Exatamente um ano após a inauguração da exposição Queermuseu – Cartografias da Diferença na Arte Brasileira, em 15 de agosto de 2017, o Santander Cultural abre nesta terça-feira as portas de Etnos – Faces da Diversidade. A nova mostra pouco lembra a polêmica que abalou a instituição no ano passado, após protestos que levaram ao encerramento antecipado da sua visitação. No entanto, a palavra "diversidade" no título indica que esta seria a primeira exposição que o Santander havia se comprometido a realizar em um termo de compromisso firmado com o Ministério Público Federal, o que foi confirmado verbalmente pela assessoria de imprensa do banco quando a mostra foi apresentada à imprensa no Santander Cultural, na segunda-feira (13/8).
O termo foi assinado em 9 de janeiro de 2018 pelo procurador da República Enrico Rodrigues de Freitas e pelo diretor presidente do Santander Cultural, Marcos Madureira. Determina que a primeira mostra deveria abordar "diversidade e intolerância" e a segunda, o empoderamento das mulheres. Em caso de descumprimento, o Santander Cultural ficaria sujeito a uma multa no valor de R$ 800 mil. A realização das duas novas exposições foi proposta pelo Ministério Público após este concluir que as obras de Queermuseu não tinham "nenhuma apologia ou incentivo à pedofilia" e recomendar a reabertura da exposição – o que não foi acatado pelo braço cultural do banco.
No entanto, a diversidade que Queermuseu colocava em discussão dizia respeito à sexualidade e questões de gênero. Em Etnos, a reunião de cerca de 160 máscaras de diferentes países e culturas coloca ênfase na diversidade étnica.
– Acho que a exposição faz parte do acordo do Santander, mas não foi por isso que eu a fiz. Apresentei ela para o Santander há mais ou menos um ano (antes da polêmica da Queermuseu estourar). Mas acho que ela cabe porque celebra a ideia de diversidade como se deseja fazer – afirmou o curador de Etnos, Marcello Dantas.
O termo de compromisso diz que a mostra "tratará da temática da intolerância, dividida em quatro eixos: gênero e orientação sexual, étnicas e de raça, liberdade de expressão e outras formas de intolerância através dos tempos". Questionada sobre a ausência desses eixos, a assessoria de imprensa do Santander Cultural afirmou que a proposta da exposição foi enviada ao MPF e não recebeu ressalvas:
– A exposição foi apresentada ao MPF, não havendo nenhuma manifestação contrária – escreveu, por e-mail, Clau Duarte, superintendente executiva de comunicação do Santander. – Temos um compromisso com o MPF de realizar duas novas exposições, uma em 2018 e outra em 2019. Etnos tem como propósito abordar a diversidade de etnias. Em 2019 traremos a outra exposição.
Procurado por Zero Hora, o procurador Enrico Rodrigues de Freitas disse:
– A mostra (Etnos) foi apresentada durante as reuniões para a formalização do termo de compromisso e foi descartada. Novamente, na semana passada, essa ideia foi apresentada, mas ela não atende aos termos do acordo. Esta não faz parte daquele compromisso, mas das atividades normais do Santander. Isso foi um equívoco.
A opinião contradiz o que Clau Duarte havia afirmado a ZH por e-mail:
– Esta exposição não estava no calendário de mostras do Santander Cultural. Dentre as diversas propostas que estávamos analisando, uma delas era a Etnos, que nos foi trazida por Marcello Dantas. Consideramos que ela, além de preencher a qualidade exigida pelo Santander Cultural, estava totalmente em sintonia com as diretrizes solicitadas pelo MPF.
Procurada novamente por Zero Hora, a executiva do Santander não deixou claro se Etnos integraria o termo de compromisso firmado com o MPF e afirmou que o Santander realizaria outras duas mostras.