O escritor Sergio Faraco, 84 anos, foi eleito patrono da 70ª Feira do Livro de Porto Alegre. A escolha foi divulgada na manhã desta quinta-feira (15) pela Câmara Rio-Grandense do Livro (CRL), no Master Grande Hotel, no centro da Capital.
Na última edição, o posto foi ocupado pelo escritor e cineasta Tabajara Ruas. A Feira do Livro deste ano será realizada na Praça da Alfândega de 1º a 20 de novembro.
— Hoje é um dia feliz para nós todos. Quem diria que estaríamos aqui, às vésperas de uma Feira do Livro, depois de tudo o que aconteceu no nosso Estado — comemorou Faraco na coletiva. — Espero que a Feira seja um sucesso e que possa atenuar as perdas que tiveram nossos livreiros e editores no primeiro semestre do ano. Como patrono, apesar da minha discrição e do meu comedimento, que eu possa contribuir de algum modo que esse êxito aconteça.
A organização estima que a 70ª Feira deve marcar a retomada do setor livreiro, que foi fortemente impactado pela enchente que atingiu o Estado em maio.
Conforme a organização, estão agendados 176 eventos e 20 oficinas até o momento, sendo que 91% da programação deve envolver nomes gaúchos.
A programação deste ano deverá ser realizada em quatro locais, sendo três salas no Espaço Força e Luz e o Teatro Carlos Urbim – tenda montada no centro da praça.
Entre os nomes já confirmados que virão à Feira estão Ruy Castro, Heloísa Seixas, Bela Gil e Rita Von Hunty. Mais detalhes da programação serão divulgados nas próximas semanas.
Vida e obra
Faraco nasceu em Alegrete, na Fronteira Oeste, em 25 de julho de 1940. O patrono começou a se aproximar da escrita quando estava no serviço militar, nos períodos de detenção – momentos em que lia livros, escrevia cartas e engendrava o que seriam seus primeiros textos.
Entre 1963 e 1965, viveu na União Soviética e cursou ciências sociais em Moscou. Posteriormente, no Brasil, bacharelou-se em Direito. Paralelo à escrita, ele também atuou como servidor público federal na Justiça do Trabalho.
Os primeiros contos de Faraco foram publicados nos anos 1960, no jornal Correio do Povo. Seu primeiro livro de contos foi publicado em 1970, intitulado Idolatria.
Ao longo de sua trajetória, Faraco produziu obras de contos, memórias, crônicas e não-ficção – que abordam temas como bilhar (Snooker: Tudo sobre a Sinuca, com Paulo Dirceu Dias, 2005), carros (O Automóvel: Prazer em Conhecê-lo, com Hugo Almeida, 2001) e até o naufrágio do Titanic (O Crepúsculo da Arrogância: RMS Titanic Minuto a Minuto, 2006).
Faraco se notabilizou especialmente por sua produção de contos, costumeiramente caracterizados pela linguagem concisa e personagens marcados por angústia, desejo e solidão, com narrativas ambientadas tanto em cenários urbanos quanto no campo.
Ao longo dos anos, o escritor acumularia prêmios. Com A Dama do Bar Nevada, Faraco obteve o Prêmio Galeão Coutinho, em 1988, conferido pela União Brasileira de Escritores ao melhor volume de contos lançado no Brasil no ano anterior.
A Lua com Sede recebeu o Prêmio Henrique Bertaso (Câmara Rio-Grandense do Livro, Clube dos Editores do R.G.S. e Associação Gaúcha de Escritores), como melhor livro de crônicas do ano.
Faraco foi agraciado com o Prêmio Açorianos de Literatura em três ocasiões: em 1995, com A Cidade de Perfil, na categoria Crônica; em 1996, com Contos Completos, na categoria Conto; e em 2001, por Rondas de Escárnio e Loucura, novamente na categoria Conto.
Ele recebeu o Prêmio Nacional de Ficção, em 1999, pela Academia Brasileira de Letras por Dançar Tango em Porto Alegre, apontada como a melhor obra de ficção publicada no Brasil em 1998.
Com Lágrimas na Chuva, o escritor recebeu, em 2003, o Prêmio Erico Verissimo, outorgado pela Câmara Municipal de Porto Alegre, e o Prêmio Livro do Ano (Não-Ficção) da Associação Gaúcha de Escritores.
Em 2008, Faraco foi condecorado com a Medalha Cidade de Porto Alegre, como homenagem da prefeitura. Há décadas ele reside na capital gaúcha.
Seu lançamento mais recente é As Noivas Fantasmas & Outros Casos (L&PM), de 2021, que reúne 46 crônicas inéditas. O próximo trabalho de Faraco se chama Digno é o Cordeiro e deve ser publicado pela L&PM um pouco antes na Feira do Livro.
Segundo o autor, o livro de memória poderá ser considerado uma continuação de Lágrimas na Chuva e irá reproduzir as dificuldades que teve em 1965, após ter retornado da Rússia.