Ela é uma das misses mais lembradas do Rio Grande do Sul, estado recordista no concurso, com 13 vencedoras. Mas diferente de muitas, não seguiu uma carreira de modelo. Aos 33 anos, a santa-mariense Rafaela Zanella é médica e mora em Porto Alegre com o marido e as duas filhas, Helena, de dois anos, e Isabella, de quatro. Com pós-graduação em dermatologia e medicina estética, Rafa, como é chamada, faz atualmente doutorado na área.
Há dois meses, a gaúcha lembrou do concurso que lhe deu o título de mulher mais bela do Brasil em 2006 – quando não havia cobertura em tempo real na internet, frisa ela. Para compartilhar as memórias, Rafa criou um álbum em seu perfil no Instagram, o @rafazanella, só com registros raros de bastidores, e lembrou das amigas que fez ao longo do processo, 14 anos atrás.
– É bem engraçado fazer esse remember, porque um concurso, ou qualquer coisa hoje em dia, tem uma cobertura em tempo real, com muitas fotos postadas. Em 2006 tinha Orkut e limite de 12 fotos por álbum – diverte-se. – Eu lembro que dei a senha do meu perfil para que um amigo ficasse trocando as fotos para mim.
Esta não foi a primeira vez neste ano que a lembrança do Miss Brasil apareceu. Em meio ao confinamento, enquanto arrumava umas fotos em casa, Rafa foi surpreendida por uma pergunta da filha mais velha.
– Mãe, tu que foi miss? – questionou a pequena, cheia de curiosidade a respeito do título.
– Foi muito curioso porque eu nunca falei disso com ela. Ela disse que foi a mãe de uma coleguinha que comentou. Aí eu contei que sim, fui miss, que isso me fez viajar para muitos lugares, que pude ajudar muitas pessoas e ela associou isso com voluntariado que a gente faz aqui – explica Rafaela, que costuma ir com a filha à Clínica Esperança de Amparo à Criança, na Capital, para ações de solidariedade.
Viajar pelo país e fora dele, aliás, é uma das melhores lembranças de Rafa da época de miss:
– Sempre digo que tenho muito orgulho de tudo que vivi. Tem miss que não gosta de falar disso, eu não sou assim. Conheci lugares e pessoas que eu não teria oportunidade e acabei descobrindo um Brasil que nem imaginava. Isso me deixou muito agradecida. Eu concluí uma fase muito feliz da minha vida e aproveitei tudo o que podia.
Formada em Medicina desde 2012, ela divide uma clínica com o marido, o cirurgião Denis Valente. Ele foi jurado do Miss Rio Grande do Sul em 2005, quando se conheceram. Os dois estão casados há oito anos.
A rotina do casal de médicos mudou com a pandemia do coronavírus. Com agendas reduzidas, eles alternam as idas ao consultório e Rafa reduziu quase que completamente os atendimentos presenciais.
– Pela manhã, optei por ficar com as crianças e vou apenas em dois turnos por semana na clínica. Algumas consultas são possíveis com a telemedicina, mas serve mais para atender pacientes que já estão em tratamento – explica. – Novos pacientes precisam de exames específicos que, neste momento, não é possível fazer – acrescenta ela, que atualmente estuda sobre queda de cabelo e doenças no couro cabeludo.
Quando ouviu pela primeira vez sobre o coronavírus, estava de férias com a família no exterior, em fevereiro. Lembra que parecia algo um pouco distante, mas logo viu que tratava-se de uma doença grave. Como profissional de saúde, Rafa vê com preocupação a atitude de algumas pessoas diante do avanço da pandemia:
– Aqui no Rio Grande do Sul parece que não se disseminou tão agressivamente como em outros locais, mas mesmo assim, espero que as pessoas tenham discernimento de não fazer junções e se proteger. A gente ainda tem todo o inverno pela frente – alerta.
Maternidade
Em casa, Rafa passa boa parte do tempo na companhia das meninas, que estão sem ir à escola. E tem sido um desafio manter as duas crianças entretidas:
– Rotina não deu pra fazer. A Bella tem aula duas vezes na semana, ela curte bastante, faz as atividades, mas ela está bem desestimulada. Eu estou tentando ensinar letras, números, pedi dicas de livros para pedagogas, mas, olha, é difícil. Meus pais são professores, sempre valorizei, mas quando não se tem a didática… Até escrevi para a "profe" dela, como ela é importante e faz falta – diz.
A caçula, aliás, está na fase conhecida como "terrible two" -ou a "adolescência dos bebês".
– A Helena destrói tudo que a Bella faz! Graças a Deus que a Bella é tranquila – comenta.
Esses pequenos desafios diários da maternidade são o tema do perfil @saltodemãe, do Instagram, que Rafa criou para trocar experiências com outras mães.
Com exemplos de insucessos, as pessoas se sentem mais confortáveis a não se julgarem e se exigirem tanto.
RAFAELA ZANELLA
sobre perfil no Instagram em que fala de maternidade
– No meu perfil pessoal, muitas pessoas que me seguiam pediam coisas sobre maternidade. Aí criei o Salto de Mãe para englobar isso e também cuidado pessoal, que é a minha área. Afinal, uma mãe é uma mulher.
Segundo Rafa, a conta não tem nada de comercial e ela mesma cria o conteúdo que vai para o ar, que não é nada profissional.
– A ideia não é fazer exposição, ficar mostrando minhas filhas, mas conversar sobre o que passamos com a maternidade. O desfralde, a retirada do bico. Eu faço enquetes, divulgo resultados, peço opiniões. É uma troca. Gosto de compartilhar esses "fracassos". São histórias que geram identificação. Com exemplos de insucessos, as pessoas se sentem mais confortáveis a não se julgarem e se exigirem tanto – reflete.