Uma das principais vozes no Brasil quando o assunto é sobre as mulheres que exercem trabalho doméstico não remunerado, a apresentadora e chef de cozinha Bela Gil veio à Feira do Livro de Porto Alegre nesta quarta-feira (6) para tratar de um outro ponto dessa discussão: são elas as responsáveis por garantir que as famílias tenham uma alimentação saudável. O tema é amplamente discutido no livro Quem vai fazer essa comida? (Editora Elefante, 2023), que ela autografou nesta noite.
Em coletiva de imprensa, realizada momentos antes de falar para o público na Praça da Alfândega, Bela Gil disse que o trabalho doméstico recai principalmente sobre as mulheres. Por causa disso, é necessário que os governos criem políticas públicas para diminuir o fosso que isso gera nas oportunidades de trabalhos para elas.
— Precisamos redistribuir esse trabalho doméstico, não só entre homens e mulheres, mas também para fora de casa, com o Estado apoiando e fazendo parte disso, criando mais restaurantes populares, mais creches, fazendo com que mais pessoas cuidem e alimentem as nossas crianças. São serviços de base fundamentais para a manutenção da vida. Os países desenvolvidos já dão horários expandidos de creche e licença para os pais. Isso diminui a discriminação que existe na hora de um empregador dar um emprego para uma mulher que é mãe — explicou.
Ela também falou sobre reforma agrária e sobre o fato de o Brasil ser um dos principais exportadores mundiais de alimentos, enquanto o país voltou a registrar índices preocupantes de fome nos últimos anos.
— A gente se gaba que o Brasil é o celeiro do mundo, exportando alimentos para vários países, mas, antes, a gente precisa olhar para dentro. Ainda temos oito milhões de brasileiros passando fome. E quem coloca comida na mesa são os agricultores familiares, que detêm somente 30% das áreas, enquanto o agronegócio detém 70%. Só que essa comida que o agronegócio produz é exportada para virar ração e alimentos ultraprocessados. Não converte em alimento na mesa. É muito importante que a gente enxergue quem está produzindo a nossa comida — defendeu.
No livro, Bela fala sobre mulheres que a inspiraram e interferiram positivamente em sua vida, muitas estritamente implicadas na responsabilidade do cuidado com os familiares, como suas avós e mãe. Ela disse que fazer esse recorte que mostra como as mulheres ficam sobrecarregadas com as tarefas de casa é uma forma de contribuir na luta pela igualdade de gênero.
— A gente precisa fazer mais para libertar e emancipar todas essas mulheres que foram oprimidas e subjugadas. Tem mulheres maravilhosas que eu cito no livro e que contribuíram para a construção desse meu pensamento crítico sobre alimentação saudável. Porque é isso: se a gente quer comida boa no prato, a pessoa que vai fazer essa comida precisa ser valorizada e precisa ser remunerada.