Nós, homens, inventamos testes ridículos, testes insignificantes, testes estrambólicos no relacionamento, que têm muito mais a ver com a insegurança masculina do que com uma exigência das parcerias.
Abrir o pote de pepino.
Matar barata.
Trocar o pneu do carro.
Espantar insetos das cortinas.
Consertar chuveiro.
Tirar a bota de um só golpe.
Dormir perto da porta.
Um deles acontece só na praia. Só no verão.
Eu lembro a primeira vez em que tive que fincar o guarda-sol diante da namorada da adolescência, em Rainha do Mar.
Suei frio, desmanchando a camada de protetor solar da testa.
Ninguém nunca me ensinou. Na época, não havia tutoriais no YouTube, não havia redes sociais. Tive que aprender olhando os vizinhos.
Fiz um buraco fundo usando a vareta do encaixe. Não parava de cavar. De tão fundo, parecia que cavava a minha cova.
A namorada dizia “chega”, “está bom”, e eu não admitia desistir. Não tinha certeza se estava profundo o suficiente. Eu agia como um obcecado.
No meu buraco, já jorrava a água do mar, já era possível enxergar o Japão do outro lado.
Ainda com receio, eu me agachei na areia e preparei um montinho, um castelo, uma fortificação para calçar o guarda-sol.
O que não contava era com a presença ostensiva do Nordestão no dia da minha estreia. O sol se mostrava apenas como uma fachada inofensiva para o vento atroz, que arrastava as dunas silenciosamente pela superfície dos pés, pinicando as pernas.
Mal me sentei, e o guarda-sol começou a balançar. Pensei que iria aguentar após o meu exaustivo trabalho manual de retroescavadeira.
Mal fechei as pálpebras para escutar o som hipnótico do oceano, e o Nordestão levantou o guarda-sol num único tranco.
Ele disparou com violência, numa arrancada furiosa de cavalo em hipódromo, dando cambalhotas, atropelando idosos e crianças, num atentado a qualquer passante.
Saí correndo atrás dele, desesperado. Não existe nada mais humilhante na vida do que correr atrás do guarda-sol. Você extravia a elegância, os bons modos, a reputação. Todo mundo atesta a sua incompetência, e tenta ajudar com algum grito ou mímica.
Juro que precisei maratonar uns quinhentos metros.
O guarda-sol se transformou no meu guarda-chuva de velório.
Quando voltei com o item resgatado, eu me encontrava fora de mim, esvaziado de mim, envergonhado de mim. Não restava mais nada a perder, ou a defender. Então, alcancei o guarda-sol para a namorada e esbravejei:
— Agora quem coloca é você.
Ela o instalou de uma maneira tão rápida, tão indolor, que nem o Nordestão foi capaz de demover a sua fortaleza colorida.
E me explicou:
— Nunca será questão de força, mas de jeitinho. Minha mãe é expert nessa arte.
Abandonei as bobagens das convenções para desfrutar da paz da sombra, da alegria de ser sombra de uma mulher.
Família é equipe, não competição para descobrir quem é mais forte.