Os primeiros imigrantes alemães chegaram ao Rio Grande do Sul na metade do ano de 1824 e se instalaram no Vale do Rio dos Sinos, ali em São Leopoldo e arredores. Entre os anos de 1824 e 1830, chegaram ao nosso Estado 5.350 alemães. Menos conhecido e menos comentado é o fato de que, apenas dois anos depois de os pioneiros desembarcarem, imigrantes germânicos, em dezembro de 1826, foram enviados também para as cercanias de Torres, no Litoral Norte. Eram 84 famílias, num total de 400 pessoas. Elas foram divididas em dois grupos, levando em conta as suas convicções religiosas. Mais ou menos 40 famílias protestantes foram assentadas no Vale de Três Forquilhas, enquanto as outras ficaram mais próximas a Torres, precisamente no Vale do Mampituba.
Os recém-chegados tiveram muito mais dificuldades do que seus conterrâneos, que viviam perto de Porto Alegre, um centro urbano com fácil acesso por hidrovias, onde podiam colocar sua produção e adquirir o que necessitavam. A escolha desse local talvez tenha atendido aos interesses de poderosos da época, como o coronel Francisco de Paula Soares e Manoel Ferreira Porto, que teriam sido os mentores da colonização alemã em Torres.
Antes mesmo de pedirem ao governo da província que enviasse colonos para aquela área, trataram de construir uma estrada que ligou o presídio de Torres à Serra do Malha-Coco, passando pelo Vale do Mampituba, onde Ferreira Porto possuía vasta propriedade. As coisas pareciam andar bem, até que chuvas impiedosas inundaram tudo. Os colonos, apavorados, tiveram que juntar os seus pertences e buscar terras mais altas, nos morros próximos, ao leste da lagoa do Morro do Forno, onde se estabeleceram.
O novo local escolhido, situado onde hoje é a zona do Jacaré, coincidentemente pertencia ao coronel Paula Soares, onde, inclusive, ele tinha em funcionamento um engenho de cana. Passadas as enchentes, os colonos não quiseram voltar para o local de onde tinham saído e, mesmo descontentes, negavam-se a deixar as terras ocupadas.
Alguns queriam abandonar definitivamente a colônia e pediam transferência para locais como Tramandaí. O governo, para obrigá-los a trabalhar a terra, cortou-lhes os subsídios. Os colonos, sublevados sob a discutível liderança de um tal Boudier (ligado a Paula Soares, que provavelmente queria desocupar suas terras), fizeram um abaixo-assinado e foram, em comissão, à Capital para levar suas reivindicações. Alguns colonos chegaram a ser presos, mas logo foram soltos.
Diante da intransigência do governo, não restou alternativa aos imigrantes (e a Paula Soares) a não ser retornarem ao Jacaré e tocarem, resignados, suas vidas difíceis e produtivas.
Fonte: livro Imigração Alemã em Torres – Por quê?, de José Krás Selau