Foi dado o primeiro estalo para a megaexposição que ocupará Porto Alegre no ano que vem. A Fundação Bienal do Mercosul divulgou nesta terça-feira (19), em coletiva de imprensa realizada no Instituto Ling, a lista de artistas e espaços culturais que receberão a mostra de 27 de março a 1º de junho de 2025.
Em 66 dias, a Bienal do Mercosul reunirá obras de 76 artistas de diversas regiões do mundo e se espalhará por 18 diferentes espaços da capital gaúcha e da Região Metropolitana. Originalmente previsto para setembro deste ano, o evento foi adiado para 2025 por conta da crise climática que atingiu o Rio Grande do Sul em maio.
Mesmo assim, a presidente da Bienal do Mercosul, Carmen Ferrão, assegura que a 14ª edição virá maior e mais forte:
— A equipe curatorial é maior também, que foram brilhantes em entender todo esse momento. Para trazer uma Bienal inspiradora e uma Bienal da reconstrução do Rio Grande do Sul.
A equipe artística desta edição é liderada pelo curador-chefe Raphael Fonseca, além dos curadores adjuntos Tiago Sant'Ana e Yina Jimenez Suriel, e da curadora assistente Fernanda Medeiros. O time trabalhou ao longo de dois anos para reunir projetos artísticos que reproduzem contextos geográficos e culturais.
Fonseca destaca que, desde o começo, a intenção era montar uma equipe que fosse, de alguma forma, da classe trabalhadora e "muito devedora da educação pública". Consequentemente, isso muda a forma de construir uma Bienal.
— Uma preocupação muito clara nossa foi com o público não especializado — relata o curador-chefe. — O título também muda, não é um título que parece uma tese de doutorado. Tem uma série de elementos que nos preocupamos para que fossem um reflexo de onde a gente veio.
Em relação ao título, o tema curatorial da 14ª edição será Estalo, com a finalidade de refletir sobre a noção de transformação. Conforme explicou a organização da Bienal em nota, "em um estalar de dedos e em um breve fragmento do tempo, nossos corpos e a natureza, por exemplo, passam por transformações de diversas magnitudes".
Para 2025, o plano da Bienal é atingir uma quantidade maior e mais diversa de público, o que se traduz numa aproximação da arte tanto com a audiência local quanto global. Por isso, há uma presença considerável de representantes da América Latina e Ásia na 14ª edição, como sublinha a organização — 65% dos artistas são internacionais e três quartos das obras são inéditas (realizadas para a Bienal) e comissionadas.
Dos 76 artistas, 13 são gaúchos: Chico Machado, Claudio Goulart, Djalma do Alegrete, Eduardo Montelli, Erick Peres, Felipe Veeck, Iberê Camargo, Ismael Monticelli, Laryssa Machada, Letícia Lopes, Lorenzo Beust, Mauro Fuke e Rochelle Costi. Todos foram chamados antes da enchente. Aliás, Fonseca frisa que, antes da catástrofe, já havia cerca de 60 artistas confirmados. O que fizeram foi repensar com eles o que fazia sentido ou não, com uma reflexão sobre o "incontrolável". A ideia era evitar uma estetização da tragédia.
— Nós, vindos da classe trabalhadora, não queríamos nos apropriar da miséria e estetizar a tragédia. Não nos interessava ter obras que representassem a marca da lama, a perda de casas e a morte de animais. Muitos trabalhos vão ecoar indiretamente isso ou lidarão frontalmente com a enchente — explica o curador-chefe.
Conheça algumas obras da 14ª Bienal do Mercosul
Expandindo o alcance
Novamente, a Bienal estará presente em espaços que já se tornaram tradicionais para o evento — como Farol Santander, Museu de Arte do Rio Grande do Sul (Margs) e a Usina do Gasômetro, que reabre em dezembro. Desta vez, porém, a megaexposição deve chegar a outras regiões da cidade como nos bairros da Lomba do Pinheiro e Restinga, em unidades do Estação Cidadania.
