Em tempos em que as plataformas de streaming disputam espaço, a TV corre para se atualizar. Essa preocupação em inovar e promover programas em multitelas – em que o espectador pode interagir com o produto audiovisual pela tela do celular nas redes sociais – gerou uma onda criativa na TV aberta. Os programas testam novos quadros, os telejornais provocam novos tipos de interação com a notícia. Os números de audiência têm sido instáveis, com mudanças rápidas do comportamento dos espectadores.
Enquanto isso, companhias como Netflix, Amazon e HBO investem pesado em suas plataformas, com a preocupação de trazer seriados e filmes de qualidade para seus usuários. A Netflix lidera o movimento: pretende lançar, pelo menos, 90 produções originais com sua chancela por ano, a partir de 2019. A Amazon e a HBO também seguem a tendência.
As estripulias de Tatá
A terceira temporada do programa humorístico de Tatá Werneck estreou em novembro no canal pago Multishow. Em cada um dos 25 episódios inéditos, algum ponto chamou a atenção dos espectadores: seja o convidado com determinada declaração polêmica ou alguma sacada da apresentadora com seus quadros inusitados. Entre os destaques desta nova fase, que recebeu 40 celebridades, estão o compositor Caetano Veloso (que deu um beijaço em Tatá) e Susana Vieira (que falou sobre experiências sexuais). Outro quadro que garantiu boas risadas foi a “Entrevista com o Especialista”, em que a atriz faz perguntas sinceras a diversos profissionais – de mecânico a animador de festa infantil.
Sertanejo poderoso
O maior reality musical do país foi conquistado por um gaúcho. A sétima edição do The Voice Brasil, apresentado por Tiago Leifert chamou a atenção principalmente pela pluralidade de estilos dos candidatos, do pop à MPB. Mas, desta vez, foi o sertanejo de Léo Pain que conquistou o público: na final, o jovem cantor de Alegrete registrou 50,01% dos votos após apresentar faixas como Adoro Amar Você, de Daniel, e Outra Vez, de Roberto Carlos. A atração da Rede Globo também gerou polêmica. Em uma das fases finais, a candidata Priscila Tossan cantou uma versão repaginada da canção infantil O Sapo, provocando ataques ao técnico Lulu Santos. Mesmo assim, o The Voice Brasil registrou altos índices de audiência e deve voltar à grade no ano que vem.
Amizade eternizada
No final de novembro, os brasileiros puderam acompanhar a estreia de A Amiga Genial (HBO), que adapta o livro homônimo da aclamada escritora Elena Ferrante, parte de uma série de quatro romances que acompanham as amigas Elena Greco (Lenu) e Rafaella Cerullo (Lila) da infância à velhice. Tudo na produção foi pensado para manter os pés na Itália: os testes de elenco foram realizados em Nápoles e levaram nove meses. O jornal inglês The Guardian classificou a adaptação como “o retrato de jovens meninas mais honesto já visto na televisão”. Ao todo, o seriado deve ter 32 episódios, oito para cada um dos livros.
Do entretenimento ao jornalismo
Conversa com Bial, que vai ao ar nas sextas-feiras, depois do Jornal da Globo, chegou à segunda temporada com pautas mais ambiciosas. O ex-ministro da fazenda Delfim Neto, por exemplo, declarou no programa que não se arrependia de ter assinado o Ato Institucional 5, que deu início aos anos de chumbo da ditadura militar. O episódio mais emblemático foi o dedicado aos depoimentos de mulheres contra João de Deus, acusado de abuso sexual, que resultaram em pelo menos 330 denúncias similares.
Emergência na saúde
A segunda temporada de Sob Pressão, assinada pelo cineasta porto-alegrense Jorge Furtado, voltou a mostrar os desafios que uma equipe médica enfrenta para salvar vidas no sistema de saúde pública, praticamente falido na maior parte do Brasil. Neste ano, contudo, novos ingredientes foram adicionados à trama: ética e corrupção. Em meio ao período eleitoral, políticos querem garantir favores aos eleitores, ao mesmo tempo que prometem mais verbas e recursos para a equipe hospitalar, em troca de apoio a suas candidaturas. O elenco cresceu, com a chegada de Humberto Carrão e Fernanda Torres.
