
O texto a seguir é uma colaboração de Cynthia Oderich Trein, pesquisadora da genealogia de sua família, que gostaria de saber mais sobre o Club Haydn, de Porto Alegre. Quem tiver informações para contribuir, por favor, enviar para o e-mail almanaque@zerohora.com.br.
Filha de proprietários de terras e pertencente à pequena nobreza da Dinamarca, Louise Henriette Nielsen nasceu na aldeia da floresta de Skovby, na ilha de Aero, em 1847. Cresceu cercada de atenção e cuidados, dividindo o tempo entre as aulas de dinamarquês, matemática e etiqueta, além das classes de piano, os bordados e os arranjos de flores, de acordo como era o costume no seu meio social.
Nos meses de verão, desfrutava os dias ensolarados em longas caminhadas na praia, pelos trigais dourados, ladeados de papoulas vermelhas e flores azuis, lilases e amarelas, com a brisa do mar a soprar no rosto, à procura de um lugar à sombra para estender a toalha de pique-nique. Gostava demais do caminho para a aldeia vizinha de Breining, de onde era possível avistar os barcos retornando com a pesca e, mais ao longe, a cidade de Faarbourg, destino das embarcações com a produção de grãos, de manteiga e de banha, partindo de Soby à ilha Funen, a caminho de Odense e Nyborg. Nestes passeios, era acompanhada pela criada, Maria, um pouco mais jovem do que ela.
Das artes que aprendeu, era com o piano que extravasava toda a sensibilidade da alma, estudando partituras e arriscando, inclusive, criar as suas próprias composições. Como é sabido, pianos necessitam ser afinados para soarem corretamente e, com esta finalidade, o seleiro Jens Peter Rasmussen era frequentemente chamado à residência dos Nielsen.
Não muito mais velho do que Louise, Jens Peter partilhava do mesmo gosto pela música e não tardou para os dois jovens se apaixonarem No entanto, à época, casamentos eram assunto de família, e moças “bem-nascidas” não escolhiam seus noivos. De origem humilde e sem posses, o amor do afinador de piano não foi suficiente para credenciá-lo como pretendente à mão da fina senhorita. Determinada, Louise desistiu de sua nobreza, deixando de vez a casa dos pais.
Casaram-se em Odense, onde tiveram duas filhas: Sophia Dorotea e Johanna. Anos depois, nas últimas décadas do século 19, migraram para o Brasil, fixando-se em Porto Alegre, onde abriram uma loja de flores. Louise e Jens Peter educaram as filhas com o mesmo gosto pela música, de modo que Sophia se tornou diretora da orquestra filarmônica da cidade, por volta de 1890, aos 21 anos, e Johanna, cantora lírica, encantou plateias exigentes em teatros importantes na Itália e na Alemanha e abrilhantou apresentações no Club Haydn, na Capital. Ambas se casaram com médicos graduados em Viena, na Áustria, e Heidelberg, na Alemanha.
Esta história de amor, mantida em segredo na família, veio à baila agora, 150 depois, com o casamento realizado em Copenhague, no ultimo dia 8 de junho, da tataraneta brasileira mais velha do casal, com um rapaz dinamarquês.
