Com quase 5 mil pessoas empregadas em 40 indústrias metalmecânicas, cerca de um terço da população de 17,4 mil habitantes, Não-Me-Toque tem sua história dividida entre antes e depois da Expodireto — feira de agronegócio que chegou neste ano à 20ª edição. Criada pela Cotrijal, cooperativa agrícola com o maior faturamento no Rio Grande do Sul, a mostra tornou-se uma das maiores do Brasil e serviu de vitrine para empresas mostrarem seus produtos.
A feira ajudou a projetar no mercado internacional grandes fabricantes de implementos agrícolas, como Stara e Jan, as duas maiores empregadoras do município, com quase 3 mil funcionários no total. Na última edição, estavam representados mais de 70 países. Para empresas menores, muitas familiares, a Expodireto foi ainda mais importante. Vizinha dos parques fabris da Stara e da Jan, a Grazmec tem hoje quase 15% de seus negócios voltados ao mercado externo, para países como África do Sul, Camboja, Angola, Moçambique, Senegal, Portugal e Paraguai.
— Nosso estande é em frente ao pavilhão internacional. Nos dias da feira, chegamos a receber comitivas estrangeiras na empresa — conta Antonio Alberi de Mattos, fundador e presidente da Grazmec, com 90 funcionários.
Expositora na mostra desde a primeira edição realizada em Não-Me-Toque, a indústria viu os negócios crescerem desde então — com a conquista de clientes em todo o Brasil. Nascida como prestadora de serviços em solda e usinagem, há 33 anos, a empresa encontrou oportunidade para criar produtos próprios em meados da década de 1990, quando a Cotrijal começou a estimular produtores associados a tratarem sementes nas propriedades.
— A proteção da semente antes do plantio não era prática comum. Investimos então no desenvolvimento de máquinas tratadoras, nosso carro-chefe de vendas até hoje — lembra Mattos.
Oportunidades a indústrias, comércios e serviços da região
Com o crescimento do mercado de grãos, nos anos 2000, a indústria passou a fabricar também máquinas de maior porte, voltadas a sementeiras, cerealistas e cooperativas.
— E agora estamos terminando o desenvolvimento de uma plantadeira, que deveremos lançar na próxima Expodireto — adianta Emerson de Mattos, diretor de marketing da Grazmec, que tem crescimento médio anual de 10%.
As oportunidades criadas pela feira não se resumem às indústrias, que geram 60% dos empregos diretos no Não-Me-Toque. Passam também por comércio e serviços.
— Vem gente de toda a região, que se desloca em um raio de até cem quilômetros para trabalhar — destaca Jair Kilpp, secretário do Desenvolvimento do município.
Na última década, a cidade recebeu investimentos nas áreas de hospedagem, alimentação e serviços. Em 2015, a rede internacional de hotéis Accor inaugurou em Não-Me-Toque o primeiro Ibis do país em uma localidade com menos de 20 mil habitantes.
— A Expodireto nos colocou em outro patamar. Muitas portas foram abertas para o município ser o que é hoje — resume Kilpp.
Liderança isolada há seis anos
A liderança isolada em faturamento entre as cooperativas agropecuárias no Rio Grande do Sul é mantida pela Cotrijal desde 2013, quando desbancou a Cotrijui — hoje em processo de liquidação judicial. O resultado é atribuído a sucessivas safras recordes de soja e também aos investimentos feitos nos últimos anos — como na unidade beneficiadora de sementes que recebe em torno de 600 mil sacas de grãos por ano.
— Vendemos nossas sementes para o Brasil inteiro. Temos capacidade instalada para recebermos 1 milhão de sacas — afirma Nei César Mânica, presidente da Cotrijal.
Hoje, 75% da receita da cooperativa vem do mercado de grãos, incluindo produção, sementes, insumos e fábrica de ração. O restante é oriundo dos supermercados e lojas agropecuárias. Sobre a expressiva dependência da produção de soja, Mânica pondera que é preciso considerar a demanda:
— Seria fantástico se tivéssemos uma procura por produtos industrializados brasileiros como temos pelas commodities. Produzimos o que o mundo quer comprar.