À primeira vista, da BR-386, a loja Verytel aparenta ser um pequeno estabelecimento que comercializa itens natalinos. Quem decide parar na beira da estrada e adentrar o espaço localizado no km 411, na altura de Vendinha, em Triunfo, entretanto, se surpreende ao encontrar um universo natalino pelos quatro andares do local.
A expressão no rosto dos clientes quanto observam as cores e os elementos característicos da data é o que encanta Juliana Turossi, 25 anos, designer e proprietária da loja que permanece aberta durante o ano inteiro.
— Dá muito gosto de ver o brilho no olhar das pessoas. Porque realmente eles se surpreendem com a estrutura que nós temos aqui. Sempre tentamos investir mais e mais para realmente tocar as pessoas. E é claro, tem opções para o Natal, ao infinito e além — destaca.
Pinheiros, guirlandas, presépios, bolas das mais diversas cores e tamanhos e enfeites que se movimentam preenchem todos os espaços disponíveis. A cada novo pavilhão, uma nova surpresa. Entre os artigos mais inusitados estão árvores invertidas, coloridas e feitas de guirlanda.
A loja costuma receber clientes de todo o Estado. Na manhã desta terça-feira (3), a pensionista Helena Schwertner, 82 anos, fazia compras no local com a família. A moradora de Lajeado, no Vale do Taquari, perdeu quase toda a decoração natalina – que incluía mais de 300 Papais Noéis – na enchente, e agora busca repô-la.
— Eu já comprei tudo, o pinheiro, muita coisa. Agora eu quero o pinheiro ao contrário — contou a Zero Hora, comentando sobre o item diferenciado que adquiriu na loja: um globo de neve, com o trenó do Papai Noel, que gira a exibe a mensagem “Feliz Natal”.
A decoração de sua casa é temática: na cozinha, há Papais Noéis cozinhando. No banheiro, ele está no papel higiênico, na saboneteira e tomando banho. Helena tinha até mesmo um Papai Noel que roncava, no quarto. Apesar do marido ter falecido no dia do Natal, a mãe de quatro filhos buscou manter viva a tradição.
— Toda a vida foi isso. Desde o tempo de criança, a mãe já fazia, então continua. Os docinhos de Natal, antigamente a gente fazia — recorda.
Empolgada para as festividades deste ano, Helena costuma frequentar a loja durante o período que antecede o Natal e também em outros datas comemorativas.
— Quem não gosta disso aqui? É tudo de bom. Nós viemos todo ano. Páscoa e Natal. Há anos a gente vem aqui. É linda demais.
— A gente vem aqui e não quer mais ir embora — complementou a filha Ana Luísa Schwertner, 62, professora.
Natal durante o ano inteiro
A loja começou como um bazar, em 1995, expandindo com um showroom de Natal em 2009, devido à paixão familiar pela data. Os clientes gostaram e, em 2015, houve um “boom” na procura – desde então, a cada ano, o movimento vem crescendo. O espaço foi acompanhando a demanda e aumentando aos poucos, até chegar à estrutura atual – que será ampliada no próximo ano, adianta Juliana. Atualmente, a festividade é o carro-chefe do negócio.
A fábrica que produz os artigos é da família da proprietária e está localizada na mesma cidade. A Verytel (uma homenagem à Verenice, mãe de Juliana e fundadora da loja), por sua vez, além de vender os itens, oferece o serviço de decoração de guirlandas e pinheiros na loja – cerca de cinco árvores são decoradas no local a cada final de semana.
Embora esteja mais concentrada de setembro a dezembro, há demanda o ano todo de pessoas buscando garantir a decoração, conforme a proprietária. O estabelecimento também conta com um pequeno bazar, porém, são as vendas relacionadas ao Natal que sustentam o funcionamento da loja pelo restante do ano.
— Em setembro, o pessoal que já é doido pelo Natal já começa, e é assim que a gente gosta. Acaba tendo pessoas comprando aqui dia 28 de dezembro, dia 2 de janeiro, e o ano todo. Às vezes, é Páscoa, e o pessoal está comprando para o Natal — relata Juliana.
A parte preferida da jovem empresária ao atender os clientes é ouvir as histórias e as tradições de cada família – e saber que a decoração, não importa o tamanho ou valor, serão utilizadas por anos.
Boas perspectivas de vendas
Com a enchente histórica deste ano tendo afetado milhares de gaúchos, havia o receio de que os negócios pudessem ser afetados. A procura para o Natal começou um pouco mais tarde, com grande demanda somente em novembro. Apesar de tudo, o movimento é maior do que o registrado no mesmo período do ano passado.
— Eu acredito que, por mais que as pessoas tenham perdido tudo, o Natal tem aquele significado e aquele poder de trazer de volta e de realmente reunir a família. Então, por mais que neste ano seja uma árvore pequena, uma guirlanda, uma decoração, uma coisa mais simples, já traz toda a magia do Natal e a esperança de que vão ter dias melhores — pontua.
Em 2025, Juliana projeta que a decoração de novas peças deve começar próximo à Páscoa, devido à alta demanda. Além do Natal, a loja também vende guirlandas e enfeites para outras datas temáticas, como Páscoa e Dia dos Namorados, em menores volumes.
Período movimenta a economia gaúcha
A Verytel mantém uma equipe fixa, que é reforçada por meio de contratos temporários nos finais de semana do final do ano, quando o movimento na loja triplica. Para conseguir atender à alta demanda, as empresas costumam adotar essa estratégia.
Neste ano, 46% dos estabelecimentos tinham a intenção de contratar funcionários temporários para esse período do ano, segundo pesquisa da Federação do Comércio de Bens e de Serviços do Estado do Rio Grande do Sul (Fecomércio-RS).
As contratações nesta modalidade acontecem principalmente até o mês de novembro. Elas devem representar um incremento de 63,7% na força de trabalho desses estabelecimentos – que pretendiam contratar, em média, uma quantidade levemente superior à do ano passado. Já o encerramento previsto dos contratos deve ocorrer sobretudo em janeiro, mas 28,6% dos trabalhadores têm chance de efetivação.
Responsável também por pesquisas de intenção de consumo no Natal, a Fecomércio-RS não contabiliza dados específicos sobre a venda de produtos de Natal. Contudo, houve um aumento dessa demanda, na avaliação de Patrícia Palermo, economista-chefe da federação:
— Pessoas que dão presentes de Natal acabam vivenciando o Natal. Então, elas acabam arrumando suas casas, e isso obviamente movimenta esse tipo de mercado. O que a gente tem visto é que efetivamente, para dentro dos lares, provavelmente os hábitos tenham mudado, e as pessoas têm decorado mais as suas casas.
A constatação, conforme a especialista, decorre da observação do crescimento dos espaços dedicados às decorações natalinas em lojas e supermercados, por exemplo.
— O espaço dentro de uma loja sempre é algo caro. Então, se todo ano um espaço de venda de Natal cresce, é porque o consumo daquele item está crescendo — afirma.
Neste ano, 47,6% das pessoas entrevistadas pela pesquisa da Fecomércio afirmaram que comprariam presentes de Natal, com um gasto médio por pessoa que deve atingir R$ 700,11.
Segundo Patrícia, dezembro é um mês “muito importante” para a economia gaúcha, especialmente em relação a itens presenteáveis. Há uma movimentação de valores muito significativos no comércio no final do ano – porém, conforme a economista-chefe, isso não ocorre exclusivamente devido ao Natal, e envolve o 13º salário, formaturas, celebrações e Black Friday, na qual muitos adiantam as compras natalinas.