Pertencente à terceira geração da família Aita, Jorge, junto com a irmã Elaine, tomou à frente da Churrascaria Santo Antônio em 1979. A casa completa 84 anos de existência em maio e, até hoje, mesmo com todas as novidades no cenário gastronômico, permanece como um dos restaurantes mais clássicos da cidade.
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Como você percebe a gastronomia atual?
Atualmente temos muito mais informação por meio de cursos, apresentações, televisão. Também há mais atenção nos processos de compra, quanto aos insumos orgânicos, e nos produtores locais. Então, se evoluiu muito. Há mais qualidade e tecnologia. Hoje está, com certeza, mais fácil de trabalhar do que quando eu comecei.
Qual o principal ensinamento que ficou das outras gerações?
Meu pai e meus tios deixaram o legado da superação e do tratamento com o cliente. Lembro de vê-los descascando e cortando batatas para fritar. Hoje em dia, as fritadeiras são elétricas e a batata já vem cortada
e pré-frita. Eles tinham carinho com os clientes e com a comida que preparavam. Eram simpáticos e muito carismáticos.
Como manter um negócio na área há tanto tempo?
Nosso restaurante passou por períodos de guerra. Meu pai contava que, na época da Segunda Guerra Mundial, era difícil arrumar mercadoria, e que por termos origem italiana, existiam restrições. Também tivemos governos que congelaram preços, houve escassez de produtos. Nós nos viramos para seguir adiante. Mas, não seguimos os modismos. Somos um restaurante com menu à la carte, e nossa ênfase sempre foi, e ainda é, a qualidade.
Como dividir o espaço com as novidades que chegam a todo momento?
A gente não tem que ter medo, mas respeito. É preciso entender o que a concorrência está fazendo. A gente procura por cursos, viaja, fica de olho em tudo. Estamos sempre nos adaptando e nos renovando.
O negócio da família Aita funciona há mais de 80 anos. Qual foi o momento mais marcante da trajetória?
Passamos por vários. Uma vez, um cliente se engasgou e passou por uma traqueostomia no restaurante. Era Dia dos Pais e eu encontrei um médico que foi supercompetente e salvou a sua vida. Outro momento marcante, foi a morte do meu pai. Ele faleceu em uma sexta-feira e, no domingo, quando abri as portas do restaurante, parecia que elas pesavam milhares de quilos. Alguns clientes que chegaram, perguntaram por ele e foram embora quando souberam da notícia. Então, até hoje, temos uma foto do meu pai na porta. Quando tu chegas, ele te recebe. Quando vais embora, ele está dando tchau. Isso é muito simbólico para mim.
A próxima geração dos Aita também tem contato com a gastronomia?
Sim. O mais velho trabalha em um restaurante em Barcelona, está muito feliz e não deve voltar mais. O mais novo, de 18 anos, está cursando o terceiro semestre da faculdade de Gastronomia e atualmente é o comprador do restaurante. Ele vai fazer estágio no Exterior, mas eu acho que esse volta.
Qual o conselho que você daria para o Jorge Aita de 20 anos?
Além de se importar com os insumos, as mercadorias e a qualidade da entrega, eu diria para ele se preocupar com os processos financeiros e administrativos de um restaurante. Foi uma dificuldade que eu tive, mas que hoje está implementado de forma muito profissional, o que colabora para o crescimento bárbaro que estamos vivendo.
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* Conteúdo produzido por Victoria Campos