Chazinho de boldo para dor de barriga, guaco pra tosse, maracujá pra acalmar. Todo mundo tem uma receita que é tiro e queda para curar qualquer enfermidade. Essa sabedoria que vai passando de geração em geração é levada muito a sério em um município da Serra gaúcha.
Em Nova Petrópolis, os pacientes saem de dentro do posto de saúde com um saquinho de chás receitado pelo médico. O projeto começou em 2007 e virou lei no ano seguinte, conforme explica a secretária municipal de Saúde e Assistência Social, Andréia Siqueira Frota.
– A comunidade já utilizava as plantas com o conhecimento que lhes era passado através dos tempos. Então, o projeto nasceu da necessidade explicar, conhecer e estabelecer o uso correto para determinadas plantas ditas medicinais, que eram usadas, mas não da forma adequada – conta.
São dez tipos de plantas medicinais distribuídas na forma de chás nas farmácias das Unidades Básicas de Saúde e no Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) do município. Fazem parte do elenco camomila, espinheira santa, estévia, guaco, hipérico, macela, malva, maracujá, melissa e quebra-pedra.
Cada planta medicinal tem uma indicação de uso – algumas para tratamento de ansiedade, insônia, distúrbios digestivos, depressão leve, tosse, resfriado e como anti-inflamatório.
As plantas medicinais são produzidas de forma sustentável no município e o cultivo, colheita, preparo e embalagens dos chás são desenvolvidas em parceria com a Emater. A dispensação é feita com a receita médica ou odontológica, podendo muitas vezes ser prescrito associado ao uso de remédios da medicina convencional, pois nem sempre é possível tratar enfermidades unicamente com as plantas.
– Nós entregamos nas farmácias das Unidades Básicas de Saúde e sempre vinculado a uma receita médica ou de dentista. Há este acompanhamento do médico, para ele saber que a pessoa está fazendo uso de plantas e muitas vezes juntamente com medicamento tradicionais – explica a farmacêutica Caroline Drechsler, uma das responsáveis pelo projeto.
Os agentes de saúde e médicos fazem treinamentos que são multiplicados em palestras na comunidade. A massoterapeuta Ingret Konhath é uma das pacientes. Prefere começar o tratamento sempre com produtos naturais e já aprendeu a preparar os chás.
– Tem que fazer o chá pra tomar logo; não é para deixar parado; não deixar as folhas mais do que dez minutos dentro da água; cozinhar só raízes e cascas; o resto fazer só fusão - ferver água e colocar em cima do chá – diz.
Mas não é sair fervendo ervas a esmo. Os chás também podem fazer mal se tomados da maneira incorreta. Eles interagem com medicamentos no organismo e podem potencializar efeitos. Se o paciente estiver tomando um chá calmante, por exemplo, e tomar um medicamento para pressão, pode ter uma queda brusca.
Também não é recomendado fazer uso crônico das substâncias. Utilizar uma mesma erva por mais de 14 dias pode comprometer fígado e interação com outros medicamentos, segundo a farmacêutica responsável pelo projeto.
Mas, para cuidados pontuais, é sempre bom ter um chazinho de macela para problemas gastrointestinais, malva para infecções e guaco para tosse, gripe e resfriado. Qualquer dúvida, um médico ou farmacêutico podem passar as orientações corretas.
Ouça a matéria que foi ao ar neste sábado, dia 08 de julho, no programa SuperSábado: