"É uma nova era no Brasil: menino veste azul e menina veste rosa”, disse a ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, a pastora evangélica Damares Alves. A polêmica frase gerou um rebuliço nas redes sociais. A hashtag #cornãotemgênero se tornou um dos principais assuntos do Twitter.
Você é mãe? Pensou a respeito da declaração e na forma como cria seus filhos?
Donna levantou a questão junto ao Grupo de Mães do Facebook. O debate foi grande! Veja algumas opiniões:
"Nos últimos anos, em TODO o mundo (e não apenas no Brasil, em razão de um determinado governo), as discussões em torno do gênero vêm aumentando, de forma a acabar com a discriminação e violência contra a mulher e o público LGBT. Falas como essa, que reduzem o homossexualidade a uma escolha, dependente de influências externas (como a cor que se veste) e não a uma condição natural (como ter olhos azuis ou castanhos), são um retrocesso muito perigoso. Meu filho tem quatro meses e me preocupo que cresça em uma sociedade que relativiza falas como a dessa ministra. Por fim, sobre as cores, estou louca para comprar uma polo rosa para o meu bebê usar combinando com o papai."
Andressa Gude, 34 anos, advogada, mãe de um menino de quatro meses
"Se falarmos superficialmente de cor, a ministra está erradíssima. Porém, se levarmos para o real contexto que é contra a ideologia de gênero e a sexualidade de crianças, é outra conversa. Eu, particularmente, concordo com ela. Meu filho nasceu de sexo masculino e é assim que deve ser. Eu o ensino assim, que entre ele e as priminhas há diferenças fisiológicas e que definem que ele é menino e elas são meninas."
Verônica Marques, 30 anos, artesã, mãe de um menino de três anos e nove meses e grávida de 22 semanas de uma menina
"Meu filho usa a roupa que bem entender, e ele mesmo já sabe que isso é uma bobagem (tem sete anos). Ele tem bonecas e brinca com elas – Jessie e Mulher-Maravilha. E inclusive já levou pra escola. Criar uma criança com consciência e respeito ao outro é muito gratificante."
Semadar Jardim Marques, 38 anos, escritora, palestrante e funcionária pública, mãe de um menino de sete anos
"Tenho dois filhos, um menino que não gosta e não usa rosa, e uma menina que ama azul e detesta rosa. Minha filha não gosta de usar vestidos e joga futebol. Não me preocupa a cor da roupa que ela veste, não me preocupa as brincadeiras de que ela gosta. Isso não vai influenciar a sexualidade dela."
Camila Estabel, 36 anos, confeiteira, mãe de um menino de 10 anos e de uma menina de cinco
"Estou no oitavo mês de gestação de um menino e nem eu nem o marido quisemos fazer essas brincadeiras de revelação do sexo, porque não combina conosco, mas também porque reforça isso de rosa para meninas e azul para meninos. Para o chá de bebê, escolhi verde e dinossaurinhos, porque não aguentamos mais tudo azul. Na hora de montar o enxoval, só ficamos com azul dos presentes que ganhamos, as coisas que compramos são coloridas. Limitar a criança a uma cor é de dar dó."
Melissa Danda, 36 anos, professora universitária, grávida de oito meses de um menino
Existe cor de menino e menina?
Mas afinal, de onde veio essa tradição de categorizar gênero – principalmente entre bebês e crianças – por meio das duas cores? No livro Pink and Blue: Telling the Girls From the Boys in America (sem versão em português), a autora Jo B. Paoletti faz uma análise profunda de sociedade, consumo e mercado para examinar as mudanças nas atitudes em relação à cor como uma marca de gênero nas roupas infantis americanas.
Segundo a pesquisadora, na época da Primeira Guerra Mundial os tons pastel dominavam a paleta de cores usadas pelas crianças. E até os anos 40, rosa era usado por meninos, por ser "uma cor mais assertiva e forte", e azul por meninas porque, teoricamente, representava "delicadeza".
Porém, na década de 1980, quando os exames pré-natais começaram a revelar o gênero dos bebês antes do nascimento, os pais podiam, finalmente, decorar o quarto da criança de acordo. Foi nessa época que as lojas de departamento americanas consolidaram a regra do rosa para meninas e azul para meninos.
No mesmo dia da polêmica, a ministra Damares Alves disse, em entrevista à GloboNews, que não se arrepende da declaração que deu e explicou que era uma metáfora.
– Nós temos no Brasil o 'Outubro Rosa', que diz respeito ao câncer de mama com mulheres, temos o 'Novembro Azul', que é com relação ao câncer de próstata com o homem. Então quando eu disse que menina veste cor de rosa e menino veste azul, é que nós vamos estar respeitando a identidade biológica das crianças.