O personagem principal desta história, Apparício Mariense da Silva, era filho de Manuel Francisco da Silva “Duduca” e de Francisca Alves da Silva. Apparício nasceu em São Borja, em 30 de maio de 1856. Em 1865, aos nove anos, a família teve que se refugiar na cidade de Uruguaiana, pois nosso país foi invadido pelo exército do Paraguai. A partir daí, nasceu o ardoroso patriotismo. Alguns anos depois, transferiu-se para Porto Alegre a fim de estudar. Ao voltar à terra natal, levou consigo as ideias republicanas. Na sua cidade, entrou para a política e tornou-se vereador, pelo Partido Republicano Rio-Grandense (PRR), comandado por Júlio de Castilhos e Joaquim Francisco de Assis Brasil.
Como vereador, apresentou um projeto audacioso, polêmico e perigoso, considerando-se que a cidade de São Borja, à beira do Rio Uruguai, tinha expressão somente nas Missões, declarando-se contra – nada mais nada menos – o Terceiro Reinado. Naturalmente, após a morte do monarca Dom Pedro II (1825-1891), o projeto da Moção Plebiscitária foi posto em pauta na Câmara de Vereadores, pelo então vereador Apparício Mariense da Silva, em outubro de 1887, e, após diversas seções e debates, foi aprovado em 13 de janeiro de 1888.
As famílias de posse naquele município faziam contribuições em dinheiro, espontâneas e sistemáticas, para a compra e libertação de escravos. O movimento libertário começou com a Lei Eusébio de Queiroz, de 1850, seguida pela Lei do Ventre Livre, em 1871, e a Lei dos Sexagenários, em 1885, e finalizada pela Lei Áurea em 13 de maio de 1888, por meio de Lei Imperial 3.353. Aos 19 anos, Apparício Mariense se casou com Maria Luísa Dorneles, filha do casal major Serafim e dona Umbelina Dorneles. Em 1900, Apparício encaminhou seu sobrinho Getúlio Dorneles Vargas para estudar Direito na Faculdade Livre de Direito de Porto Alegre, atual UFRGS, onde o futuro presidente da República se formou em 1904.
Com a Moção Plebiscitária aprovada pela Câmara de Vereadores de São Borja, Apparício resolveu apresentá-la a seus irmãos da Maçonaria, que também comungavam contra a instauração do Terceiro Reinado. Além disso, o projeto foi encaminhado à Assembleia Rio-Grandense, solicitando que enviassem às outras Assembleias Provinciais. Todas as Lojas Maçônicas e as Assembleias Legislativas do Brasil aderiram à ideia. Como o movimento republicano se expandiu por todo o país, o imperador mandou processar os vereadores e deputados que aderiram à ação contra o Império. Mas não deu em nada. A campanha contra o Terceiro Reinado se disseminou cada vez mais por todo o país.
A princesa regente do Brasil, Isabel, e seu marido, o francês Conde d’Eu, não formava um casal com grande prestígio junto à população, até que, em 11 de maio de 1888, a Lei Áurea foi formalmente apresentada ao Senado Imperial te aprovada no dia seguinte. Não muito tempo depois, no dia 15 de novembro de 1889, foi proclamada a República e o Estado Político Militar instaurou a forma Republicana Presidencialista de governo no Brasil, encerrando a monarquia constitucional-parlamentarista do Império e, por conseguinte, destituindo o então, imperador Dom Pedro II.
Assim, o trabalho e a perseverança do vereador e cidadão são-borjense, Apparício Mariense da Silva, morto em 1910, antecipou-se e contribuiu para a extinção da Monarquia no Brasil.
Colaboração de Luiz Carlos Mello