Estandes visualmente atrativos, alguns imitando cenários de livros que cativaram os leitores, e pessoas puxando malas de rodinhas abarrotadas de exemplares para conseguirem carregar sem incômodo todos os títulos que puderem comprar. Na 27ª edição, a Bienal Internacional do Livro de São Paulo prova que é um dos maiores eventos literários da América Latina.
A grandiloquência está nos números. São 227 estandes de editoras espalhados por 75 mil metros quadrados dos pavilhões do Distrito Anhembi. A partir desta sexta-feira (6) até 15 de setembro, a estimativa é de receber em torno de 660 mil pessoas para aproveitarem uma programação formada 680 autores do Brasil e outros 30 estrangeiros.
Acima de tudo, eventos como a Bienal enterram o batido jargão que diz que jovens não gostam de livros. Basta circular por alguns minutos pelos corredores do Anhembi para ver crianças e adolescentes por toda a parte fazendo a máquina do mercado editorial girar.
Febre oriunda do Japão e da Coreia, a literatura de cura, com suas histórias sobre livrarias e gatinhos, inspirou a decoração de estandes de grandes editoras, como a Rocco. Não tem como não parar para fazer uma foto.
Influencer literária, Thayla Tenorio, 37 anos, posava com os amigos em frente ao estande da Bertrand, em que um dos painéis emula a capa do best-seller Meus Dias na Livraria Morisaki, de Satoshi Yagisawa.
— Não é só o livro. É uma imersão no mundo literário. A Bienal torna as histórias dos livros reais — disse.
Quem é de São Paulo freia a ânsia de gastar com literatura para quando chega a hora do evento, que acontece a cada dois anos, variando com a Bienal do Livro do Rio.
Na manhã desta sexta-feira, primeiro dos 10 dias de evento, as amigas Vitória Santana e Letícia Razzano, ambas de 22 anos, já tinham entulhado duas malas de rodinhas com livros de romance e fantasia. A dupla garante que foi elas que criaram a moda de ir para a Bienal com mala, em vez de sacola.
— Quatro edições atrás, a gente ficou com dor nas costas de tanto carregar sacolas de livros. Então decidimos vir com malas quando ninguém fazia isso. Esse ano a Bienal até divulgou que as pessoas podiam vir dessa forma — conta Leticia, que já havia comprado 34 livros em apenas três horas de evento.
A visibilidade da Bienal, chamariz de fãs da literatura de todos os cantos do Brasil e até de fora, motivou a ida conjunta de 10 autoras que vivem no Rio Grande do Sul, entre elas Jane Engel, 55 anos, Kátia Dickel, 48, e Nara Müller, 56. Todas trouxeram seus livros para vender em um estande alugado conjuntamente. Batizaram o espaço de "Gaúchas fazendo história".
— Nós acreditamos no nosso trabalho como profissionais da literatura — diz Jane, autora dos livros infantis Esse tal de Bicho Carpinteiro e Vó Dora e a Fada das Histórias.
Como professoras, elas elogiam um ponto específico da Bienal: os vouchers oferecidos a estudantes da rede pública de ensino de São Paulo, iniciativa da prefeitura da capital paulista.
Cada criança vai para a feira com um vale de R$ 60 reais para gastar em livros. A prefeitura de São Leopoldo adotou política semelhante na Feira do Livro da cidade. A mais antiga do país, a Feira do Livro de Porto Alegre, que neste ano chega a 70 edições, ainda não conseguiu implementar o benefício.
— A criança começa a educação infantil comprando livros com seu voucher. Quando ela chegar ao 9º ano, já terá formado sua própria biblioteca — observa Jane.
O segundo dia de evento será mais agitado. Coincidindo com o feriado de 7 de setembro, o sábado vendeu todos os ingressos uma semana antes de começar a Bienal.