Com títulos que remetem a fábulas, um novo tipo de ficção tem movimentado o mercado editorial. É a literatura de cura, ou healing fiction, em inglês, que se propõe a oferecer histórias capazes de confortar os leitores e fazê-los enxergar a vida sob uma perspectiva otimista. É uma leitura destinada a ser refúgio de um cotidiano de batalhas, e não para gerar grandes reflexões.
Meus Dias na Livraria Morisaki, de Satoshi Yagisawa; A Inconveniente Loja de Conveniência, de Kim Ho-yeon; e A Lanterna das Memórias Perdidas, de Sanaka Hiiragi, são alguns livros com sucesso de vendas no Brasil. A maioria de autores do Japão e da Coreia do Sul. Editoras como Bertrand (selo da Record) e Intrínseca têm investido na healing fiction desde a crise sanitária, social e psicológica instaurada pela pandemia de covid-19 justamente porque são livros que dão acalanto em momentos difíceis.
— Viemos de um momento muito pesado de isolamento social e de grandes perdas. Dessa forma, é natural que histórias mais leves e confortantes se tornem uma necessidade, ajudando a aliviar o estresse e se transformando em uma válvula de escape para os leitores — diz a editora Marina Ginefra, responsável por selecionar os títulos de healing fiction que saem pela Intrínseca.
Embora boa parte dos títulos tenha origem asiática, outras nacionalidades têm se enquadrado no estilo. A Biblioteca da Meia-Noite, do britânico Matt Haig, lançado no Brasil pela Bertrand, figura na lista de mais vendidos do país há meses. Para a editora Renata Pettengill, da Record, o interesse por escritores do Japão e da Coreia do Sul é resultante de uma onda de apreço pela cultura asiática que já havia invadido a música e o audiovisual.
— A healing fiction não é necessariamente um gênero literário restrito à Coreia do Sul e ao Japão. Existem autores de diversos países ao redor do mundo produzindo ficção de cura. O que observamos é que o público brasileiro está mais interessado em histórias e pontos de vista que fujam do eixo Europa-Estados Unidos, e isso se reflete em um aumento do interesse pela literatura asiática — pontua.
Parece autoajuda? Em partes. Embora a healing fiction não proponha intrincadas construções narrativas, como faz a literatura mais conceituada, e nem lide com visões muito aprofundadas sobre o mundo e a existência humana, ainda é ficção, ainda que mastigadinha. As capas já entregam o conteúdo: são desenhos com gatinhos e livrarias.
— Apesar de contar com mensagens, reflexões e dicas para quem busca uma vida melhor, as healing fictions são ficções e o maior diferencial delas está no fato de essas histórias criarem um espaço seguro e extremamente reconfortante para os leitores. São cenários familiares e acolhedores, com personagens empáticos e que fazem verdadeira companhia — diz Marina Ginefra.
Alguns livros do gênero lançados no Brasil:
A Biblioteca da Meia-Noite
Do autor britânico Matt Haig, conta a história de Nora Seed, uma mulher de 35 anos que não enxerga sentido em sua vida. Depois de ser demitida e seu gato ser atropelado, ela decide colocar um ponto final na própria existência. Ao se ver em uma biblioteca misteriosa, que funciona em um espaço de tempo entre a vida e a morte, ela começa a realizar grandes sonhos, como ser uma estrela de rock. Bertrand Brasil, 2021, R$ 45,48
Se os Gatos Desaparecessem do Mundo
Do autor japonês Genki Kawamura, retrata a solidão de um jovem carteiro que só tem o gato como companhia. Ao ser diagnosticado com uma doença fatal, ele recebe a visita do Diabo, que lhe propõe dias a mais de vida se escolher coisas para desaparecem do mundo. Bertrand Brasil, 2024, R$ 32,50
A Lanterna das Memórias Perdidas
Da autora japonesa Sanaka Hiiragi, se passa em um estúdio fotográfico que transporta as pessoas para dias marcantes de suas vidas. O dono do estúdio, Hirasaka, não se recorda da própria vida, mas oferece aos visitantes uma série de fotografias correspondentes às suas lembranças. Assim, eles ganham a oportunidade de rever o que viveram. Bertrand Brasil, 2024, R$ 53,91
Meus Dias na Livraria Morisaki
Do autor japonês Satoshi Yagisawa, retrata o fundo do poço e a volta por cima. Takako, uma jovem de 25 anos, entra em depressão quando seu namorado anuncia que vai se casar com outra pessoa. Arruinada, Takako recebe ajuda do tio, que é dono de uma tradicional livraria em Tóquio. Ao mudar-se para o estabelecimento, ela começa a se envolver com os livros e a conhecer nova pessoas. Bertrand Brasil, 2023, R$ 38,50
A Inconveniente Loja de Conveniência
Do autor sul-coreano Kim Ho-yeon, fala sobre segundas chances. O personagem principal, Dok-go, é um homem sem lembranças de seu passado e que vive na Estação de Seul. Acaba se aproximando da dona de uma loja de conveniências que fica na estação, a senhora Yeom, que todos os dias lhe oferece marmitas. Ele é contratado para trabalhar na loja, mas o filho da senhora Yeom tem outros planos para o estabelecimento. Bertrand Brasil, 2023, R$ 39,90
A Incrível Lavanderia dos Corações
Da autora sul-coreana Yun Jungeun, tem como personagem central uma mulher enigmática chamada Jieun, que carrega um passado doloroso. Dona de uma lavanderia no alto de um morro, ela recebe os visitantes com um chá quente e coloca em prática um dom raro: a capacidade de realizar desejos e apaziguar o sofrimento das pessoas. Intrínseca, 2024, R$48,24
Bem-vindos à Livraria Hyaunam-Dong
Da autora coreana Hwang Bo-Reum, conta a história de Yeongju, uma mulher que tem se sentido desmotivada, cheia de frustrações. Ela decide deixar tudo para trás e realizar o sonho de abrir uma livraria. Conforme aprende a administrar seu próprio negócio, também aprende mais sobre si mesma. Intrínseca, 2023, R$ 37,42