A colaboração abaixo foi enviada pelo jornalista, ex-funcionário e criador do Museu Varig, Mario de Albuquerque, autor do livro Berta: Os Anos Dourados da Varig, como resposta as justificadas inquietações manifestadas pelo leitor Jorge Ricardo González (Almanaque Gaúcho de 10/7) a propósito do destino do acervo que preserva a memória da empresa aérea e a história da aviação no RS e no Brasil.
“Depois da morte de Otto Meyer e Ruben Berta, no fatídico ano de 1966, a Varig passou a editar uma série de revistas internas, em que a história da companhia começou a ganhar vulto. Nasceu daí a necessidade de juntar-se todo um monumental acervo por meio da criação do Museu Varig. Inaugurado em outubro de 1971, com o apoio do diretor regional Erni Silveira Paixoto e do presidente Erik de Carvalho, logo tornou-se centro de atração.
Especialmente os colégios da Capital e do interior do Estado passaram a colocar em seus currículos de visitação, durante os dias da semana, como item de cultura geral. A adesão foi enorme, recebendo já no primeiro ano, cerca de 10 mil estudantes. Quando os grupos chegavam deparavam-se na frente do grande hangar, com um veterano DC-3 de prefixo PP-ANU dando as boas vindas. Ele podia ser visitado, sendo possível chegar até a cabine e dar uma de comandante. Nos finais de semana, o museu era aberto à visitação pública, fazendo parte do roteiro turístico da cidade.
No seu interior, as atrações tomavam um vulto imponente. Suspenso estrategicamente no teto, aparecia o planador Gaivota, peça fundamental na formação dos antigos pilotos da Varig Aéreo Esporte (VAE). O visitante encontrava, ainda, um portentoso “mocape” (modelo em tamanho real) com poltronas do Super Constellation e maquetes de aviões da frota.
O serviço de bordo ganhava destaque, com uma vitrine que contemplava cardápios e uniforme de tripulantes de várias épocas, motores dos aviões históricos e dos modernos jatos marcavam presença, com dados pormenorizados da atuação de cada um. No final da visita, os alunos eram solicitados a fazerem uma redação sobre o assunto, que passava pelo crivo dos professores valendo premiação do setor de propaganda com muitos brindes.
A foto de Salomão Platchek, que ilustra a matéria do informativo, tirada em outubro de 1990, dá ideia da festa que marcou a reabertura do Museu, depois de dois anos fechado para reformas. Hoje, o melhor museu da aviação da America Latina está lacrado desde 2005, mas sua abertura é polêmica em função da falência da Varig.
Com autorização da Justiça, na busca de uma solução, foi publicado um edital com diretrizes aos possíveis interessados, cabendo a Ferruti Emprendimentos e Participações assumir o projeto, com a criação do Instituto Museu Varig/Experience, responsável pela preservação do acervo. Na primeira etapa foi restaurado o DC-3/PP-ANU estacionado junto ao Boulevard Laçador. A reabertura, no entanto, ainda é uma incógnita.
Assim, acalmando as inquietações do leitor Jorge Ricardo Gonzalez e muitos outros amantes da aviação, em cuja memória a Varig permanece viva, tudo deve estar cuidadosamente guardado e catalogado, para que a manchete do Boletim do Museu logo se repita.”