Ser patrono da Feira do Livro de Porto Alegre vai além de simplesmente ser homenageado pelo maior evento literário do Rio Grande do Sul. Significa cumprir uma agenda intensa de atividades na Praça da Alfândega, participando de debates, entrevistas, sessões de lançamento de livros, mostrando sua cara para o público.
Essa presença constante e quase diária durante os 15 a 20 dias de programação passou a existir quando Luiz Antonio de Assis Brasil assumiu o patronato em 1997, na 43ª edição do evento. Ele tinha 52 anos.
— Eu era bem mais jovem e não sabia que estava criando uma tradição de estar presente todos os dias. Deu certo, porque, a partir daquele momento, os patronos estão sempre lá. Acho importante estar presente com o público da Feira. Faz parte do cargo — diz Assis.
E ser patrono depois dos 80 anos, como aconteceu com os últimos três escritores eleitos? O poeta Carlos Nejar tinha 83 quando atendeu ao chamado da Câmara Rio-grandense do Livro (CRL), em 2022. Foi à Praça todos os dias, e ainda não tinha uma rotina de exercícios como agora, aos 85, quando faz atividades físicas três vezes por semana.
— Não é porque estamos na terceira idade que estamos incompetentes. É o contrário. Há uma ideia curiosa no Brasil, de um certo desprezo pela velhice. Eu continuo criando, escrevendo, publicando. Poucos escritores têm publicado tantos livros quanto eu, e, aliás, com rigor, com exigência. Eu trabalho e escrevo inclusive nas madrugadas. Temos que deixar de ver a velhice como fim da pessoa. Não é a idade que prende, é o espírito, e o espírito não tem idade — diz o poeta, que mora no Rio de Janeiro.
Tabajara Ruas tinha 81 anos quando exerceu a função de patrono, em 2023, na 69ª edição da Feira do Livro. Há 30 anos com lar fixo em Florianópolis, o escritor e cineasta optou por ficar alojado próximo à Praça da Alfândega para facilitar sua locomoção diária até o evento.
— Fui todos os dias, estava sempre por ali, sem maiores dificuldades. O pessoal que trabalhava na Feira era muito atencioso e tinha tudo pronto para que eu pudesse me mover e trabalhar. Eu ficava lá na Praça, caminhando, tomando cafezinho com o pessoal. Foi cansativo, mas nada que fosse muito exigente para uma pessoa da minha idade – diz Tabajara.
Eu continuo criando, escrevendo, publicando. Poucos escritores têm publicado tantos livros quanto eu — aliás, com rigor, com exigência.
CARLOS NEJAR, POETA, 85 ANOS
Aos 84 anos, o patrono desta 70ª edição, Sergio Faraco, diz que jogar sinuca regularmente faz com que esteja acostumado a ficar em pé durante algumas horas, resiliência que acaba contribuindo para os compromissos na Feira. Embora ninguém o tenha obrigado, ele marcou presença quase diária por vontade própria — em 20 dias de programação, apenas uma única vez ficou ausente na Praça da Alfândega, por motivos pessoais.
— Até agora fui à Feira todos os dias, com exceção de um. Fui porque quis, porque considerei que era apropriado dar entrevistas, tirar fotos com as pessoas que me procuram, autografar meus livros quando me pedem, conversar com as pessoas. Acho que isto é cumprir o papel que me atribuíram. Cansado eu estou, mas me refaço com uma noite de sono. Durmo muito bem. Como estou acostumado a ficar muitas horas em pé, em volta da mesa de snooker, o cansaço não é tão intenso.