*Texto por Luiz Américo Camargo, crítico gastronômico e autor do livro Pão Nosso
O papo era sobre casamento entre queijos e bebidas. Até que me perguntaram sobre o que iria bem com um Serra da Canastra bem curado, com muito umami e notas bem picantes. Pensei, puxei pela memória e respondi: um belo café de coador. É algo que realmente me agrada. O aspecto mais importante da questão, contudo, não está na discussão de preferências. Está na possibilidade de, cada vez mais, pensarmos em combinações que vão além dos tintos e brancos.
A relação entre queijos e vinhos tem momentos de grande afinidade – e situações de quase estranhamento. Por vezes, as personalidades (leia-se: teor de gordura e maturações X taninos, acidez, etc) simplesmente não batem. Por outras, se entendem à perfeição. Mas, voltando à ideia inicial: que bom que, além dos vinhos, podemos incluir em nosso repertório cervejas, cachaças (e até o cafezinho que eu mencionei).
Por isso, diante de um tema tão abrangente e tão apropriado ao frio, foi uma satisfação topar com um lançamento (acabou de sair!) como o livro Queijos Brasileiros à Mesa (Ed. Senac, 170 páginas, R$ 114,90). Foi minha leitura de fim de semana. Os autores são Bruno Cabral, estudioso da área, graduado na Catalunha e criador do Mestre Queijeiro, uma plataforma dedicada à divulgação dos bons queijos da nossa terra, e Manoel Beato, sommelier do Fasano e, há muitos anos, referência no serviço de vinhos (e cervejas, destilados, drinks) no país.
O livro aborda o assunto sem mistificações, em linguagem direta, com muita informação. Apresenta os principais tipos de queijos, tanto os de inspiração europeia quanto os exemplares genuinamente nacionais. Trata de vinhos, cervejas e cachaças, destrinchando suas características e, principalmente, analisando o comportamento de cada bebida na harmonização. De quebra, ainda passa por tipos de copos para degustação e acessórios para o queijo, além de ensinar a montar uma boa tábua, considerando o equilíbrio e a diversidade.
Então, quando convidarem você para os primeiros queijos & vinhos do inverno, peça licença e leve também APAs e blondes, branquinhas e amarelinhas. E, claro, não se esqueça daquele meu cafezinho.