Somam-se oito meses desde que a exposição Queermuseu – cartografias da diferença na arte foi cancelada. Na época, grupos contrário às obras de temática LGBT organizaram pelas redes sociais um boicote ao Santander Cultural, que sediava a mostra. Movimentos expressivos politicamente, como o MBL, encabeçaram as manifestações, que resultaram no cancelamento da exposição, sem previsão de reabertura. Há alguns meses, porém, um grupo de artistas se reuniu para lançar um crowdfunding em prol da reabertura do Queermuseu na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no Rio de Janeiro. A iniciativa contou com apoio de mais de 70 artistas, que doaram obras para um leilão chamado Queremos Queer. Caetano Veloso também entrou na campanha, promovendo um show beneficente para ajudar o crowdfunding. Nesta terça-feira (26), a meta de R$ 690 mil foi alcançada e o curador da mostra, Gaudêncio Fidelis, garantiu a reabertura da exposição:
"A campanha de financiamento da Queermuseu acaba de ultrapassar a meta de arrecadação, garantindo a reabertura desta extraordinária exposição que inaugurou no centro da sociedade brasileira um profundo debate sobre gênero e sexualidade. (...) O estrondoso sucesso dessa campanha se deve à força de mobilização daquelas parcelas mais progressistas da sociedade brasileira que disseram não à censura, ao fascismo e ao autoritarismo que impediu o acesso ao conhecimento pela arte. A exposição reabrirá para o Brasil!", garante Fidelis a em nota enviada a GauchaZH.
Houve tentativas anteriores de reabertura do Queermuseu. Em outubro do ano passado, o Museu de Arte do Rio de Janeiro (MAR) estava em negociações com Gaudêncio para a transferência da exposição. No entanto, o próprio prefeito da cidade do Rio, Marcelo Crivella, barrou essa possibilidade ao vetar a presença da mostra:
— Saiu no jornal que vai ser no MAR. Só se for no fundo do mar — disse em tom de chacota o bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus em um vídeo publicado no Facebook, no qual pergunta a cinco pessoas se querem uma “exposição de pedofilia e zoofilia”. Todos respondem negativamente.
Segundo a nota de Gaudêncio Fidelis, a exposição foi "concebida para irradiar o conhecimento avançado capaz de abrir o diálogo sobre a diversidade, sobre expressão e identidade de gênero e sobre a diferença. "Queermuseu – cartografias da diferença na arte pode ser considerada a plataforma curatorial mais popular e de maior penetração que nosso país já presenciou", diz a nota enviada pelo curador.
Apesar da meta já ter sido atingida, o crowdfunding continua disponível ainda por mais três dias para ampliação do projeto:
"Continuamos agora com dois três dias intensos de campanha, para ampliar o projeto educativo da exposição, possibilitando um acesso muito mais amplo ao público, que extrapole as fronteiras da liberdade e faça frente ao obscurantismo que tentou, mas não conseguiu, impedir que o conhecimento chegasse ao vasto território da liberdade de expressão", afirma Gaudêncio Fidelis em nota.
Até as 17h54 desta segunda-feira (26), a campanha de financiamento coletivo lançada pela Escola de Artes Visuais, do Parque Lage, no Rio, para montar a exposição havia arrecadado R$ 724.547 - a meta inicial era de R$ 690 mil.