"Não pega no colo, vai mimar demais essa criança, depois ela não vai saber se virar sozinha". Você já ouviu um comentário desse tipo porque dá muito colo ao seu filho? O assunto divide opiniões.
Será que um bebê chora "de propósito" para ganhar atenção ou para testar a paciência de pais ou cuidadores? Por que ele pede colo?
– Ao nascer, o bebê saiu de um local totalmente acolhido, apertado, e foi para um lugar aberto, estranho. Ainda não tem noção do próprio corpo. O que vai dar essa ideia a ele é o nosso toque, nosso acolhimento. Ou seja, o colo – explica pediatra Florência Fuks, da Clínica Conviva e do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo.
Ela participou de um debate sobre o tema ao lado da psicanalista Vera Iaconelli, diretora do Instituto Gerar, que também é localizado na capital paulista. O encontro, cujo nome era "O Poder do Colo", foi organizado pela Novalgina e Sanofi e realizado em Porto Alegre, no final de março, especialmente para convidados.
Para os pais, existem demonstrações que são apontadas como "manhas" da criança. Mas segundo a pediatra, não é bem assim.
– Quando a criança pede colo, está precisando se estruturar por meio do contato com a mãe, o pai ou a pessoa mais próxima. Isso vai estabelecer uma relação. Na hora da cólica, o colo é um jeito de você dizer que está junto. E nem estou falando de medicamento. É uma forma de dizer ao seu filho: "Essa é a vida. Vai ter perrengue". Afinal, dores existem – acrescenta a pediatra.
E há uma explicação biológica para o bebê pedir colo. A psicanalista explica que a pele é o maior órgão do corpo e desenvolve-se no embrião junto com o sistema nervoso central, sendo um importante modulador de estímulos. Bebês, principalmente os recém-nascidos, são seres que se guiam mais pelas sensações do que pelo racional. Esse cuidado inicial, logo nos primeiros meses de vida, não é apenas importante, mas pode ser fundamental para o desenvolvimento da criança até a fase adulta.
– Na vida, o colo vai se transformando. Você passou um perrengue e liga para sua amiga que mora longe. Você recebeu colo por telefone. O bebê precisa desse contato físico, mas ao longo da vida, esse colo se transforma – frisa Vera Iaconelli.
E será que existe limites na hora de dar colo? Para as especialistas, o importante é ficar alerta a possíveis sintomas que indiquem algum problema físico, por exemplo.
– Já acompanhei casos em que a criança teve um atraso motor em seu desenvolvimento e um fisioterapeuta foi chamado. O profissional sinalizou que a criança podia estar recebendo colo demais, porque estava se apoiando muito nos pais. Nesse caso, o sintoma é amigo. Se você não prestar atenção, tende a aumentar. Mas não quer dizer que seja culpa do colo – diz a psicanalista.
A evolução do colo
De 0 a 2 anos: pegar efetivamente no colo, olhar, ouvir, falar, acariciar, ajudar a se organizar física e psiquicamente.
De 2 a 4 anos: o colo deve ser avaliado conforme a necessidade (medo, tristeza e dor). Mas é preciso dar autonomia para que a criança comece a descobrir o mundo por si.
De 4 a 10 anos: não é mais necessário colocar a criança no colo o tempo todo, mas é importante olhar, ouvir, conversar, abraçar, beijar e mostrar empatia.
De 11 a 16 anos: conversar é o mais importante. Com entendimento melhor de mundo, a palavra tem mais efeito sobre o adolescente.
De 16 a 21 anos: jovens podem ser mais avessos ao toque. Conversar por telefone e por mensagem de texto já causa grande efeito.
Vida adulta: o distanciamento entre as pessoas pode fazer com que o toque volte a ser importante. Conversar, mesmo que por telefone, faz as pessoas se sentirem melhor.
Com a palavra, as mães
Donna lançou a questão no Grupo de Mães do Facebook. Dar muito colo mima as crianças? Qual seria o limite? Veja algumas opiniões:
"Colo é saudável para bebês e crianças. O limite está na necessidade da criança. Dar colo o tempo todo pode atrasar o desenvolvimento delas, mas, por exemplo, quando estão doentinhas é bem importante".
Ana Paula de Mello Diniz, 40 anos, empresária e mãe de uma menina de 1 ano e 4 meses
"Sempre dei colo para o meu filho. Claro que evitava carregar ele pendurado enquanto fazia comida, limpava etc. Isso porque ele não chorava, mas, se chorasse, carregaria, sim. Acredito que colo demais não estraga, só ajuda. Fiz um voluntariado numa casa de passagem onde vi os bebês sozinhos em seus berços e quando queria pegar não deixavam, pois diziam que depois eles iam querer mais colo e elas não tinham como dar. Que dor no coração. Via os olhinhos deles tristes. Para o meu filho, o meu colo será sempre dele, até quando ele quiser".
Gisele Bitencourt Mendes Lamonatto, 36 anos, analista tributário, mãe de um menino de 2 anos e meio
"Com 10 anos, minha filha ainda tinha uma cama ao lado da minha. Várias pessoas diziam que eu a mimava demais e que ela não sairia do meu quarto. Mito! Partiu dela ir para o próprio quarto, pois não pensou duas vezes em ter um espaço. Colo meu só sentada, porque ela está quase do meu tamanho, mas adoro sentar e dar colinho e acho que colo nunca é demais se vier acompanhado de limites. Colo é bom, os adultos é que esquecem".
Luciana Mello, 39 anos, artesã e mãe de uma menina de 10 anos