Quando chegou em casa por volta das 13h30min de quarta-feira (13), uma mesa posta com picadinho de batata e abóbora, arroz, feijão temperado com linguicinha e salada de tomate com cebola ralada esperavam o aposentado Gaspar Luiz Machado, 76 anos.
Foi a primeira refeição preparada pela recém contratada Janice Rolim Cardoso, 33 anos, personagem de reportagem publicada por GaúchaZH sobre os desalentados, contingente que, por perder as esperanças na procura por emprego, desanimou e desistiu de continuar a busca por recolocação.
— Li a reportagem e disse: essa pessoa me serve — conta Machado.
Cozinheira com curso técnico de congelamento de alimentos, Janice distribuiu mais de 80 currículos, no período de um ano e meio, em restaurantes. Participava de mutirões de emprego organizados por órgãos oficiais, mas nada dava certo. No final do ano passado, trabalhava em uma casa de família, mas a patroa teve de se mudar para outra cidade.
Após novas tentativas frustradas, Janice resolveu desistir de tentar voltar ao mercado de trabalho. Sentia-se cansada e inútil, relatou a GaúchaZH. Achava que estava, em vão, gastando tempo e dinheiro atrás da vaga que nunca aparecia.
Aposentado não teve dúvida após entrevista
Após ter sua história contada por GaúchaZH, na segunda-feira (11) Janice recebeu o telefonema do filho de Machado. Marcaram entrevista para o dia seguinte. Na quarta-feira (13), de carteira assinada, começava no novo emprego, cuidando do apartamento e fazendo um pouco de companhia ao aposentado, que vive sozinho no bairro Santana.
—Estou muito feliz e me sentindo bem útil. Quero ficar aqui um bom tempo e juntar dinheiro para montar o meu negócio — contava Janice, que tem planos de, no futuro, ter restaurante ou confeitaria.
Machado revela que teve ótima impressão ao conversar com Janice, após entrevistar outras candidatas ao emprego de doméstica que acabou reprovando. Sentiu nela a necessidade de trabalhar.
Os horários também fechavam com os da creche da filha, com quem mora no bairro Restinga. Desempregada, Janice vivia com a ajuda do pai e do ex-marido.
— Tenho uma série de livros, romances, e como ela diz que gosta de ler, também deixei à disposição dela para as horas vagas — relata Machado.
Só na terça-feira (12), Janice recebeu ligações de outras nove pessoas. Com o seu emprego garantido, conseguiu até indicar a sobrinha para um dos interessados que entraram em contato com ela. A jovem de 23 anos teve sorte: começou a trabalhar nesta quinta-feira (14).
Histórias foram contadas por GaúchaZH
A reportagem de GaúchaZH sobre os desalentados mostrou que, no Brasil, eram cerca de 4,63 milhões de pessoas sem ocupação no primeiro trimestre e que desistiram de procurar trabalho por perderam a esperança de conseguir. Como não entram nos cálculos de desemprego, são espécie de face oculta da crise do mercado de trabalho.
Essa parcela da população começou a ser alvo de atenção do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) a partir de 2012, quando passou a ser medida a cada trimestre na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua. No último levantamento, o número bateu o recorde da série.