Ainda, pela primeira vez, a Bienal será realizada na Cinemateca Capitólio, no Pop Center, no Museu da Cultura Hip Hop RS e na Fundação Vera Chaves Barcellos, em Viamão.
De acordo com o curador adjunto Tiago Sant'Ana, é uma Bienal que talvez não dê para ser vista em um dia só:
— Isso gera um estado de visitação. Para os visitantes que vierem de fora, a sugestão é que fiquem mais um dia para tentar aproveitar toda essa geografia.
Além de ampliar o evento, a ideia é formar um novo público na Grande Porto Alegre, conquistando pessoas que normalmente não tenham o hábito de frequentar um museu. Se na 13ª edição a Bienal atraiu 860 mil visitantes, segundo Carmen, agora a meta é receber 1 milhão de pessoas.
— É uma Bienal que vai além da mostra, mas também com argumento muito importante de visitar o Rio Grande do Sul. Queremos transformar a 14ª edição, enquanto estiver sendo realizada, no centro das atenções da arte contemporânea — destaca Carmen. — Com mais pessoas vindo a Porto Alegre e mais pessoas conhecendo o nosso Estado, é uma oportunidade também de gerar economia para o turismo.
Além das exposições
Neste ano, o programa educativo da Bienal do Mercosul promoverá seminários, rodas de conversas, cursos de capacitação de professores e mediadores, além da produção de material pedagógico que incluirá textos e imagens de educadores pesquisadores.
Trazendo Andréa Hygino e Michele Zgiet na curadoria educativa, o programa terá como conceito "a roda e o giro enquanto práticas de constituição comunitária", de acordo com a organização. "O projeto visa estabelecer a Bienal como um tempo-espaço de aprendizagem e reflexão", além de expandir "a experiência de arte aprofundada e acessível para todos os públicos", acrescenta a nota.
Também com o objetivo que a megamostra reverbere além das exposições, a Bienal terá pela primeira vez uma curadoria de Programas Públicos — assinada por Anna Mattos e Marina Feldens. O projeto abrange uma série de atividades em diferentes centros culturais, museus e espaços públicos da Capital, por meio de palestras, eventos, exibições de filmes, festas, saídas de campo, oficinas e mais.
A 14ª Bienal do Mercosul também organizará duas publicações. A primeira será lançada na abertura do evento e será composta por ensaios e textos literários de autores como o escritor gaúcho José Falero, a neurocientista Andrea Gómez, o físico quântico Iordanis Kerenidis, o escritor Karim Kattan e a artista e DJ Hannah Catherine Jones. Segundo a organização, o objetivo é "trazer para a conversa reflexões que se relacionam com as abordagens conceituais da edição".
A segunda publicação será o catálogo, que deve sair no final da Bienal. As duas publicações serão gratuitas e estarão disponíveis em formato digital no site da Bienal do Mercosul.
Locais da 14ª Bienal do Mercosul
- Cinemateca Capitólio
- Casa de Cultura Mario Quintana
- Espaço Força e Luz
- Estação Cidadania Lomba do Pinheiro
- Estação Cidadania Restinga
- Farol Santander
- Fundação Ecarta
- Fundação Iberê Camargo
- Fundação Vera Chaves Barcellos
- Goethe-Institut Porto Alegre
