Fabrício Carpinejar tem muito a dividir com quem já atravessou a fronteira dos 40 anos. Com dois filhos adultos, os pais idosos e ainda vivos, ele tem propriedade para refletir sobre as dificuldades da paternidade, a necessidade de humanizar figuras tão heroicas, porém, tão humanas quanto pai e mãe, a passagem indelével do tempo e outros assuntos que causam sobressalto em que já trilhou metade do percurso da vida.
Está tudo relatado em Se eu Soubesse (Bertrand Brasil), seu novo livro que será lançado nesta quarta-feira (18), na Livraria Santos (Rua Dinarte Ribeiro, 148), em Porto Alegre, às 19h30, com entrada gratuita. Haverá sessão de autógrafo com a presença do escritor.
— São 300 páginas de reflexões sobre pais e filhos. O quanto ser pai e ser mãe é despedir-se gradativamente dos filhos. Entender que os pais têm angústias e fantasmas tão parecidos quanto os nossos — diz o escritor.
Publicando seu 52° livro pouco antes do aniversário de 52 anos, em outubro, Carpinejar hoje enxerga o mundo com duas balizas à sua frente: a dos pais, que desfrutam do privilégio de terem chegado à outra extremidade da vida, e a dos filhos, a quem ensina a independência. Entende que a sua geração, batizada de sanduíche, é a primeira que enfrenta o dilema de cuidar de quem veio antes e de quem veio depois, além de cuidar de si mesmo.
— A geração sanduíche tem que conciliar relacionamento, carreira, criação dos filhos e cuidado com os pais. É de enlouquecer, porque você tem que lidar com as frustrações de pais e de filhos. Talvez seja o grande desafio para quem já passou dos 40 anos — reflete.
Carpinejar tem a proeza de criar reflexões a partir de uma simples provocação do interlocutor, uma aptidão com a palavra que ele diz ser resultado de um trauma infantil: na escola, foi vítima de bullying dos coleguinhas porque era uma criança com problemas de dicção. A volta por cima foi tornar-se não só um grande comunicador, mas alguém que tem uma frase de consolo e de afeto para quase tudo. Além de uma solução.
Sobre o tempo que parece insuficiente para matar a saudade de um grande amigo ou fazer uma visita aos pais, ele diz que é necessário pensar como se pensava nos tempos de escola: com apenas 20 minutos de intervalo, as crianças faziam de tudo.
— A gente idealiza o tempo. Não nos damos conta que são as visitas rápidas, de 15 ou 20 minutos tão valiosos, que renovam os laços. No recreio, a gente jogava bola, conversava, comia, estudava. Então eu solto essa indagação: quantos recreios estamos jogando fora em nossas vidas, dando prioridade à tela do celular?
Sobre suas convicções a respeito da vida, uma das mais interessantes que ele lançou em menos de uma hora de conversa diz respeito às verdadeiras amizades. Para o escritor, a passagem dos 40 anos e a escassez do tempo tornam necessários que se passe uma peneira nas relações de troca e afeto.
— Porque amizade é dedicação. Você liga, você se importa. Não tem como fazer isso com 10 ou 15 pessoas, me desculpem — diz.
Pequenos dramas que farão sentido a quem já cruzou o limiar dos 40 anos, mas que também podem servir aos que ainda não chegaram lá.
— Quem for mais novo, tiver curiosidade e quiser antecipar o processo, será bem-vindo — convida.