Na sexta-feira, plantei a primeira orquídea no tronco da árvore maior do Largo David Coimbra. Não sei se ainda estará lá depois do Natal, mas seguirei tentando transformar em jardim esse pequeno triângulo isósceles, na esquina da Avenida Ipiranga com a Erico Verissimo, que ganhou o nome do nosso jornalista gigante. Enquanto acomodava a florzinha delicada numa das entrâncias da árvore que se quebrou com alguma ventania, imaginava uma conversa com David, meu colega por 30 anos no Grupo RBS.
Se existe vida depois da morte, e quem se foi pode nos ver e ouvir, o David talvez se perguntasse que flor era aquela que se gruda aos troncos das árvores e prolonga a vida depois que os vasos se tornam pequenos. Uma orquídea ou uma azaleia? Ou seria uma dália? David entendia de tudo, menos de flores. Ele sempre me consultava quando queria escrever sobre o mundo da botânica. De certo tinha se distraído nas aulas olhando para alguma menina de olhar oblíquo, alguma Capitu do IAPI.
Então, eu lhe explicava que existem flores de nomes tão esquisitos que é melhor não gastar espaço no disco rígido. Dipladenia, por exemplo. David sabia distinguir uma rosa de um cravo, que são flores antigas, mas não tinha ideia do que era uma peônia ou uma ipomea. Pensei nessas nossas conversas quando inauguramos o Largo David Coimbra. Digo inauguramos, no plural, porque não foi só o prefeito Sebastião Melo e o vereador Idenir Cechim, autor da lei que deu nome àquele espaço que nos é tão simbólico. Inauguramos nós, amigos e família do David, ao lado das autoridades.
Foi lindo ver o carinho da Marcinha, tua eterna namorada, e do Bernardo, teu filho que vimos crescer e amadurecer mais cedo do que outros adolescentes. Bernardo é, fisicamente, um jovem David. O mesmo cabelo cacheado, o jeito como sorri, os olhos atentos. Mas o que mais me chamou atenção foi a serenidade e a maturidade, a facilidade de expressão, a fala fluente. Impossível não pensar que esse guri “saiu igualzito ao pai”. Não imagino esse rapaz vestindo “botas feitio do Alegrete e esporas do Ibirucai”. Imagino, sim, Bernardo devorando a biblioteca que herdou do pai, escrevendo crônicas, encantando quem cruza seu caminho, arrancando suspiro das meninas do colégio, da universidade, do trabalho.