No último final de semana, a 70ª Feira do Livro de Porto Alegre recebeu o autor argentino Santiago Craig, que é autor do livro Animais (Editora Rua do Sabão). Com o público, ele discutiu os novos rumos da ficção sul-americana e abriu as portas para a participação de escritores da região nesta edição do tradicional evento literário.
Nos próximos dias, outros nomes de autores vizinhos estão confirmados na programação: o uruguaio Pablo Silva Olazábal, no sábado (9), os argentinos Claudia Piñeiro, no domingo (10), Dolores Reyes, no dia 15, e Fabián Restivo, no dia 16 — além disso, dentro do cenário latino-americano, ainda no próximo sábado, o mexicano Eduardo Langagne.
Esse é um movimento da Feira do Livro de Porto Alegre para estreitar os laços dos leitores da Capital com importantes nomes da literatura que estão próximos geograficamente, mas, ainda assim, encontram dificuldades para ocupar as prateleiras das lojas do setor. Para a coordenadora da programação adulta, Sandra La Porta, esse distanciamento é surpreendente.
— Buenos Aires é mais perto do que Salvador, do que o Rio de Janeiro, e a gente pouco sabe do que acontece por lá em questão de literatura. Sabe muito pouco. E eles têm uma produção incrível, os argentinos. É uma falta de interesse. Isso está mudando um pouquinho, muito ligado à literatura do horror cotidiano, puxado, principalmente, por autoras mulheres — comenta Sandra, que busca levar para a Feira, anualmente, pelo menos dois ou três nomes latinos para interagirem com o público.
O argentino Miguel Gómez é proprietário da livraria Calle Corrientes, que fica na Rua Uruguai, no centro da Capital, e expõe na Feira há 28 anos. O livreiro, que entende ser uma referência na área da literatura em castelhano em Porto Alegre, celebra a iniciativa da Câmara Rio-Grandense do Livro de valorizar os autores latinos.
— São países vizinhos e, por isso, têm uma história e uma cultura em comum. Especialmente aqui no sul do Brasil, em que o gaúcho rio-grandense tem uma cultura compartilhada com o uruguaio, o argentino e, também, com o paraguaio. Temos uma história em comum com a região missioneira, com participação dos jesuítas. Então, tem uma familiaridade muito grande que, mais ao norte do Brasil, não tem tanta — salienta Gómez.
Pátria Grande
Trazer esses nomes de fora, em um primeiro momento, pode parecer um investimento alto, principalmente em um ano em que a Feira do Livro de Porto Alegre enfrentou desafios para conseguir completar a verba necessária para a execução do evento. No entanto, Sandra La Porta reforça que esses autores que vêm de outros países — inclusive, de fora da América Latina, como Portugal, Luxemburgo, Suécia e Jordânia — contam com uma rede de apoio que viabiliza a vinda para a Capital.
— É uma colcha de retalhos que a gente vai fazendo. São anos de relação com instituições culturais e embaixadas e é por meio dessas parcerias que gente consegue trazer autores internacionais. Geralmente, os parceiros assumem as passagens e a gente assume as despesas, como hospedagem, alimentação e tradução. Então, vamos dividindo esses custos e trazendo autores que é de interesse tanto dos institutos e embaixadas quanto da Feira — explica a coordenadora.
De acordo com ela, ainda, tem a questão de editoras associadas à Câmara Rio-Grandense do Livro, que publicam esses autores internacionais no Brasil e contribuem para que eles participem do evento. Então, segundo Sandra, é um "mutirão" que é trabalhado constantemente e facilitado pelos seus 24 anos de serviços prestados à Feira do Livro de Porto Alegre.
Um desses casos de editora gaúcha que publica autor internacional é a Coragem, que está lançando por aqui o Palavras Para Depois: Conversas com Pepe Mujica, o que impulsionou a vinda do autor, Fabián Restivo, para a Capital. Para o dono da Calle Corrientes, isso é uma grande vitrine.
— No momento, o livro de Fabián Restivo, Palavras Para Depois, está saindo muito e, na minha banca, é o mais vendido — ressalta Gómez. — É uma cultura compartilhada e, por isso, é muito importante que conheçamos os autores do Rio da Prata, mas, também, do restante da América Latina. Somos, na verdade, a famosa Pátria Grande. A América Latina é uma só. E isso contribui muito a divulgação.
Programação da Feira do Livro com os latinos
- Pablo Silva Olazábal (Uruguai) - 9 de novembro
O autor de Conversas com Mario Levero (Editora Coragem), em conversa com Andrea Barrios e Luís Augusto Fischer, compartilha com leitores e escritores o que aprendeu durante quatro anos de correspondência eletrônica, em conversa pessoal com o escritor Mario Levrero.
O encontro se dará às 16h, na sala O Retrato, no Espaço Força e Luz (Rua dos Andradas, 1223). Mais tarde, às 17h, ele assina o seu livro na Praça de Autógrafos.
- Eduardo Langagne (México) - 9 de novembro
A partir das 16h, o autor mexicano estará no Auditório Barbosa Lessa, que fica no Espaço Força e Luz, para conversa com Leonardo Garzaro e Benhur Bortolotto sobre seu mais recente livro de poemas, A Mesa do Escriba (Editora Rua do Sabão). Depois, às 18h, ele assina o livro na Praça de Autógrafos, na Praça da Alfândega.
- Claudia Piñeiro (Argentina) - 10 de novembro
A escritora argentina, autora de Catedrais (Editora Primavera), estará no Auditório Barbosa Lessa, no Espaço Força e Luz, a partir das 17h30min para um bate-papo com mediação de Lu Thomé sobre os mistérios e as intrigas que permeiam suas narrativas. Logo após, às 19h, ela encontra com os seus leitores na Praça de Autógrafos.
- Dolores Reyes (Argentina) - 15 de novembro
A autora argentina se reúne com Verena Cavalcante e Irka Barrios para uma conversa sobre suas obras e o impacto do horror no cotidiano, na qual vão abordar questões sociais, políticas e íntimas. O bate-papo ocorre no Auditório Barbosa Lessa, no Espaço Força e Luz, às 15h30min. Já às 17h, Dolores estará na Praça de Autógrafos assinando o livro Cometerra (Editora Moinhos).
- Fabián Restivo (Argentina) - 16 de novembro
Às 15h30min, o autor participará de um debate, no Auditório Barbosa Lessa, no Espaço Força e Luz, ao lado de Olívio Dutra e Rogério Tomaz Jr., sobre os 10 dias de conversas e testemunhos entre Fabián Restivo e Pepe Mujica. O resultado do encontro do jornalista argentino com o ex-presidente uruguaio foi o livro Palavras Para Depois: Conversas com Pepe Mujica (Editora Coragem), o qual ele assinará na Praça de Autógrafos, às 17h.