Mais de 10 milhões de leitores foram seduzidos pelos romances da escritora italiana Elena Ferrante sobre a relação complexa de duas meninas, mais tarde transformadas em mulheres, que se conhecem em Nápoles na década de 1950, desde que o primeiro livro foi lançado em 2011. Agora, esses fãs poderão ver a história retratada na tela da TV. Neste domingo, às 22h, a HBO estreia no Brasil a série A Amiga Genial, adaptação em oito episódios da obra de Ferrante — pseudônimo da autora cuja identidade se mantém desconhecida.
Quebrando barreiras de idioma, as gravações foram feitas em italiano. Aliás, séries não faladas em inglês têm sido tendência. Mesmo nos Estados Unidos, onde os livros traduzidos para o inglês representam apenas 1% do mercado, os quatro “romances napolitanos”, como ficaram conhecidos, têm sido sucesso comercial, com 2,6 milhões de cópias vendidas, segundo a editora Europa Editions.
Mas daí para produzir uma série de TV em italiano, filmada na Itália, por um diretor italiano, é de qualquer maneira um risco para a HBO. Os diálogos estão, de fato, no dialeto napolitano, e não no italiano clássico, então até o canal italiano a transmitirá com legendas.
Verdade dramatúrgica
Tanta atenção aos detalhes para garantir a autenticidade é relativamente nova. Em 2009, Quentin Tarantino apontou nessa direção com Bastardos Inglórios, parcialmente filmado em alemão e francês. Mas o mundo das séries estava relutante em seguir o caminho. Logo apareceu The Americans (2013–2018), a série premiada sobre espiões russos nos EUA durante a Guerra Fria, que mostrou longas sequências em russo. O apetite do público, globalizado e entregue às plataformas de streaming, migrou cada vez mais para produções legendadas.
— Narcos abriu o caminho para as demais, mostrando que a autenticidade é central para o sucesso — explicou Lorenzo Mieli, produtor da adaptação da obra de Ferrante.
Uma vez superado o desafio da língua, houve outro passo: garantir que o conteúdo dos livros não se deformasse com a passagem para a televisão.
— Desde o primeiro livro de Ferrante, senti que compartilhávamos das mesmas ideias e também da mesma obstinação por buscar uma verdade dramatúrgica — explicou o diretor Saveiro Costanzo.
Francesco Piccolo, que escreveu o roteiro junto com Costanzo, comentou que a autora, inicialmente “vigilante”, aos poucos se mostrou mais à vontade com a adaptação após intercâmbios com o diretor:
— Ela fazia sugestões, mas nunca para defender os livros, só mais como uma bela ideia de transposição cinematográfica. Ela tinha grande confiança em Saverio.
O resultado é fiel ao romance, uma história de amizade, admiração, rivalidade e inveja; uma imersão quase documental na Nápoles dos anos 1950, onde Elena e Lima se conhecem na escola.
— É uma série completamente diferente do que temos visto. Estamos focados na complexidade do ponto de vista das personagens femininas. Acho que isso pode levar a uma nova forma de contar histórias — revelou Mieli.