Nesta segunda e na terça-feira, começa a se definir o futuro de um investimento bilionário no RS. É quando os interessados em disputar o direito de construir reforços para o sistema de transmissão de energia têm de se habilitar e apresentar garantias. É a chance de retomar as obras do Lote A, esnobado pela chinesa Shanghai Electric Power, obra de R$ 4 bilhões. Uma das candidatas é a indiana Sterlite, vencedora da licitação anterior, em junho. No comando da empresa está Rui Chammas, que foi vice-presidente-executivo da unidade de petroquímicos básicos da Braskem, que tem unidade no polo de Triunfo.
Como vê o cenário para grandes investimentos no país?
O crescimento do Brasil vai se dar pelo avanço de obras de infraestrutura, da retomada da capacidade ociosa da indústria. Para a indústria pensar em crescer, precisa um sistema elétrico confiável. Infraestrutura de energia tem que vir muito antes de quando se torna necessária. Obras no segmento tomavam muito tempo, era possível planejar linhas de transmissão a mais longo prazo. As fontes renováveis de energia têm instalação muito rápida. Passando pelo , é questão de meses. Em um Brasil que volta a crescer de maneira mais robusta, a infraestrutura tem que estar pronta, em geração, transmissão e distribuição. A previsão da EPE (Empresa de Planejamento Energético) é de que, entre 2017 e 2026, sejam necessários R$ 120 bilhões só em transmissão. É um mercado importante.
Como os indianos veem o Brasil?
Existe nos órgãos de apoio ao setor energético gente muito competente. Esse trabalho de planejamento de longo prazo pela EPE, de operação do sistema pela ONS e depois de regulação pela Aneel é muito bom. Na minha empresa, que tem investidores estrangeiros, eles não se cansam de admirar como o sistema é sólido.
Como é o projeto Vineyard, que a Sterlite começou a desenvolver na semana passada no RS?
São dois trechos, entre Estrela e Garibaldi e outra entre Bagé e Candiota. A nossa linha é independente, ela vai chegar na subestação de Candiota. No leilão da Aneel do dia 20 de dezembro, há previsão da construção de uma nova subestação ali, mas a nossa obra não está ligada a outra. Estamos na fase final do licenciamento ambiental e das aprovações junto a Aneel. Um desafio é o temopo. Temos de rápido construir rápido. As obras vão de 48 a 60 meses. O segundo desafio é o de espaço. Cada vez mais, ao entrar em regiões urbanas, você tem de ser capaz de colocar uma linha de transmissão sem criar perturbação para a população. Estamos trabalhado muito com tecnologia, buscando soluções que nos permitam aumentar a capacidade de linhas já existentes para levar mais energia à população. O último desafio é: recurso financeiro/custo. O custo é uma questão quase que técnica. Grandes hidrelétricas e termoelétricas rodam o tempo todo, quando há uma linha de transmissão ligada a uma delas. Um parque eólico ligado a uma linha de transmissão é diferente, porque funciona de forma intermitente. É importante trabalhar para diminuir os recursos dos empreendimentos, porque é isso que a sociedade precisa.
Há interesse nos blocos desmembrados do Lote A?
Estamos analisando os lotes do leilão de dezembro. Temos um time que faz isso com todos os lotes lançados pela Aneel. Estamos em fase de muito trabalho, entendendo o que existe, o que são os lotes, para verificar qual é a proposta. Temos a construção e, depois, a operação. Não é possível dividir um trecho na metade sem ser entre duas subestações. É uma concessão de 30 anos até voltar para o governo. Vamos participar do leilão de dezembro, sim. De que lotes vamos participar? Não sei ainda. Estamos estudando, os lotes aqui do Rio Grande do Sul são muito importantes.
Vão manter o comportamento do leilão anterior?
No último, ganhamos seis lotes, sempre com distância pequena para o segundo colocado. Perdemos também, mostrando que outras empresas tinham a visão de que conseguiriam fazer aquele trabalho de forma diferente. Fomos uma surpresa no cenário brasileiro. Uma empresa nova, de origem indiana. Não estamos acostumados a receber investimento dessa origem, com uma visão particular de como operar, fazer e precificar. Concorrência é bom, a gente se desenvolve.
Foi um investimento ousado, há mais recursos previstos?
Foi um investimento de R$ 3 bilhões. No nosso portfólio, o total está em torno de R$ 6 bilhões. Não temos obrigação nenhuma no próximo leilão, o que temos é uma visão de longo prazo. O que declaramos é que a nossa ambição em termos de mercado na América Latina, é de desenvolver US$ 4 bilhões em investimento. Temos visão muito clara e determinada do que queremos fazer. Hoje, nós temos um portfólio importante de projetos para serem desenvolvidos. Dos nove projetos que temos, começamos a obra de dois, estamos na fase de licenciamento ambiental de um grande lote, o Novo Estado, entre Pará e Tocantins, maior projeto que temos. Temos seis lotes que ganhamos em junho do ano passado e estamos em fase de licenciamento ambiental. Nós vamos continuar olhando as oportunidades de maneira determinada e disciplinada. Mas o nosso olhar é sempre seletivo, não estamos aqui para ganhar market share, tamanho. É um olhar seletivo, de encontrar projetos que se encaixem em nossa visão e estratégia. O nosso foco hoje é linha de transmissão.
Seu contato prévio com o RS ajuda?
Ajuda já ter trabalhado aqui, principalmente quando falamos com investidores que não são daqui. Explicar para eles que o Brasil é diverso, que cada região tem características. É ótimo investir no RS. Aqui há mão de obra qualificada. Vejo o poder público no RS superinteressado que isso aconteça. É um ambiente favorável. A característica que diferencia o Estado das outras regiões em que operamos é a questão na instalação das torres. Aqui vocês têm terras menores em comparação ao Norte. Há um número maior de interações com proprietários aqui.