Existe um combo de fatores que podem ajudar as mulheres que estão interessadas em vivenciar o ápice do prazer no sexo durante a penetração. Longe dos estereótipos da pornografia, ter um orgasmo com penetração pressupõe reservar um bom tempo para chegar em um alto nível de excitação, se autorizar a fantasiar, se tocar e deixar a pressa de lado.
Os conselhos são da ginecologista e sexóloga Sandra Scalco, que compartilha a seguir algumas recomendações para mulheres que estiverem a fim de ampliar seu repertório sexual.
Segundo a médica, as mulheres têm orgasmo essencialmente clitoridiano, de forma que até 80% delas precisam estimular o clitóris para conseguir chegar lá. É por esse motivo que o emaranhado de terminações nervosas não pode deixar de receber atenção, mesmo quando se está em busca de gozar com penetração.
— Tem que ir entrando no clima, seja com sexo oral, fricção, toque indireto, toque dela, toque do parceiro. Esse preâmbulo é quase indispensável se a mulher deseja ter o orgasmo. Autoconhecimento, habilidade do parceiro e um bom tempo para preliminares também são fatores importantes. Em média, a mulher precisa de pelo menos 15 ou 20 minutos para ficar excitada, enquanto para o homem é mais rápido. Por isso, é preciso que ela aceite que precisa de preliminares e encontre a melhor forma de ser estimulada — afirma Sandra.
Explore as zonas erógenas
Para aumentar a excitação antes da penetração, vale investir em preliminares prolongadas com beijos, carícias e estímulos em áreas erógenas. As mais comuns, segundo a sexóloga, são o clitóris e os mamilos. Mas o toque em regiões como a nuca, o pescoço, a parte interna das coxas e a virilha também podem proporcionar prazer. Por isso é importante se conhecer e apresentar ao parceiro os seus locais favoritos.
— Às vezes encontramos mulheres para as quais outros estímulos são tão importantes quanto no clitóris. Tem quem precise ser tocada no mamilo para conseguir chegar ao orgasmo, por exemplo. Então, uma dica é conhecer outras áreas erógenas que podem compor essa combinação de estímulos a serem explorados antes e durante a penetração. Também é importante que ela só "avance de fase" quando realmente estiver pronta, lubrificada, relaxada para as práticas penetrativas — recomenda Sandra.
Sobre a anatomia da vagina e as regiões internas que seriam mais sensíveis e estimulantes, a sexóloga pede cuidado, já que a medicina não tem evidências dos poderes do famoso "ponto G" para o prazer, nome que se dá à região rugosa localizada na parede anterior da vagina, a cerca de quatro centímetros da entrada do órgão.
— O que podemos pensar é: "Bom, vamos explorar também esse ponto". Porque, para algumas mulheres, parece que estimular essa região seria interessante para o prazer, mas não idealizando isso como uma solução mágica. A linha é muito tênue quando a gente coloca a anatomia da vagina e o ponto G como uma coisa prioritária para o orgasmo. É o conjunto da obra que conta para a grande maioria — reforça Sandra.
Combine estímulos
Se o foco da relação estiver exclusivamente na penetração, o casal corre o risco de ver a excitação da mulher cair, adverte Sandra. Daí a importância de prestar atenção em outros fatores que aumentam o prazer e colocá-los em ação ao mesmo tempo.
O toque no clitóris durante o ato é uma das melhores soluções, o que pode ser feito usando os dedos, dela e do parceiro, apostando em brinquedos eróticos como bullets, vibradores, sugadores de clitóris e até mesmo friccionando na cama ou em um travesseiro.
— Na terapia sexual existe a chamada "manobra da ponte", cuja ideia é ficar estimulando o clitóris durante a penetração. Isso pode ser feito com uma posição que fricciona o clitóris, com sex toys e com ela e o companheiro tocando o clitóris. Às vezes, as mulheres têm um pouco de vergonha, mas nunca vi uma parceria que não gostasse de ver a mulher se tocando — aponta Sandra Scalco.
Toques, olhares, cheiros agradáveis e conversas picantes: o cruzamento de diferentes sensações estimula muito a mulher e deve entrar em cena se o objetivo é o orgasmo. A sensação de "temos tempo" também excita muito a mulher, defende a sexóloga:
— Não dá para fazer sexo pensando que tem uma coisa para fazer depois. Uma frase da psicoterapeuta Esther Perel é: "O sexo não é algo que se faz, é um lugar para onde se vai". E é isto mesmo, um espaço e tempo em suspenso, temos que estar ali 100%.
O orgasmo tem uma fórmula "f&F", sendo que o "f" pequeno corresponde à "fricção" e o F grande a "fantasiar"
SANDRA SCALCO
ginecologista e sexóloga
Para explicar o orgasmo com penetração, Sandra Scalco compara o fenômeno a um "gatilho" ou um "tiro". Usando a metáfora de uma corrida, o gatilho seria aquela energia que a pessoa, mesmo cansada, encontra para dar um tiro mais rápido nos 500 metros finais da corrida.
