No último dia 28 de junho, o Almanaque Gaúcho abordou a Escola Varig de Aeronáutica (Evaer). Ainda a propósito da formação de pilotos em nosso Estado, o leitor Jorge Ricardo González nos lembra que, anterior à criação da Evaer, existiu a Varig Aero Esporte (VAE), uma das primeiras escolas de pilotos organizadas no país. A Varig foi fundada em 1927. Dez anos depois, em fevereiro de 1937, seu presidente Otto Ernest Meyer elaborou um projeto para: “dar à juventude do Rio Grande do Sul o melhor meio de adestramento, de formação de caráter, educando-a, assim, para serem valiosos cidadãos brasileiros”. Naquele mesmo mês, a VAE recebeu a primeira turma, com de 10 moças e 48 rapazes, entre alunos e sócios, matriculados nas categorias de voo a motor, planadores e aeromodelismo.
O organizador e, por muitos anos, dirigente foi o comandante Carlos Henrique Ruhl, piloto da empresa enviado à Alemanha para aperfeiçoar seus estudos como piloto comercial e instrutor em planadores na escola de Grunau. A construção de planadores fazia parte do currículo do curso sem motor. Antes de iniciar esse trabalho, os alunos deviam atuar como aprendizes na oficina. Essa era a única contrapartida “cobrada” dos associados. A escola foi instituída com os melhores métodos de ensino e equipamentos existentes na época, equiparados aos europeus. Foram muitos os pilotos e comandantes da Varig que iniciaram suas carreiras na VAE.
O treinamento se iniciava com os planadores sendo rebocados por camionetas picape, à baixa altura, e, mais tarde, rebocados por pequenos aviões, no Aeródromo de São João, na Capital, que naquela época era pouco movimentado. Voos também eram realizados nas encostas das cercanias da cidade, como na colina onde hoje é o bairro Três Figueiras, e eram utilizados cabos elásticos para os lançamentos.
Parte do acervo de planadores da VAE foi doado para um grupo de pilotos e funcionários da Varig, os quais fundaram, em 28 de julho de 1950, o Clube de Planadores Albatroz, que opera até hoje no aeródromo da cidade de Osório. Dois planadores, um Göppingen Wolf (importado da Alemanha pela VAE em 1938) e um Grunau, ao final da sua vida útil (provavelmente no final dos anos de 1960), foram entregues para o Museu da Varig. Pelo que se sabe, existem cinco planadores Wolf, no mundo todo, sendo três devidamente preservados em museus e um recentemente recuperado na Alemanha, este em condições de voo. Quanto ao Grunau, não se sabe se também foi importado ou se foi construído na VAE, de acordo com as plantas originais. Na VAE, foram construídos diversos planadores, alguns distribuídos a aeroclubes em formação, na época, no interior do Estado.
Segundo Jorge Ricardo, “a preocupação de muitos que tiveram a oportunidade de aprender a voar nestes planadores (como foi o meu caso, embora não tivesse seguido carreira na aviação) é a de que eles possam ser preservados”. Ele confessa: “Não sei qual terá sido o destino final do acervo do Museu da Varig e dos planadores, mas, como não podem ficar expostos ao ar livre, uma solução seria expô-los dentro do aeroporto Salgado Filho, a exemplo de como é feito na Alemanha e em outros países. Assim, estará sendo preservada uma importante parte da história da aviação gaúcha”.