O aumento na população inativa, que impediu um avanço maior na taxa de desemprego em maio, pode ser reflexo do desalento, confirmou Cimar Azeredo, coordenador de Trabalho e Rendimento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O fenômeno ocorre, por exemplo, quando as pessoas deixam de procurar emprego por acreditarem que não conseguiriam uma vaga.
No trimestre encerrado em maio, a população fora da força de trabalho alcançou o recorde de 65,413 milhões de pessoas, 475 mil indivíduos a mais nessa condição do que no trimestre anterior, terminado em fevereiro. No mesmo período, 204 mil trabalhadores foram demitidos e apenas 115 mil passaram a buscar uma vaga.
Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) divulgados nesta sexta-feira (29) pelo IBGE.
Azeredo calcula que cerca de 60% da população fora da força de trabalho mas com potencial para voltar ao mercado esteja em situação de desalento.
Contra a tendência
A redução na proporção de pessoas trabalhando na passagem do trimestre encerrado em fevereiro para o trimestre terminado em maio contraria uma tendência sazonal de geração de vagas no período, lembrou Cimar Azeredo.
O nível de ocupação da população em idade de trabalhar diminuiu de 53,9% no trimestre até fevereiro 53,6% no trimestre até maio.
— O que preocupa é esse sinal negativo e significativo no nível da ocupação. O nível de pessoas ocupadas está menor. Em maio, você tem uma proporção menor de pessoas ocupadas do que tinha em fevereiro, isso é uma situação não favorável. Porque em maio, dada a sazonalidade, você já imaginaria reversão do processo de dispensa de temporários e contratação de funcionários — declarou Azeredo.
Carteira assinada
O coordenador do IBGE lembrou que outro sinal negativo no mercado de trabalho é a continuidade da extinção de vagas com carteira assinada no setor privado. Entre o trimestre encerrado em fevereiro e o trimestre terminado em maio foram perdidos mais 351 mil postos de trabalho formais, com destaque para as perdas nos segmentos de comércio e informação e comunicação.
— A queda da carteira assinada no comércio chegou a menos 265 mil no trimestre — disse Azeredo.
Divulgações mensais
O IBGE fará divulgações mensais dos dados da Pnad Contínua sobre a subutilização da força de trabalho, junto com a taxa de desemprego. Atualmente essas divulgações só ocorrem trimestralmente, junto com os dados regionais sobre o desemprego no País.
— Divulgaremos em breve (os dados regionais), mas ainda sem data marcada — disse Azeredo.
A pesquisa também passa por ajustes para tentar captar algumas mudanças na legislação realizadas pela reforma trabalhista, como o trabalho intermitente.
— A palavra intermitente não está no vocabulário comum das pessoas. A pergunta entrou na Pnad Contínua em abril, maio e agora em junho. Seria o primeiro trimestre com a coleta do trabalho intermitente. A partir daí vamos analisar os dados — contou Azeredo.
Metodologias diferentes
Segundo ele, é preciso lembrar que a Pnad tem metodologia diferente do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados do Ministério do Trabalho (Caged), o que poderia fazer com que um trabalhador contratado via contrato intermitente possa se declarar desempregado caso não tenha sido convocado pelo patrão e esteja procurando outro emprego.
Greve
Quanto aos possíveis impactos da greve dos caminhoneiros na pesquisa referente a maio, Azeredo afirmou que não há reflexos visíveis da paralisação sobre os dados coletados do mercado de trabalho.
— Não tem nada (na pesquisa) que diga que possa ter efeito da greve dos caminhoneiros — afirmou.