— Chegar ao orgasmo é dar esse tiro. E costuma funcionar só no final porque antes você não está aquecida o suficiente para dá-lo. No sexo, esse gatilho pode ser o contrair e soltar, apertando a vagina, apertar as pernas e movimentar o corpo de forma rápida e intensa. Além desses fatores físicos, os estímulos sensoriais como o olfato, a audição e a visão também podem ser gatilhos — explica a ginecologista.
A imaginação também é uma aliada do prazer. Nos últimos momentos que antecedem o orgasmo, vale tanto pensar em uma fantasia individual — "imaginar o Brad Pitt, uma transa no elevador ou em outra situação inusitada que funcione para ela" — como verbalizar uma fantasia compartilhada entre o casal, um "teatrinho" com elementos que agradem aos dois.
— Costumo brincar que o orgasmo tem uma fórmula "f&F", sendo que o "f" pequeno corresponde à "fricção" e o F grande a "fantasiar", no sentido de imaginar algo. Eu diria que a imaginação tem um poder três vezes maior do que toda a parte sensorial. Com ela você cria situações que ajudam a compor os recursos de que precisa para gozar na penetração — defende a sexóloga.
Para aproveitar ao máximo a imaginação, é importante ultrapassar tabus e se autorizar a pensar em coisas excitantes, sejam elas quais forem.
— Se você percebe que pensar em alguma coisa te excita ainda mais, por que não usar essa ferramenta? Esse gatilho pode ajudar muita gente, mas às vezes somos atravessados por moralismos que atrapalham o sexo — afirma Sandra.
Técnica de "represar" o orgasmo
Conforme os relatos que ouve em consultório, a médica relata que muitas mulheres costumam chegar ao orgasmo nas preliminares, com estímulo clitoridiano, e que, para algumas delas, esse orgasmo é bastante intenso, de forma que já seria o suficiente para satisfazê-las. Assim, em tese, não sobraria tanto "gás" para gozar na penetração.
— Elas entram na penetração quando já gozaram de forma intensa antes, então acabam tendo a penetração um pouco mais chata, já que elas já estão quase satisfeitas. Aí entra o conceito de aprender a segurar um pouco esse orgasmo, para tentar tê-lo durante a penetração. Essa é uma dica interessante para quem está em busca disso — orienta.
Segurar o orgasmo é uma arte na qual os homens tendem a estar mais versados, já que eles frequentemente "seguram" para poder curtir mais tempo e esperar a mulher alcançar níveis mais altos de excitação. Mas as mulheres também são capazes de segurar orgasmos. Para aprender, é preciso praticar: levar-se quase ao máximo do prazer e aí retroceder um pouco.
— Quando a mulher aprende a segurar, geralmente o orgasmo, quando vem, é mais intenso. Gozar e recuar, parar, respirar e ir de novo é quase como uma represa, e ajuda a entrar na penetração muito excitada. Cerca de 50% das mulheres curte muito a fase da penetração, ela é importante. A questão é conciliar, dar esse tempo, tentar levar o orgasmo para a penetração — reforça a sexóloga.
As posições queridinhas
As possibilidades são muitas, mas a sexóloga elenca três posições sexuais que costumam ser bem-sucedidas para o orgasmo feminino: de bruços, de conchinha e cavalgada.
Na cavalgada, posição em que a mulher fica por cima do parceiro, há possibilidade de dirigir a penetração nos pontos que a estimulam mais e de friccionar o clitóris no corpo do companheiro, aumentando as sensações em todos os ângulos. Ela também pode inclinar o corpo para frente, manter contato visual com o parceiro, ser acariciada nos mamilos.
— Para além do clitóris, o contato visual, o toque, esse conjunto de coisas faz com que aquela penetração seja realmente prazerosa. E, se ela já está em um nível bom de excitação, já deu uma represada antes, entra na penetração literalmente pronta para isso — afirma Sandra.
De bruços também funciona porque apertar as pernas juntas e contrair os músculos pélvicos ajuda a deixar as sensações mais intensas. Também permite que ela utilize as mãos ou um sex toy para estimular o clitóris e aumentar suas chances de atingir o orgasmo.
— Vejo as mais tímidas comentando que, quando ficam de bruços, vão se tocando disfarçadamente ou roçando no colchão, às vezes o parceiro nem percebe. Essa combinação as ajuda — relata a médica.
Por fim, a boa e velha conchinha também pode ser uma aliada do orgasmo feminino com penetração na medida em que é possível combinar estímulos. O beijo na nuca e o toque no clitóris são alguns deles, sendo que dá, inclusive, para ficar com a mão do parceiro por cima da mão dela nesse momento, em uma ideia de "deixa eu te mostrar como que eu gosto".
Se o casal estiver em frente a um espelho, há o adicional de manter contato visual, apimentando ainda mais o momento.