Um mundo de novos sabores, cores e texturas pode acabar com o tédio nas refeições. Renda-se às plantas alimentícias não convencionais, as chamadas pancs. Dente-de-leão, urtiga, serralha e funcho são alguns exemplos de vegetais com uma ou mais partes comestíveis, mas que ainda não estão incluídos no cardápio cotidiano.
Estudos da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) apontam que 50% das necessidades calóricas da população mundial são supridas por apenas três alimentos: arroz, trigo e milho. Mas a alimentação gaúcha poderia ser muito mais variada, se considerarmos as mais de 300 espécies de pancs existentes na região metropolitana de Porto Alegre, como foi constatado em 2008 pelo biólogo e doutor em fitotecnia e horticultura, Valdely Ferreira Kinupp, uma das maiores referências na área no país:
— Panc não é modismo e nem voltado para um nicho de mercado, como o vegetariano ou vegano. É um esforço para ampliar o leque de frutas, hortaliças e condimentos que compõem a alimentação brasileira.
Onde encontrar
As pancs são encontradas em feiras orgânicas ou na natureza, mas é preciso identificar corretamente. Em restaurantes da Capital, são servidas no Locals Only, Raw, Bistrô Pitanga e outros.
— As pancs têm muitas possibilidades para a criação de sabor — afirma o chef Rodrigo Paz, que inseriu no cardápio do Locals Only o vinagrete de flores panc e o tempurá de urtiga.
Nem inço, nem matinho
Nutritivas, resistentes e adaptáveis, algumas pancs nascem espontaneamente na natureza, em terrenos baldios, praças e em meio a outros cultivos, confundindo-se com inços.
— São alternativa para substituir uma alimentação baseada em carboidratos por outra com maior variedade de nutrientes, evitando problemas de saúde — diz Andréia Maria Liberalesso, nutricionista e mestranda em Agronegócio no Centro de Estudos e Pesquisas em Agronegócios (Cepan) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
No RS, não há diagnóstico de produção, segundo a engenheira agrônoma Sonia de Mello Pereira, do Departamento de Diagnóstico e Pesquisa Agropecuária da Secretaria da Agricultura.
Um denominador comum entre quem estuda ou trabalha com as variedades é a crença no resgate histórico: trata-se de tirar o foco da culinária europeia e voltar os olhos para as plantas e a gastronomia brasileiras. A produtora Silvana Bohrer, que cultiva pancs no Sítio Capororoca, em Porto Alegre, acredita que serve para repensar hábitos alimentares e a produção de alimentos:
— Estamos em um momento em que pancs são chiques, exóticas, mas esse não é o objetivo.
A ideia é que as pessoas saibam que podem se alimentar com essas variedades cultivadas em casa, em espaços pequenos e mesmo com pouca iluminação.
No universo das pancs
Pesquisadores alertam sobre a importância de identificar as plantas para não haver o consumo de espécies tóxicas. Interessados na dieta com pancs devem buscar conhecimento por meio de livros, pesquisas e cursos de identificações dos vegetais. Algumas variedades podem ser encontradas em locais contaminados, como próximas a estradas. Estas não são próprias para consumo, mas podem fornecer sementes para o cultivo em casa.
Produção: Letícia Paludo
Plantas mais comuns na Região Metropolitana
Capuchinha
Urtiga
Fisális
Bertalha
Sininho