Manifestantes de grupos como Movimento Brasil Livre (MBL), Liga Cristã e Templários da Pátria participam no Parque Lage, no Rio de Janeiro, de protesto contra a exposição Queermuseu: Cartografias da Diferença na Arte Brasileira. A exposição foi aberta neste sábado (18), depois de um percurso marcado por incidentes.
Em 2017, após manifestações, a mostra foi cancelada no Santander Cultural, em Porto Alegre. Depois, foi barrada no Museu de Arte do Rio (MAR), pelo prefeito Marcelo Crivella (PRB), e mobilizou a classe artística da cidade em torno de uma iniciativa de financiamento coletivo.
Apesar da presença dos cerca de 40 manifestantes e de ativistas que defendem a mostra, não houve reforço na segurança do local. Segundo o comando do 23º BPM (Leblon), policiais estão na área em patrulhamento.
A PM não informou qual é o efetivo empregado. A segurança dentro do Parque Lage é privada. De acordo com a organização do evento, são cerca de 20 homens. Até o início da tarde, não havia ocorrido incidentes.
O publicitário Marlom Aymes, do Templários da Pátria, disse estar no Parque Lage para "proteger" os manifestantes contrários à mostra. Conforme o homem, o grupo foi criado há cerca de quatro meses para cuidar da segurança "contra os ataques da esquerda nas manifestações".
— Não estamos contra as pautas LGBT, mas contra algumas obras da exposição que incentivam a pedofilia, pregam o vilipêndio religioso — declarou. — O Templários é um grupo de segurança. Não podemos pregar a violência, mas, se houver, precisamos nos defender — acrescentou.
Candidata a deputada estadual pelo PSOL, Carol Quintana bateu boca com vários manifestantes, mas afirmou não temer violência:
— Tem muita mídia. Eles estão contidos e controlados. Não podemos ser silenciados por esse tipo de manifestação.
O diretor da Escola de Artes Visuais (EAV) Parque Lage, Fábio Szwarcwald, mencionou que as manifestações já eram esperadas e, dentro dos limites da liberdade de expressão, fazem parte da democracia. Segundo ele, além dos agentes do Parque Lage, a exposição conta com uma equipe de segurança privada extra e câmeras de segurança.
Para curador, abertura da exposição é uma "vitória"
A 1ª Vara da Infância, da Juventude e do Idoso do Rio de Janeiro proibiu a entrada de menores de 14 anos de idade na mostra. Na cerimônia de abertura, o curador Gaudêncio Fidelis acusou o MBL de criar uma farsa contra o evento. Segundo ele, por trás das manifestações, "reside um movimento obscurantista com pretensões eleitorais".
— É uma investida fascista e fundamentalista, que cresce no país e ameaça as liberdades. A abertura (da exposição) é uma das maiores derrotas para o fascismo — definiu Fidelis.
Para ele, o legado da Queermuseu é reabrir o debate, que foi negado pelo cancelamento da mostra em Porto Alegre.
— Impedir o acesso ao conhecimento não é uma alternativa. Só os covardes fazem isso — criticou. — Diante da censura, não cabia outra coisa se não acreditar que o futuro reservava para nós essa vitória — emendou.
De acordo com o curador, a exposição ficará no Rio por um mês, período correspondente ao tempo em que ficou fechada na capital gaúcha. Até este sábado, ele não recebeu convites para levá-la a outras cidades.
— O Rio de Janeiro está de parabéns, porque, historicamente, sempre esteve à frente dos movimentos de vanguarda e representa bem a diversidade. Mas essa não é uma vitória apenas para o Rio. É uma vitória para toda a sociedade brasileira — pontou Fidelis.
Acompanhado pelos dois filhos menores de 14 anos, que estiveram na cerimônia, mas não puderam entrar na exposição devido à decisão judicial, o diretor Szwarcwald avaliou que a mostra reafirma o comprometimento com a liberdade de expressão.
— O prefeito disse que a exposição aconteceria no fundo do mar — lembrou. — Não estamos em Atlântida (continente mitológico, que teria sido tragado pelo oceano). E ela vai acontecer aqui — concluiu.