Hora do Bicho foi um programa de calouros que ia ao ar aos domingos, entre os anos de 1937 e 1953, pela Rádio Difusora (PRF-9), das 11h às 12h, com a apresentação de Piratini, um radialista que se destacava, então, pela sua veia humorística. A atração contava com 16 pessoas que participavam do concurso, no qual esses mesmos concorrentes eram desclassificados se não correspondessem ao esperado. Quando isso acontecia, Piratini usava um bombo para anunciar a saída do candidato.
Logo após a sua estreia, o programa começou a ter uma enorme audiência, com o auditório da Difusora totalmente lotado para que a plateia assistisse ao apresentador, a seu conjunto regional e aos candidatos. Em 1944, devido ao grande número de espectadores, o programa foi transferido para o Cinema Rex. Nessa época, o horário também foi ampliado, iniciando-se, no mesmo dia da semana, às 10h.
Os melhores candidatos recebiam uma coroa, que lhes dava direito a um trono no palco, até que fossem superados por outros concorrentes ou obtivessem o prêmio final. Além de cantores e cantoras, também concorriam músicos e locutores. Os vencedores ganhavam 50 cruzeiros, ofertados pelo Café Carioca, Drogaria Mueller, Homero “o camiseiro” e A Moda e a Casa dos Militares.
Um dos quadros do programa se chamava Hora do Assado, ocasião em que era distribuído um suculento assado, ofertado pelos Vinhos Petronius. A partir de 1945, o programa passou a ser apresentado por Ivan Castro. Baseado no sucesso da Hora do Bicho, foi criado na mesma emissora o programa O Dobro ou Nada, também conduzido por Piratini, que consistia em uma série de perguntas e respostas e prometia uma vultosa quantia em dinheiro aos vencedores e contava com o patrocínio dos comprimidos Melhoral. A Hora do Bicho foi o primeiro programa de calouros do RS.
Piratini era o nome artístico de Antônio Amabile, músico e humorista, que começou a sua carreira na Rádio Gaúcha contando anedotas, fazendo humor misturado com música regional. Além da atividade no rádio, ele também era dono de uma joalheria e proprietário de prédios na cidade, o que lhe garantia uma condição social bastante privilegiada. As atividades empresariais acabaram por afastá-lo do rádio, que lhe dera fama.
Uma grande contribuição sua foi a fundação da Casa do Artista Rio-Grandense, destinada a auxiliar músicos idosos, oferecendo, ainda hoje, moradia e ajuda a artistas gaúchos.
Antônio Amabile (1906-1953), ou Piratini, é referência na radiodifusão e foi um dos maiores animadores do rádio gaúcho.
Fonte: Livro “Grandes Momentos do Rádio Gaúcho” (Ed. Revolução Cultural, 2013), de Benedito Saldanha (1968-2020)