da Pampa Sul, da Engie (ex-Tractebel), e se planejar, no caso da Termelétrica de Rio Grande. A situação foi exposta por Sandoval Feitosa, diretor da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) em entrevista à coluna.
Na terça-feira passada, a Aneel deu ultimato à Eletrosul e à Shanghai Electric para que entreguem o aditivo ao contrato que transfere a responsabilidade da obra da estatal brasileira à estatal chinesa e avisou que, caso isso não ocorra até esta sexta-feira (21), terá de licitar novamente as obras, o que deve adiar ainda mais o prazo de entrega. Isso ocorreu menos de um mês depois da solenidade no Palácio Piratini que marcou o acordo entre Eletrosul, subsidiária da Eletrobras, e a chinesa Shanghai Electric.
Os responsáveis pelos dois projetos estão cientes do risco. Linhas de transmissão são a forma de transporte da energia gerada nas usinas até a rede de distribuição, que por sua vez faz chegar até o consumidor. As atuais estão sobrecarregadas, como uma estrada permanentemente congestionada. Eduardo Sattamini, diretor-presidente da Engie, dona da Pampa Sul, afirma que a empresa busca "alternativas para mitigar essa restrição". O esforço é para viabilizar o máximo despacho (geração de energia) possível. Conforme o executivo, as negociações estão bem adiantadas e a expectativa é de chegar "a bom termo" nas próximas semanas, por meio de ações de natureza regulatória, e também de obras de adequação da conexão da usina ao sistema para enfrentar as restrições de escoamento.
A Termelétrica de Rio Grande ainda não saiu do papel. Neste momento, o maior problema é o atraso na licença de instalação, prometida para 31 de dezembro de 2017 mas ainda não liberada. O obstáculo seria um questionamento do Ministério Público Federal no RS sobre eventuais riscos representados pelos navios de gás que aportariam na cidade. A térmica seria abastecida com gás liquefeito transportado por embarcações até Rio Grande e, uma vez no porto, regaseificado. Há também um problema de outorga na própria Aneel, mas o grupo ligado ao projeto tem sinalizado a interlocutores que, sem a licença ambiental, não adianta recuperar a autorização para construir a usina.