Para alguém como eu, que gosta de tomar Bitter (Underberg, Fernet, Jagermeister), uma boa dose de Olina não chega a ser um sacrifício. Esse antigo remédio, que é sempre um recurso para endireitar o aparelho digestivo depois de excessos alimentares, não por acaso, usa como subtítulo “essência de vida”, o que é quase um convite aos glutões e epicuristas para que se recuperem e continuem desfrutando os deleites sensuais gastronômicos.
A apresentação do produto nas farmácias exibe uma caixa laranja, que é “mais ortodoxa do que a embalagem da Maizena”. Maizena que, aliás, mudou sua embalagem só para contrariar Luiz Fernando Verissimo, autor da frase entre aspas. Arcaico, sim, mas seguro e fiel, com o selo da tradição. Segundo o livro Indústria de Ponta – Uma História da Industrialização do Rio Grande do Sul, de Eduardo (Peninha) Bueno e Paula Taitelbaum, consta que teria sido esse o primeiro medicamento registrado em Porto Alegre. De acordo com os autores, tudo começou numa botica da cidade alemã de Colônia, onde o oficial de farmácia João Wesp e seu patrão tiveram a ideia de misturar sete plantas medicinais em um único frasco.
Com a eclosão da Primeira Guerra, Wesp migrou para o Brasil. Ao chegar em solo gaúcho, o alemão percebeu que, numa região essencialmente carnívora, sua solução digestiva teria mercado garantido e, portanto, sucesso comercial. Em um panelão, adicionou suco concentrado de aloé africano, extrato de mirra, raiz de genciana, rizoma de galanga, óleo de canela, caule de riobarbo e óleo de angélica. Feita a poção, ele mesmo levava o produto, em lombo de mula, para vender de porta em porta. Acabou preso, acusado de curandeirismo, em 1919.
Desde maio de 1916, o quase alquimista produzia em seu laboratório caseiro o remédio para indisposições estomacais. Curandeiro não era, mas que curava, curava. Após a detenção, decidiu registrar o produto para poder trabalhar sem ter problemas e instalou, no bairro Floresta, uma fabriqueta farmacêutica que acabou virando indústria. Mantendo a fórmula, o método de envelhecimento e a importação das matérias-primas, seu filho Alfredo Wesp e seu neto Max Wesp modernizaram a fábrica.
Com a conquista de novos mercados em Santa Catarina e Paraná, ampliou-se a produção ao ponto de ultrapassar os 100 mil litros de armazenamento de Olina (em adega própria, pois o método tradicional requer envelhecimento nos barris de carvalho).
O sabor pode ser amargo, mas o sucesso é, no mínimo, agridoce.