O texto a seguir é uma colaboração enviada pelo leitor Edilberto Luiz Hammes, médico em São Lourenço do Sul, na Região Sul, que pode ser contatado pelo e-mail hammesedilberto@gmail.com.
“Uma foto conhecida por muitos lourencianos e tida como ‘oficial’ da passagem do dirigível Graf Zeppelin LZ-127, em 1934, pela então vila de São Lourenço é esta acima, à esquerda. Foi obtida por Bruno Pruski, ‘artista-fotógrafo’ (como se denominava), profissional cego de um olho, vindo de Santa Catarina em 1929. Ele era casado com uma lourenciana e fixou residência na cidade até o dia de sua morte, em 1985, não deixando descendência. Mas esta foto é, na verdade, uma montagem.
As antigas câmeras fotográficas, embora fantásticas para a época, não dispunham dos recursos que até mesmo um telefone celular tem hoje. Como o Zeppelin passou sobre as ruas centrais de São Lourenço a uma altura relativamente grande e a maioria das fotos foram obtidas num ângulo de baixo para cima, foi difícil encontrar uma maneira de fotografar a gigantesca aeronave e, simultaneamente, as casas e ruas da sede municipal. Isso só seria possível caso o fotógrafo estivesse longe, afastado da zona central. Pruski morava no centro da cidade, e a foto dele foi feita do chão, em frente à sua casa, enquadrando apenas o dirigível contra o céu. Mas o habilidoso fotógrafo sabia o suficiente sobre montagem de fotografias. Em seu laboratório, ele superpôs o nítido e magnífico negativo da foto do dirigível que havia registrado com um negativo que já tinha, em que apareciam várias casas na rua principal da vila.
Pronto... a montagem estava quase perfeita: o grande Zeppelin passando sobre o centro de São Lourenço. Um detalhe, no entanto, no canto superior direito da imagem (indicado com a seta), e a discreta faixa mais escura ao redor do dirigível denunciam e traem a execução daquela que poderia ter sido a “foto definitiva”, o registro do seu testemunho, revelando, inquestionavelmente, a superposição das duas imagens. De qualquer forma, foi a maneira que a “perspicácia” do fotógrafo encontrou para deixar uma das mais famosas e clássicas fotografias de São Lourenço do Sul, na época tão somente São Lourenço, e ainda vila.
Meu pai, Guido Hammes, comerciante e fotógrafo amador, com 29 anos de idade na época, subiu no telhado de sua casa, que ficava mais afastada do centro, e conseguiu obter três fotos. Em uma delas, aparece o dirigível e parte da vila na mesma cena. Certamente, esta é a única foto autêntica que comprova a passagem do famoso dirigível alemão por São Lourenço, em uma sexta-feira, 29 de junho de 1934. Até hoje, os negativos (de vidro, pois eram estes que a câmara operada, uma Agfa-Standard, utilizava antes do advento dos filmes em rolo que dominaram o mercado da fotografia até a chegada das câmaras digitais) estão preservados.”