O tempo colaborou e o público compareceu em peso. Tanto que ficou difícil circular pela Praça da Alfândega neste sábado (9), em razão do grande número de pessoas que aproveitaram o dia ensolarado para ir à Feira do Livro.
Mas mesmo com muvuca, não faltou espaço para que todos garimpassem seus títulos preferidos em meio aos balaios e sobre as prateleiras das bancas. Foi o dia de maior público desde a abertura desta 70ª edição, em 1° de novembro, segundo observa o livreiro Rodrigo Quevedo, proprietário da Amo Livros. O movimento intenso impactou, é claro, as vendas.
— O burburinho entre os livreiros já era de que o sábado seria estrondoso, mas não imaginava que tanto assim. Os braços não param, as máquinas não param, a gente não senta em nenhum momento. O público está comprando muito, o que para nós é uma alegria — conta o livreiro.
Na Amo Livros, o título mais vendido até o momento é Imperfeitos, de Christina Lauren, pseudônimo da dupla de escritoras estadunidenses Christina Hobbs e Lauren Billings. O pódio de vendas também tem Comigo na Livraria, novo livro de Martha Medeiros.
A adesão do público neste sábado está relacionada justamente aos grandes nomes da literatura que integraram a programação do dia na Feira do Livro: além de Martha Medeiros, Aline Bei, Lilia Guerra, Maria Carpi, Fabrício Carpinejar e Monja Coen, entre outros autores, estiveram no evento. Os dois últimos levaram uma verdadeira multidão ao Teatro Carlos Urbim, espaço montado entre o Margs e o Memorial do Rio Grande do Sul.
Todas as poltronas foram ocupadas e muitas pessoas se aglomeraram do lado de fora do espaço, satisfeitas em somente ouvir o que tinham a dizer Fabrício Carpinejar e Monja Coen.
Quando a líder budista subiu ao palco, perto das 18h, os aplausos duradouros não deixaram mentir: ela é zen, mas também é pop. Na abertura, a monja conduziu um exercício de respiração consciente e convidou o público a usufruir dos minutos que se seguiriam de forma plena. Já Fabrício Carpinejar, tão pop quanto a companheira, foi igualmente aclamado e não conseguiu conter a emoção ao subir ao palco. O escritor lembrou a tragédia climática que atingiu o Estado e celebrou o retorno à Praça da Alfândega, antes inundada pela água da enchente.
— Não tem como não se emocionar. Quem viu o que a gente viu, quem passou pelo que a gente passou, não diria que seis meses depois nós estaríamos em um teatro lotado, falando de literatura — disse o escritor em meio a lágrimas.
Ao fim do bate-papo, Carpinejar e Monja Coen seguiram para a Praça de Autógrafos. As sessões de ambos estavam marcadas para as 19h, mas nenhum dos dois quis esperar o horário. Iniciaram os atendimentos cerca de 15 minutos antes, para a alegria de quem já se enfileirava por um momento com os ídolos.
É o caso do casal de advogados Adriana Farias Pereira, 49 anos, e Dino Veiga, 63. Os dois encararam a fila quilométrica que se formou frente à mesa de Fabrício Carpinejar para garantir mais um autógrafo do escritor de quem são fãs, desta vez no novo livro dele, Se Eu Soubesse: Para Maiores de 40.
Enquanto aguardavam, Adriana e Dino já aproveitavam para folhear a obra. E emocionavam-se ao conversar sobre a circunstância do novo encontro com Carpinejar.
— Há três anos, nós estivemos aqui para receber autógrafos dele. Era pandemia, estávamos todos de máscara, mas com um sentimento de esperança e recomeço. Agora, o sentimento é o mesmo. Vimos tudo ficar embaixo d'água no Centro, inclusive a Praça da Alfândega. É muito especial estar aqui de novo, ainda mais para receber um autógrafo de um cara com a sensibilidade do Carpinejar, nosso ídolo — diz Adriana.
A fila formada pelos fãs do escritor encontrou no caminho uma outra, iniciada cerca de uma hora antes, mas que persistiu até perto do encerramento do evento. Eram os fãs de Martha Medeiros, que iniciou a sessão de autógrafos do seu novo livro às 18h, diante de uma verdadeira legião de leitores.
A fila dava voltas no entorno da Praça de Autógrafos, mas não foi suficiente para assustar a psicopedagoga Adriana Koch, 57 anos, e a filha dela, a estudante Alicia Koch, 22. Entusiastas da versatilidade literária de Martha Medeiros, as duas estavam dispostas a esperar o tempo que fosse necessário para conquistar uma dedicatória da cronista.
— A Martha escreve sobre qualquer coisa, eu acho isso lindo. É um dom que ela tem de conseguir transformar as situações mais simples em algo interessante e fazer com que a gente se identifique — elogia Adriana.
— E ela não escreve difícil, né!? Qualquer pessoa entende o que ela está querendo dizer — completa Alicia.
Mãe e filha escolheram ir à Feira do Livro neste sábado por causa de Martha Medeiros, pois queriam aproveitar a chance de estar frente a frente com a escritora que tanto admiram. Todo ano, elas vasculham a programação para decidir o dia em que comparecerão ao evento literário. Não ir não é uma opção.
— A Feira do Livro é o passeio mais aguardado do ano para nós — confessa Adriana.