O texto a seguir sobre as medidas adotadas por Oswaldo Cruz para controlar as epidemias no Rio de Janeiro nos primeiros anos do século passado é uma colaboração do leitor Luiz Carlos Mello. Sobre este mesmo assunto, neste sábado (27), às 10h, na Livraria Erico Verissimo (Rua Jerônimo Coelho, 377), haverá uma palestra de Juvencio Saldanha Lemos, abordando sua obra As duas Revoltas que Abalaram o Rio de Janeiro nos primeiros anos do século 20. A entrada é franca.
“No ano de 1895, ao atracar no porto do Rio de Janeiro, o contratorpedeiro italiano Lombardia tinha sua tripulação, formada por 337 marinheiros, infectados pela febre amarela. Destes, 234 morreram pela doença. A peste se espalhou da capital do país. Em 1902, o paulista Rodrigo Alves recém havia sido empossado presidente da República. A situação da saúde era tão crítica que a capital da República estava infestada pela peste bubônica, febre amarela e varíola.
Rodrigo Alves se elegeu com um programa que consistia em dois pontos: modernizar o porto e remodelar a cidade. Mas a saúde era um problema maior. Portanto, teria que ser atacada com a maior urgência. Para isso, o presidente nomeia, então, dois assistentes com poderes quase ditatoriais: o engenheiro Pereira Passos, como prefeito, e o médico sanitarista Oswaldo Cruz. Oswaldo, filho de cariocas, nascido em São Luiz do Paraitinga, no interior de São Paulo, em 1872, assumiu o cargo de chefe da Diretoria de Saúde Pública em março de 1903 e prometeu ao presidente: ‘Deem-me liberdade de ação e eu exterminarei a febre amarela dentro de três anos’. Ele cumpriu o prometido. Naquele mesmo ano, 1903, começou a formar o Instituto Manguinhos, que mais tarde, em 1908, receberia o nome de Instituto Osvaldo Cruz.
A campanha do sanitarista contra a peste bubônica também teve êxito, mas o método de combate à febre amarela, que invadiu lares, interditou, despejou e internou à força, não foi bem sucedido. Foi batizada pela imprensa como ‘Código de Torturas’. As medidas desagradaram também alguns positivistas, que reclamavam da quebra dos direitos individuais.
Em 31 de outubro de 1903, o governo consegue aprovar a lei de vacinação. Redigido pelo próprio Oswaldo Cruz, o projeto de regulamentação sai cheio de medidas autoritárias. No dia seguinte, os jornais publicaram os termos. Começam as agitações no centro da cidade. No dia 16 de novembro, o governo revoga a obrigatoriedade da vacina, mas continuam os conflitos isolados nos bairros. Em 1904, cerca de 3,5 mil pessoas morreram de varíola. Dois anos depois, o número caiu para nove óbitos.
Em 1908, uma nova epidemia eleva as mortes para cerca de 6.550 casos, mas, em 1910, é registrada uma única vítima. A cidade estava reformada e livre da alcunha de ‘túmulo de estrangeiros’. Cerca de 15 tipos de moléstias faziam vítimas na capital brasileira no inicio do século 20. A peste bubônica, a febre amarela e a varíola, sarampo, tuberculose, escarlatina, coqueluche, tifo, lepra, entre outras. Para combater a peste bubônica, Oswaldo Cruz formou uma equipe especial de 50 homens vacinados, que percorriam a cidade espalhando raticida e recolhendo lixo. Criou o cargo de comprador de ratos, (funcionário que recolhia os roedores e pagava 300 réis por animal capturado). Oswaldo já sabia que as pulgas desses animais transmitiam a doença. No primeiro semestre de 1904, foram feitas cerca de 110 mil visitas domiciliares e interditados 626 edifícios e casas.
Os cariocas, insatisfeitos com as regras de combate às epidemias e insuflados pelos adversários do presidente, começaram uma onda de vandalismo na cidade, atacando o Palácio Catete, enfrentando a polícia, virando bondes e arrancando os trilhos dos mesmos. Apesar da insatisfação popular, a campanha deu bons resultados. As mortes, que em 1902 chegavam a cerca de 1 mil, baixaram para 48. Em 1907, de volta de uma exposição na Alemanha, onde foi premiado por suas obras de combate às doenças, Oswaldo sente os primeiros sintomas da sífilis. Cinco anos depois, em 1909, não havia registro, no Rio de Janeiro, de vítimas da febre amarela. Em 1916, o sanitarista ajudou a fundar a Academia Brasileira de Ciências e, no mesmo ano, assumiu a prefeitura de Petrópolis no RJ. Doente, faleceu vítima de insuficiência renal um ano depois, sem completar o mandato.”