O prédio na esquina da Avenida Cristóvão Colombo, em Porto Alegre, passa boa parte do ano fechado. O local fica preparado, pintado nas cores vermelho e verde, apenas aguardando a chegada de meados de setembro, quando a Zona Franca Natal ganha vida novamente. Até 24 de dezembro de cada ano, em plena Capital, é possível se aproximar da experiência de estar no Polo Norte – ou, pelo menos, na casa do Papai Noel.
No local, é possível comprar árvores que giram e tocam música com controle remoto, bolinhas personalizáveis com nomes e frases, Papais Noéis e guirlandas gigantes, ursos polares que rosnam, entre outros itens. O mais inusitado é o papel higiênico do Papai Noel – que chega a custar R$ 30 o rolo e esgota rapidamente.
Embora a loja permaneça fechada ao público por mais de oito meses anualmente, engana-se quem pensa que o trabalho cessa quando as portas cerram na véspera de Natal. Logo na sequência, uma equipe viaja aos Estados Unidos para observar tendências e já adiantar algumas compras, conta Joel Wofchuk, 50 anos, proprietário do estabelecimento. As compras para o Natal seguinte já iniciam em janeiro. Durante o ano, a equipe também vai à China.
A loja costuma passar por reformas e ganha novos elementos – como neve, neste ano –, de modo a ser cada vez mais temática.
— Cada ano a gente tenta superar mais, para ser uma atração em Porto Alegre. Essa eu acho que é uma das receitas do nosso sucesso, é sempre estar inovando e estar querendo trazer coisas novas para o nosso público — conta.
Na segunda-feira (2), depois de já terem comprado bolinhas e enfeites, a arquiteta Andressa Fonseca, 30, e o engenheiro de software Lucas Vieira, 32, voltaram à loja para pegar luzes e um Papai Noel. O casal está comprando decorações natalinas novamente, após ter doado o que tinham antes de se mudar para o Exterior.
No retorno ao Brasil, os dois decidiram organizar uma decoração diferente, em tons de rosa. Andressa elogiou justamente a variedade de produtos da Zona Franca Natal, com itens singulares.
— Eu sou apaixonada por Natal. Para mim, é uma tradição de família, e hoje em dia, eu busco trazer essa tradição para o nosso núcleo familiar. Veio dos meus avós, da minha mãe, e agora eu pretendo manter na minha família — relatou.
Do R$ 1,99 ao Natal
O negócio começou em 1997 como uma loja de R$ 1,99, que apostava em datas comemorativas. O Natal sempre se destacou. Com as dificuldades do mercado, a família decidiu fechar o local e promover uma experiência, investindo somente no Natal – e já se vão 14 anos trabalhando apenas com a data.
Atualmente, a Zona Franca Natal atende prefeituras de todo o Estado, empresas, condomínios, lojas, shoppings e o público em geral. Além da venda de produtos, há o serviço de decoração externa. Nesta época, a família respira Natal 24 horas por dia, intensamente.
Embora possuam outros negócios, como uma loja de uniformes, plantações de morangos e atividades na área da construção civil, o grande ganha-pão da empresa familiar é o Natal – e as vendas garantem o sustento do local que fica fechado por oito meses.
— A gente consegue se manter por meio de muito trabalho, muita dedicação e muito amor pelo que a gente faz. Porque a gente ama o Natal, a gente vive o Natal 12 meses por ano mesmo. As pessoas vivem dois meses, um mês. Tudo que a gente vê e pensa está ligado ao Natal — salienta Wofchuk.
A cada ano, as vendas crescem mais, e a loja se consolida como referência no tema natalino, segundo o proprietário. Em 2024, entretanto, o motivo é ruim: muitos gaúchos perderam seus pertences na enchente e estão tendo de comprar enfeites novamente, lamenta Wofchuk. Além disso, a procura por parte das prefeituras diminuiu, já que muitas estão priorizando outros investimentos.
O Natal na economia gaúcha
Responsável por pesquisas de intenção de consumo no Natal, a Federação do Comércio de Bens e de Serviços do Estado do Rio Grande do Sul (Fecomércio-RS) não contabiliza dados específicos sobre a venda de produtos de Natal. Contudo, houve um aumento dessa demanda, na avaliação de Patrícia Palermo, economista-chefe da federação:
— Pessoas que dão presentes de Natal acabam vivenciando o Natal. Então, elas acabam arrumando suas casas, e isso obviamente movimenta esse tipo de mercado. O que a gente tem visto é que efetivamente, para dentro dos lares, provavelmente os hábitos tenham mudado, e as pessoas têm decorado mais as suas casas.
A constatação, conforme a especialista, decorre da observação do crescimento dos espaços dedicados às decorações natalinas em lojas e supermercados, por exemplo.
— O espaço dentro de uma loja sempre é algo caro. Então, se todo ano um espaço de venda de Natal cresce, é porque o consumo daquele item está crescendo — afirma.
Dezembro é um mês “muito importante” para a economia gaúcha, especialmente em relação a itens presenteáveis, segundo Patrícia. Há uma movimentação de valores muito significativos no comércio no final do ano – porém, isso não ocorre exclusivamente devido ao Natal, e envolve o 13º salário, formaturas, celebrações e Black Friday, na qual muitos adiantam as compras natalinas.
Neste ano, 47,6% das pessoas entrevistadas afirmaram que comprariam presentes de Natal, com um gasto médio por pessoa que deve atingir R$ 700,11. Para conseguir atender à alta demanda, as empresas reforçam seus times. Neste ano, 46% dos estabelecimentos tinham a intenção de contratar temporários, segundo pesquisa da Federação do Comércio de Bens e de Serviços do Estado do Rio Grande do Sul (Fecomércio-RS).
As contratações deste período acontecem principalmente até o mês de novembro. Elas devem representar um incremento de 63,7% na força de trabalho desses estabelecimentos – que pretendiam contratar, em média, uma quantidade levemente superior à do ano passado. Já o encerramento previsto dos contratos deve ocorrer sobretudo em janeiro, mas 28,6% dos trabalhadores têm chance de efetivação.