Todo jornalista tem que ter um tanto de alma cigana, afinal, a profissão nos obriga a “acampar” nos assuntos de interesse dos nossos leitores, ouvintes, telespectadores.
Provisoriamente, nos instalamos nos locais onde acontecem os fatos. É lá que vamos colher as informações (visuais ou não) e é de lá que temos que enviar o que foi apurado. Desde que existe a imprensa, tem sido assim. É claro que essa tarefa foi sofrendo grandes transformações e se aperfeiçoando com o passar do tempo e com o desenvolvimento de novas tecnologias.
A primeira era fazer as fotos e correr para o aeroporto em busca de um passageiro que estivesse embarcando para o Brasil
RICARDO CHAVES
A cobertura de uma Copa do Mundo é um bom exemplo dessa imersão temporária. Lembro de, quando criança, ouvir pelo rádio as transmissões esportivas na voz de Mendes Ribeiro. A narração ia e voltava, mais forte ou mais fraca, através das ondas radiofônicas curtas, médias ou longas. Já como repórter-fotográfico, cobri dois mundiais de futebol: Espanha, em 1982, e México, em 1986. Muita emoção, mas, sobretudo, muito trabalho.
Nessa época, havia duas maneiras de remeter imagens. A primeira era fazer as fotos e correr para o aeroporto em busca de um passageiro que estivesse embarcando para o Brasil e se dispusesse a trazer os filmes operados. Era preciso estar em ou ir até um lugar que fosse a origem de voos diretos ao nosso país. Evitar conexões aumentava a segurança de que o material chegaria ao destino.
Hoje, quem pegaria um pacote de um estranho antes de embarcar num voo internacional? Pelas revistas semanais, ilustradas com fotos coloridas, era o método mais barato e utilizado. Jornais diários, mais instantâneos, por não disporem de tempo, usavam o recurso das telefotos. Antes, até 1982, essas telefotos eram exclusivamente em preto e branco.
A partir dessa data, os jornais (e as revistas que desejavam atualizar as fotos) passaram a contar com telefotos coloridas. No caso das fotos em preto e branco, era preciso transformar o banheiro do hotel em laboratório fotográfico e, para isso, levar tudo o que fosse necessário para revelar filmes e fazer cópias em papel: tanques, químicos, ampliador, lanternas, banheiras... uma loucura! Transmitir uma única foto colorida significava 30 minutos de ligação DDI. Custo alto, portanto.
O aparelho possuía um cilindro rotativo, que era envolvido pela foto. Uma “cabeça” leitora se deslocava longitudinalmente, enquanto a foto rodava e a célula ia “lendo” e transformando as tonalidades da imagem em diferentes sons (mais graves ou agudos), que eram enviados pela “linha” (satélite) do telefone “grampeado” à máquina.
Nos anos 1990, já não era mais preciso fazer cópias em papel. Os negativos eram digitalizados por um scanner e um notebook fazia a transmissão. Finalmente, na virada do século, chegaram as câmeras digitais e tudo ficou mais fácil.
Isso não significa que agora os fotógrafos trabalhem menos. Com as plataformas online, trabalham até mais do que antes, mas, certamente, melhor. Muito mais rápido, maior presença nos fatos e com menor custo.