Onde uma vez terminava a Picada Velha, a Linha 48, na colônia alemã, subindo a Serra na direção do que é hoje Nova Petrópolis, foi aberto um caminho estreito na mata, que recebeu o nome de Linha Nova. Era o ano do Senhor de 1846. A Guerra dos Farrapos havia terminado e o Rio Grande do Sul voltava a receber alemães, dispostos a ocupar as terras tomadas dos índios pelo governo e se estabelecer no sul do Brasil. Nesse contingente de imigrantes estavam os Ritter e, seus parentes, os Kessler, assim como os Noll, Zirbes, Schmidt e outras famílias interligadas por laços de parentesco e amizade por gerações, procedentes de Birkenfeld, no Hunsruck.
Ao longo do novo caminho, de um lado e de outro, foram demarcados 60 lotes de terra, mas apenas de frente, pois medir os fundos dos terrenos significaria se embrenhar ainda mais na mata escura, à custa de tempo, riscos e outros tantos golpes de facão, em meio à espessa vegetação. Embora irregulares, os lotes foram adquiridos e ocupados pelos imigrantes, que esperariam mais de 20 anos para obter as escrituras — e, ainda assim, após uma série de conflitos entre autoridades e colonos.
Nenhuma das famílias da nova leva de alemães viera às custas do império. Todas haviam pago pelas passagens de navio, pelo deslocamento até São Leopoldo, pela gleba, pelos animais, ferramentas, utensílios e sementes. Independentemente da profissão de cada um, fosse marceneiro, tecelão, ferreiro, sapateiro, joalheiro ou cervejeiro, todos derrubaram árvores, curvaram-se sobre a enxada e o arado. Assim construíram, em conjunto, as primeiras cabanas, o barracão das ferramentas, as casas, a escola, a igreja, as estradas e as pontes da picada. Felizmente, a terra era fértil, o clima ameno e a determinação das pessoas, inabalável. O fim da picada era apenas o inicio de um novo caminho.
Ali, no fim da Picada Nova, nos anos de 1848, 1853 e 1859, respectivamente, nasceram os três moços da foto: Henrique Ritter Filho, o mais velho, sentado, com o irmão Carlos, à direita e o primo-irmão Frederico Jacó, à esquerda. Três empresários bem-sucedidos, premiados, criados em Linha Nova e que fariam história no nosso Estado ao fundarem duas das maiores e mais modernas cervejarias do RS no final anos 1800 e início dos anos 1900: a Cervejaria H. Ritter, de Porto Alegre, e a Cervejaria C. Ritter & Irmão, de Pelotas.
Colaborou Cynthia Oderich Trein