Desconhecido para muitas mulheres e um momento de intensas sensações para outras, o orgasmo — o ponto alto do prazer durante um estímulo ou atividade sexual — ainda é cercado por dúvidas, tabus e diversos mitos quando o falamos de sexualidade feminina.
De tempos em tempos, uma série de teorias é disseminada com o objetivo de compreender a resposta sexual e buscar recursos que facilitem a chegada ao clímax. Impulsionadas pelas redes sociais, algumas ideais chamam atenção não só pela suposta eficácia como também pela peculiaridade e característica "incomum".
No Dia Mundial do Orgasmo, celebrado nesta quarta-feira (31), Donna reuniu algumas dessas teorias e consultou a ginecologista e sexóloga Jaqueline Brendler e a fisioterapeuta pélvica e sexóloga Thais Freire para entender quais práticas podem ajudar (ou não) a mulher a chegar lá.
Utilizar meias durante o sexo
Transar utilizando meias nos pés pode parecer estranho para algumas pessoas. No entanto, conteúdos divulgados na internet baseados em um estudo publicado pela Universidade de Groningen, na Holanda, afirmam que o uso das peças durante a relação poderia ajudar a chegar ao orgasmo com mais facilidade.
A justificativa, segundo as publicações, está ligada aos aspectos fisiológicos e psicológicos provocados pela utilização dos acessórios. Contudo, não há evidências concretas para associá-los com o prazer.
A ginecologista Jaqueline Brendler afirma que a sensação de frio pode ser um elemento capaz de distrair uma pessoa durante o sexo e, neste caso, o uso das meias ajudaria a aquecer o corpo, mas não necessariamente levaria ao orgasmo.
"Sempre que a pessoa se distrai e sai do foco erótico, a chance de ter um orgasmo diminui. Tudo que distrai a pessoa baixa o desejo, a excitação e a chance do orgasmo".
JAQUELINE BRENDLER
Ginecologista e sexóloga
Colocar uma pequena almofada abaixo do quadril
A dica de utilizar um pequeno travesseiro embaixo do quadril enquanto o parceiro vem por cima é mais uma que costuma aparecer nas redes sociais.
A técnica, que também é recomendada no consultório da fisioterapeuta pélvica e sexóloga Thais Freire, pode deixar o sexo mais prazeroso. Isso porque o objeto auxilia na elevação e no relaxamento da região pélvica, criando ângulos que permitem o estímulo de outras áreas, como "o ponto G" e o clitóris, que podem contribuir para o orgasmo.
— Ao elevar a pelve, isso favorece que o pênis vá em direção ao clitóris e, principalmente em direção ao "ponto G" na hora da penetração, o que pode ser mais prazeroso para algumas mulheres — explica a profissional.
A sexóloga Jaqueline aponta que a prática pode funcionar, desde que haja maior inclinação por parte do parceiro, favorecendo a posição que fricciona o clitóris.
Ter o hábito de se masturbar
Uma prática que sexólogos defendem para estimular a construção do prazer, seja sozinha ou com companhia, é a masturbação. Mulheres que incluem esses momentos na rotina tendem a atingir mais facilmente o ápice em situações posteriores.
"A mulher que se masturba tem mais conhecimento do que gosta e de como fazer. Um dos mitos é pensar que ela "gasta o orgasmo". Quanto mais se masturba, mais estimulada estará para a relação."
THAIS FREIRE
Fisioterapeuta pélvica e sexóloga
A ginecologista Jaqueline Brendler reforça que a prática pode ser benéfica para aumentar a consciência sobre o próprio corpo, até mesmo para orientar a parceria sobre o melhor caminho. Também, torna-se capaz de não depender do outro para ter prazer.
Usar salto no cotidiano
Um estudo realizado na Universidade de Verona, na Itália, diz que o uso de sapatos com salto de sete centímetros no dia a dia poderia fortalecer os músculos da região pélvica e, consequentemente, aumentar as chances de orgasmo.
Conforme a fisioterapeuta Thais Freire, não há evidências concretas para tal relação. O que ela pontua é que, de fato, o assoalho pélvico pode ajudar a mulher a ter mais prazer.
— Se a gente fortalece o assoalho pélvico, a gente pode ter mais prazer e um orgasmo mais intenso. Mas, isso não vai ser feito com salto alto, não tem como — afirma a especialista.
O fortalecimento pode ser feito a partir de exercícios específicos, que vão fazer com que a mulher amplie a consciência sobre a região e sobre o próprio corpo.
— Existem exercícios específicos para melhorar da região perineal que vão aumentar a percepção das contrações musculares sentidas durante o orgasmo, mas não vão desencadeá-lo. Salto alto é um mito — adiciona a médica Jaqueline Brendler.
Beber café antes do sexo
Uma teoria que circulou especialmente no TikTok recentemente aponta que mulheres que bebem café antes do sexo poderiam atingir o clímax mais facilmente e de forma mais intensa.
A ginecologista e sexóloga Jaqueline Brendler afirma que não há nada comprovado e sólido que a bebida tenha vínculo direto com a possibilidade de orgasmo. O que se sabe é que a cafeína pode aumentar a atenção e, consequentemente, o foco. Dessa forma, se a característica for utilizada para o eixo erótico e para o sexo, talvez a relação possa ser mais prazerosa.
O que é necessário para atingir o orgasmo?
Existe um combo de fatores emocionais, biológicos e sociais envolvidos. Não há guias rápidos do que se deve fazer, e sim, elementos que podem ser úteis quando há o desejo de atingir o clímax.
A sexóloga Thais Freire defende que o orgasmo não deve ser objetivo final de uma relação sexual ou de um estímulo, mas uma consequência de um momento que está sendo bom para os envolvidos.
As preliminares também desempenham papel fundamental na relação. As mulheres, em sua maioria, atingem o orgasmo a partir do estímulo clitoriano, apesar de ser possível chegar lá de outras formas.
— Tem muita gente que pula essa etapa. O ideal é que dure de 15 a 20 minutos, pelo menos, que é o tempo que a mulher precisa para atingir a excitação. Elas precisam desse estímulo de fricção no clitóris durante toda a relação sexual — pontua a fisioterapeuta.
Segundo Jaqueline, o orgasmo começa no cérebro, uma vez que os estímulos pelo corpo se refletem em áreas cerebrais e, assim, a atividade sexual adquire a sua qualidade de prazer.
— Não dá para ser econômico no toque. O prazer é aditivo, existe um somatório cerebral de áreas que podem ser estimuladas, o que irá aumentar o prazer — explica.