Ouvir pessoas grunhindo ou gritando na academia enquanto realizam um treino de musculação pode ser bastante desconfortável. Mas, afinal, a emissão de sons pode ter alguma influência no rendimento e na performance esportiva?
Gritos e grunhidos são elementos utilizados por diferentes modalidades esportivas há séculos, como no tênis, no levantamento de peso e em lutas marciais — práticas que exigem dos atletas explosões de potência. Dessa forma, eles frequentemente expelem esses barulhos de forma natural diante do esforço exigido, mas também de modo intencional na tentativa de aumentar a produção de força.
Faz sentido grunhir na academia?
Na musculação, de acordo com a profissional de educação física Thaís Romani, a emissão de sons pode ser benéfica quando aliada a uma boa técnica de respiração. Ela cita os estudos do professor canadense Stuart McGill, especialista em estudos sobre coluna.
— Quando a pessoa faz força e emite som, ela faz uma contração na musculatura abdominal, o que torna o abdômen estável e o tronco firme. Toda essa estabilidade gera mais força, melhorando a técnica e o desempenho — declara a pós-graduada em ciências da saúde e do desporto, em biomecânica e em reabilitação postural.
Além disso, é um modo de dar um "empurrãozinho" e aliviar a tensão do momento. Isso não significa exagerar e forçar um grunhido ou um grito alto de modo proposital, mas voluntariamente perceber o esforço e manifestar a expiração e um pequeno barulho.
— Pessoas que querem se exercitar para cuidar da saúde e manter um estilo de vida mais saudável não precisam treinar a ponto de gritar na academia. O treinamento bem calculado vai fazer com que gradualmente a pessoa vá hipertrofiando. Há situações em que o aluno vai evoluir com as cargas, vai fazer a repetição de modo mais forte e vai emitir som, mas não a ponto de dar um gritão — aponta a profissional.
Diminui a percepção de dor
A exteriorização de grunhidos ou gritos mais altos pode aparecer de forma involuntária em circunstâncias fisicamente desgastantes e de esforço intenso. Na maioria das vezes, relacionadas a atletas de alto rendimento. Quanto maior o empenho, maior a possibilidade de saída do ruído.
— Quando se está fazendo várias repetições e começa a ficar dolorido, a tendência a gritar é maior para aguentar o desconforto. É uma coisa instintiva do atleta no final da repetição ou em uma carga muito alta, para conseguir suportar e para conseguir terminar a série — afirma Thaís.
Nesses casos, o grunhido e o grito funcionam como recurso psicológico, para diminuir a percepção de dor.
Nas quadras, nos ringues e no tatame
Lutas marciais como kung fu, caratê e judô incentivam que os praticantes produzam sons. Um exemplo é o grito conhecido como "kiai", que tem como objetivo combinar técnica, respiração e foco para potencializar um golpe e canalizar a energia.
Já no tênis, é bastante comum ouvir grunhidos dos atletas. Há tenistas, como a estadunidense Serena Williams e o brasileiro Guga, que, nas jogadas de maior esforço, expiram e grunhem quando a raquete bate na bola para tornar o golpe mais potente.
A professora de tênis e árbitra da modalidade Simone Ribeiro explica que isso tem a ver com a exigência do movimento e com o controle da respiração.
— Manifestar isso em quadra, principalmente, em casos que vão exigir concentração e potência, tem um efeito positivo. Expelir o ar e dar um grunhido, pela biomecânica, ajuda a deixar a musculatura mais solta para uma contração mais vigorosa do golpe e das sequências — afirma Simone, que também é educadora física.
Todo mundo deve começar a grunhir?
Ainda que possa ser benéfica, a emissão de grunhidos e gritos não é necessária. Há quem prefira permanecer em silêncio enquanto pratica um esporte — e está tudo bem. Tudo vai depender do estilo de treinamento e das preferências pessoais.
Além disso, também há situações em que gritos e grunhidos são utilizados para desconcentrar e intimidar o adversário.
O mais importante, no fim das contas, é ter um bom controle respiratório e bom senso em relação aos outros na volta.
*Produção: Carolina Dill