Distribuir vales-livro aos estudantes de escolas públicas que visitam a Feira do Livro de Porto Alegre é uma das maiores ambições da Câmara Rio-grandense do Livro (CRL), que desde 1963 é responsável pela realização do evento. Com orçamento enxuto, a entidade só consegue pagar o transporte para que algumas instituições de ensino da Região Metropolitana possam ir à Praça da Alfândega. Neste ano, serão 250 turmas, abrangendo 10 mil alunos.
Mas eles sairão da Feira de mãos abanando, observa o presidente da CRL, Maximiliano Ledur. Em três anos à frente da entidade, ele diz já ter tentado fazer parcerias com as esferas municipal e estadual para conseguir verba específica para conceder o benefício aos estudantes. Um caso que serve de exemplo a Ledur é a Bienal Internacional do Livro de São Paulo, onde, graças ao repasse de dinheiro por parte da prefeitura da capital paulista, alunos da rede municipal recebem vouchers de R$ 60 para gastarem em livros vendidos no evento.
— Em Porto Alegre, nunca consegui implementar isso. É uma pena. Um dos papéis da Feira é levar os alunos para o evento. Há um projeto muito importante do governo do Estado, chamado Adote um Escritor, que leva escritores para as escolas, e isso funciona muito bem. Porém, o incentivo à leitura seria muito maior se a Feira distribuísse vales-livro aos estudantes. Além de movimentar o mercado editorial, permitir que o jovem escolha o livro que quiser ler é muito bacana — diz Ledur.
Em 2023, a Secretaria de Estado da Cultura (Sedac) fez um repasse pontual de R$ 30 mil para que a Câmara distribuísse vales-livro no valor de R$ 30 para alguns estudantes. Foram contemplados cerca de mil jovens, entre eles alunos do professor Micael Rodrigues de Freitas, que leciona Português e Artes na Escola Estadual de Ensino Fundamental Dr. Victor Hugo Ludwig, em Canoas. Anualmente, Micael leva os estudantes à Feira do Livro de Porto Alegre para ouvirem palestras de escritores, com transporte pago pela CRL. Neste ano, não receberão vales-livro.
— Naquele ano os meus alunos receberam R$ 30, o que dá para comprar um livro de valor não muito alto. Os livreiros até baixaram um pouco o valor, fizeram essa gentileza, porque R$ 30 é um valor realmente pequeno. Como professor de Português e formador de leitores, acho interessante que o benefício seja dado de forma constante e correta. Meus alunos não têm recursos próprios para adquirir livros. Eles vão à Feira, se interessam pelo autor, fazem perguntas, mas, infelizmente, não adquirem livros, porque não têm condições — diz o docente.
Para a Feira do Livro de São Leopoldo, a prefeitura do município do Vale do Sinos instituiu, em 2022, o programa São Léo Mais Livros, que prevê em lei municipal a distribuição de vales-livro a estudantes de escolas públicas municipais, professores, secretários de escolas e outros funcionários. A lei prevê que o benefício seja concedido todos os anos, sempre que houver orçamento disponível. Na edição deste ano, foram entregues 30 mil vouchers no valor de R$ 60 cada. Coordenadora do programa São Léo Mais Livros, Renata Garcia Marques diz que a prefeitura investiu R$ 1,8 milhão no benefício.
— O vale-livro só pode ser usado para a compra de livros que integram a curadoria literária qualificada do edital da Feira do Livro de São Leopoldo, com indicação de mais de 500 autores —explica.
A Secretaria de Estado da Cultura informou que, por meio da Lei de Incentivo à Cultura (LIC-RS), foram repassados R$ 700 mil para a Câmara Rio-grandense do Livro realizar a 70ª Feira do Livro de Porto Alegre, e que o valor foi destinado a atividades culturais e literárias e para a montagem de estruturas. "Este ano, em virtude do incentivo fiscal autorizado pela Sedac, a Câmara Rio-Grandense do Livro optou por direcionar os recursos para outros fins que entendeu mais adequados, respeitando o que está previsto no projeto aprovado", explicou, em comunicado enviado à reportagem.
Já a Secretaria Municipal de Educação de Porto Alegre informou, em nota, que nunca teve programa específico de compra e distribuição de vales-livro para estudantes que visitam a Feira do Livro de Porto Alegre, mas "não descarta a possibilidade de desenvolver iniciativas nesse sentido através da Equipe de Bibliotecas Escolares".