Num momento em que a visibilidade LGBT aumenta na sociedade e na cultura, também a arte olha para sua história e busca fazer uma revisão das obras e artistas marginalizados. A exposição Queermuseu – Cartografias da Diferença na Arte Brasileira, que será inaugurada hoje no Santander Cultural, pretende se inserir nesse movimento, reunindo obras que tratam da expressão de gênero e da diferença.
Leia mais:
FOTOS: veja imagens da exposição "Queermuseu", que discute a diversidade nas artes visuais
Curador explica como será o "Queermuseu", nova exposição no Santander Cultural
Artistas LGBT conquistam espaços e trazem debate sobre gênero para a linha de frente da produção cultural
Outras notícias de artes visuais
A exposição, apresentada na manhã desta segunda-feira à imprensa, é uma oportunidade para conferir importantes obras da arte contemporânea, como Experiência nº 3 – New Look – Traje do Novo Homem dos Trópicos (1956), de Flávio de Carvalho, e O Eu e o Tu (1967 – 2015), de Lygia Clark. Trabalhos com essas assinaturas são dispostos ao lado de nomes menos conhecidos, uma estratégia para quebrar as hierarquias do sistema de arte usada frequentemente pelo curador da exposição, Gaudêncio Fidelis, que foi curador-chefe da 10ª Bienal do Mercosul, em 2015, e, antes disso, diretor do Margs entre 2011 e 2014.
A mostra ocupa todo o térreo da instituição com cerca de 270 obras de 85 artistas em suportes como pintura, gravura, fotografia, serigrafia, desenho, colagem, cerâmica, escultura e vídeo emprestadas por coleções públicas e privadas brasileiras. Se, por um lado, a sexualidade é tratada de maneira evidente nas obras de Hudinilson Jr., Alair Gomes, Milton Kurtz, Rogério Nazari e Mário Röhnelt, o mesmo não pode ser dito dos trabalhos que os fazem companhia, como obras abstratas (Desenhos Gestuais, 1962, de Montez Magno, é um exemplo) e criações de épocas nas quais as questões LGBT sequer eram abarcadas por essa sigla, como Mulher Tomando Chimarrão (1925), de Guttmann Bicho, e Busto de Jovem, pintado por Pedro Américo em 1889. A exposição é permeada por esses encontros entre obras do início do século 20 e outras mais recentes – chama a atenção no saguão uma grande pintura de Cândido Portinari (Retrato de Rodolfo Jozetti, 1928) que foi colocada ao lado de uma de Fernando Baril (O Halterofilista, 1989).
A mostra propõe ainda uma reflexão sobre o caráter patriarcal e heteronormativo dos museus. Batizando-a de Queermuseu, o curador pretende transformar o Santander em um espaço ficcional onde a ordem é refletir sobre a expressão de gênero e construir um conjunto de obras mais inclusivo que os acervos de museus tradicionais.
– A gente acredita que a diferença é a fonte da criatividade – afirma o superintendente executivo da Rede Sul do Santander, Paulo Silva.
Fidelis complementa:
– O prédio se transforma a partir dessa nomeação (Queermuseu). No dia em que colocamos o anúncio da exposição na frente do Santander Cultural, foi um momento simbólico.
Segundo o curador, esta é a quarta exposição de grande porte em um museu a se intitular "queer" em todo o mundo. Fidelis a coloca entre mostras como Hide/Seek: Difference and Desire in American Portraiture, realizada em 2010 pela National Portrait Gallery da instituição Smithsonian, em Washington; Ars Homo Erotica, do Museu Nacional da Polônia, em Varsóvia, 2010; e a Queer British Art (1861 – 1967), atualmente em cartaz na Tate Britain, em Londres.
Queermuseu – Cartografias da Diferença na Arte Brasileira
Exposição comabertura terça-feira (15/8), às 19h, para convidados.
Santander Cultural (Rua Sete de Setembro, 1.028, no Centro Histórico, em Porto Alegre), fone (51) 3287-5500.
Visitação de terça a sexta-feira, das 10h às 19h, sábados e domingos, das 11h às 19h, a partir de amanhã até 8 de outubro. Entrada franca.
A exposição: explora a diversidade de expressão de gênero e questiona a formação do cânone artístico. Conta com cerca de 270 obras de 85 artistas datadas de meados do século 20 até a atualidade, realizadas em vários suportes, como pintura, gravura, fotografia, serigrafia, desenho, colagem, cerâmica, escultura e vídeo. A curadoria é de Gaudêncio Fidelis.
QUEER CINEMA
O Cine Santander também apresenta até 30 de agosto uma mostra com 22 longas-metragens e uma minissérie de TV sobre o universo queer. O ingresso tem valor único de R$ 4. Entre os destaques da programação, estão as seguintes sessões comentadas:
Sexta (18/8), às 19h – Lampião da Esquina (2016), de Lívia Perez. Documentário sobre o jornal homônimo que foi pioneiro no Brasil na veiculação de temas homossexuais. Com 37 edições publicadas entre 1978 e 1981, teve como principais idealizadores o jornalista Aguinaldo Silva (hoje um renomado autor de novelas) e o escritor João Silvério Trevisan. Sessão comentada com presença da diretora Lívia Perez e do produtor Giovanni Francischelli.
Sábado (19/8), às 19h – Me Chame de Marianna (2015), de Karolina Bielawska.
Documentário polonês sobre mulher de 40 anos que cumpre batalha familiar e legal para fazer cirurgia de mudança de sexo. Sessão comentada com presença da pesquisadora e militante do movimento trans e feminista Sophia Starosta.
25/8, às 19h – Pária (2011), de Dee Rees.
Drama americano sobre uma adolescente do Brooklyn em conflito com sua identidade sexual. Comentários da artista visual Livia Pasqual.