Prestes a completar 220 anos, a Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, hoje considerada um dos mais modernos complexos hospitalares do país, foi o primeiro hospital do Rio Grande do Sul. A data de sua fundação é 19 de outubro de 1803, cerca de seis décadas depois do início do povoamento da Capital, na década de 1740. Sobre esse período, é comum um questionamento: afinal, quem cuidava dos doentes em Porto Alegre antes de 1803?
Na antiga Rua dos Pecados Mortais (atual Rua Bento Martins), residia um açoriano, ao que tudo indica, originário da ilha do Faial/Açores, chamado José Antonio da Silva, conhecido pelo apelido de “Nabos a doze”.
Ele acolhia em sua casa os doentes necessitados e também distribuía sopa aos domingos, cuidando inclusive dos presos. Após seu falecimento, sua vizinha da mesma rua, conhecida como “Angela Reiuna”, passou igualmente a albergar necessitados.
Segundo cronistas da época, outro açoriano, Antônio José da Silva Flores, proveniente da Ilha das Flores, juntamente ao procurador da Câmara, Luiz Antônio da Silva, teria aberto uma enfermaria para acudir os desvalidos do povoado em crescimento.
O referido procurador aparece na documentação como um dos primeiros a compor a Irmandade da Santa Casa, já no século 19, quando Porto Alegre passou a ter a sua Misericórdia, com suas duas primeiras enfermarias inauguradas no dia 1º de janeiro de 1826. Iniciava-se, então, um novo tempo para socorrer os pobres nas suas diferentes necessidades: na doença, na morte, na alienação mental, na velhice e no abandono infantil, além dos presos e escravos, como também os imigrantes europeus adoecidos, antes de partirem para as colônias de destino - atribuições da Misericórdia nos seus primórdios até o início do século 20.