- Instituto Ling
- Museu de Arte Contemporânea do Rio Grande do Sul (MACRS)
- Museu de Arte do Rio Grande do Sul (MARGS)
- Museu da Cultura Hip Hop RS
- Museu do Trabalho
- Pop Center
- Usina do Gasômetro
- Vila Flores
Lista de artistas da Bienal do Mercosul
- Ad Minoliti (Argentina, 1980)*
- Alanis Obomsawin (Abenaki/Canadá, 1932)
- Ali Eyal (Iraque, 1994)*
- Amol K. Patil (Índia, 1987)*
- Awilda Sterling-Duprey (Porto Rico, 1947)*
- Berenice Olmedo (México, 1987)*
- biarritzzz (Brasil, 1994)*
- Bonikta (Brasil, 1996)*
- Chico Machado (Brasil, 1964)*
- Christine Sun Kim (Estados Unidos, 1980)*
- Claudia Alarcón (Wichi/Argentina, 1989)*
- Claudio Goulart (Brasil, 1954-2005)
- Cornelius Cardew (Inglaterra, 1936-1981)
- Damián Ayma Zepita (Aymara/Bolívia, 1921-1999)
- Darks Miranda (Brasil, 1985)*
- Diedrick Brackens (Estados Unidos, 1989)
- Djalma do Alegrete (Brasil, 1931-1994)
- Eduardo Montelli (Brasil, 1989)*
- Emilija Škarnulytė (Lituânia, 1987)
- Erick Peres (Brasil, 1994)*
- Farah Al Qasimi (Emirados Árabes Unidos, 1991)
- Fátima Rodrigo (Peru, 1987)*
- Felipe Rezende (Brasil, 1994)*
- Felipe Veeck (Brasil, 1996)*
- Firas Shehadeh (Palestina, 1988)*
- Freddy Mamani (Aymara/Bolívia, 1971)*
- Froiid (Brasil, 1986)*
- Fyerool Darma (Singapura, 1987)*
- Heitor dos Prazeres (Brasil, 1898-1966)
- Gabriel Chaile (Argentina, 1985)*
- Gretchen Bender (Estados Unidos, 1951-2004)
- Iberê Camargo (Brasil, 1914-1994)
- Ismael Monticelli (Brasil, 1987)*
- Jacolby Satterwhite (Estados Unidos, 1986)
- José Ballivián (Bolívia, 1975)*
- Julia Isídrez (Paraguai, 1967)*
- Kira Xonorika (Guarani/Paraguai, 1995)*
- Laryssa Machada (Brasil, 1993)
- Letícia Lopes (Brasil, 1988)*
- Lorenzo Beust (Brasil, 1997)*
- Marcus Deusdedit (Brasil, 1997)*
- Marina Rheingantz (Brasil, 1983)
- Mauro Fuke (Brasil, 1961)*
- Maya Weishof (Brasil, 1993)*
- Minia Biabiany (Guadalupe, 1988)*
- Nam June Paik (Coréia do Sul, 1932-2006)
- Natasha Tontey (Indonésia, 1989)
- Nereyda López (Cocama/Tikuna/Peru, 1965)
- New Red Order (Ojibway e Tlingit/Estados Unidos, 2016)
- Nicole L'Huillier (Chile, 1988)*
- Nikita Gale (Estados Unidos, 1983)
- Ogwa (Ishir/Paraguai, 1937-2008)
- Özgür Kar (Turquia, 1992)
- Paul Mpagi Sepuya (Estados Unidos, 1982)
- Randolpho Lamonier (Brasil, 1988)*
- Retratistas do Morro/Afonso Pimenta (Brasil, 1954)*
- Rochelle Costi (Brasil, 1961-2022)
- Rodrigo Cass (Brasil, 1983)*
- Samson Young (Hong Kong, 1979)
- Sandra Vásquez de La Horra (Chile, 1967)*
- Santiago Yahuarcani (Cocama/Uitoto/Peru, 1960)
- Sara Modiano (Colômbia, 1951-2010)
- Taiki Sakpisit (Tailândia, 1975)
- Tang Han (China, 1989)*
- Tirzo Martha (Curaçao, 1965)*
- Ulises Beisso (Uruguai, 1958-1996)
- Urmeer (México, 1991)*
- Valerie Brathwaite (Trinidad & Tobago, 1940)*
- Venuca Evanán (Peru, 1987)*
- Vitória Cribb (Brasil, 1996)*
- William Gutiérrez Peñaloza (Colômbia, 1959)*
- Wiki Pirela (Venezuela, 1992)*
- Yi-Fan Li (Taiwan, 1989)
- Yong Xiang Li (China, 1991)*
- Yunchul Kim (Coréia do Sul, 1970)
- Zé Carlos Garcia (Brasil, 1973)*
*Artistas apresentarão trabalhos comissionados.