Bella Ciao, Bella Ciao
Assaltos não são algo inédito no mundo audiovisual, mas o enredo de La Casa de Papel – que se apropria do tema – fez com que o seriado ganhasse o título de primeira produção de língua não inglesa de sucesso da Netflix. A história é centrada em oito ladrões que invadem a Casa da Moeda da Espanha para imprimir suas próprias cédulas. Para isso, os assaltantes fazem um grupo de estudantes de refém e negociam com a polícia prevendo seus movimentos. A série foi lançada originalmente em 2017, mas virou sensação no Brasil com a divulgação de uma segunda leva de episódios inéditos em abril de 2018. A música Bella Ciao da trilha-sonora ganhou milhares de fãs na web. Memes nas redes sociais e a repercussão entre os internautas estimularam a Netflix a produzir uma terceira temporada da série, que deve estrear em 2019.
A reviravolta de Mrs. Maisel
Vencedor de cinco estatuetas no Emmy – incluindo o prêmio de Melhor Série de Comédia –, o seriado The Marvelous Mrs, Maisel relata a reviravolta na vida de Midge Maisel, uma dona de casa norte-americana da década de 1950 que decide se tornar comediante de stand-up impulsionada por seu divórcio. Estrelada por Rachel Brosnahan e cocriada por Amy Sherman-Palladino, de Gilmore Girls, o programa da Amazon Prime Video ganhou uma segunda temporada em dezembro e estreia uma nova fase em 2019, ainda sem data anunciada. Entre as mensagens do roteiro, a que mais se destaca é o espírito de fazer o espectador correr atrás daquilo que realmente quer para a sua própria vida.
Estrelas à prova
A segunda temporada de PopStar, disputa musical entre celebridades, que vai ao ar nas tardes de domingo da Globo, será lembrada pelo talento de duas mulheres. À frente do reality, Taís Araujo substituiu Fernanda Lima e logo se tornou o espírito da competição. Pela primeira vez apresentando um programa de auditório ao vivo, a atriz soube criar conexão com o público e os concorrentes. A campeã do show foi Jeniffer Nascimento, de 25 anos. A atriz recebeu R$ 250 mil e um carro apresentando as músicas Um Dia de Domingo, de Tim Maia, e Survivor, do Destiny’s Child, antigo grupo de Beyoncé.
O retorno de Sandra Oh
Sandra Oh, famosa como a Dra. Cristina Yang do drama médico Grey’s Anatomy, voltou a brilhar como a protagonista de Killing Eve. Indicada ao Emmy e ao Globo de Ouro por sua performance, ela vive uma agente do serviço secreto britânico na nova série de espionagem da BBC America. Misturando comédia, drama e ação, a produção mostra um jogo de gato e rato entre a personagem de Sandra e uma assassina profissional interpretada por Jodie Comer. Escrita e produzida por Phoebe Waller-Bridge, a partir dos livros de Luke Jennings.
Uma heroína com problemas
Com apenas oito episódios, a série Sharp Objects, da HBO, traz Amy Adams no papel de uma repórter que, ao voltar à sua cidade natal, no Missouri, para uma reportagem sobre a morte de duas meninas, precisa encarar as próprias lacunas pessoais. Ela bebe o tempo inteiro, se veste apenas de preto e costuma fazer cortes em seu corpo. São dilemas cuja razão está no passado da jovem, desprezada pela mãe e com uma irmã morta na adolescência. Quem ficou fã da série precisou lidar com uma notícia ruim: a própria atriz decidiu não continuar no papel porque a personagem era pesada e o trabalho, angustiante. Os oito episódios podem ser vistos no streaming da HBO.
O retorno de Julia Roberts
Em dez episódios com 30 minutos de duração cada, a série Homecoming, produzida pela Amazon Prime Video, trouxe a estrela de Hollywood Julia Roberts em seu primeiro trabalho em uma série de TV. Ela interpreta Heidi Bergman, uma assistente social que acolhe veteranos de guerra e os ajuda a se readaptar à vida em sociedade. O local em que atua é destinado a tratar dos traumas vividos por esses homens, que recém retornam das zonas de conflito. Com o tempo, Heidi percebe que nada é como parece ser. É aí que a série se torna um thriller psicológico. A produção é baseada em um podcast americano de mesmo nome.
O inimigo mora ao lado
Fãs de espionagem e drama policial encontraram na série The Americans, da FX, um pouco da paranoia pós-Guerra Fria que se renovou com o atual cenário político tanto lá quanto no Brasil. Espiões da KGB russa, os Jennings vivem nos EUA dos anos 1980 como “bons americanos”, escondendo que estão a serviço dos comunistas. Até que ganham um novo vizinho, que está à serviço do FBI e passa a suspeitar do casal. A série, que exibiu sua última temporada neste ano, levou no Emmy o prêmio de melhor ator de série dramática, dado a Matthew Rhys, o ator que interpreta o marido espião.