Muitos podem pensar que o livro de bolso não é uma invenção tão antiga. Trata-se de um erro. Com formato reduzido e preço acessível, o livro de bolso se popularizou na Europa do século 19, a exemplo da Coleção Charpentier, na França, das edições Tauchnitz, na Alemanha, e dos livros oferecidos nas estações de trem da Inglaterra.
No Rio Grande do Sul, o livro de bolso, de acordo com alguns autores, remete-nos à poetisa cega Delfina Benigna da Cunha (1791-1857), nascida em São José do Norte, na Estância do Pontal. Entre outras obras, ela é autora de Poesias Oferecidas às Senhoras Rio-Grandenses (1834), considerado o primeiro livro de poesia impresso no Estado, reeditado, em 1838, no Rio de Janeiro. No livro 50 anos de Literatura – Perfil das Patronas (1993), página 25, organizado pela Academia Literária Feminina do Rio Grande do Sul (ALFRS), a escritora Marília Beatriz Cibils Becker registrou sobre a poetisa cega: “(...) Seus livros são de pequeno tamanho, fáceis de manusear e delicados para a leitura das senhoras (livro de bolso)”. Marília ocupa na ALFRS a cadeira número 1, da qual Delfina Benigna da Cunha é patrona.
Já o autor Eloy Terra, em As Ruas de Porto Alegre (2001), da Editora AGE, página 69, ao se referir à obra da poetisa cega, complementou: “(...) Era um livro de pequeno formato. Cabia na bolsa das senhoras da sociedade”.
No Brasil, os primeiros livros de bolso em série são creditados à Coleção Globo, lançada em 1933 pela Livraria do Globo de Porto Alegre. Totalizando 24 títulos, os livros mediam 11cm x 16cm. Em 1942, o seu editor e empresário, Henrique Bertaso (1906-1977), lançou a Coleção Tucano. Infelizmente, ambas as iniciativas tiveram sucesso apenas parcial. Nos anos 1960, diante do êxito de venda do pocket book nos supermercados dos Estados Unidos, novamente a Editora Globo decidiu investir no livro de bolso. Ao lançar, em 1961, a Coleção Catavento, a editora manteve a sua proposta inicial de difundir os clássicos literários a preços populares, saindo, assim, do restrito circuito das livrarias, consideradas, à época, elitistas.
Segundo Antônio Coutinho Leite, em seu artigo “Difusão do Livro de Bolso”, publicado na revista literária Preto e Branco da Editora Globo, número 3, de 1961, a Coleção Catavento foi colocada à venda, em Porto Alegre, em farmácias, confeitarias, supermercados e bares, sendo acondicionada em modernas estantes de madeira. Alguns números dessa revista fazem parte do acervo do Museu da Comunicação Hipólito José da Costa, atualmente dirigido pela jornalista Elizabeth Corbetta.
A verdade é que o livro de bolso esperou algumas décadas para conquistar um espaço definitivo no mercado, apesar dos esforços da Editora Globo, da Edibolso, em consórcio liderado pela Editora Abril, em 1971, seguido pelas Coleções Sagarana da José Olympio e Saraiva. Ainda no final da década de 1970, o presidente da Brasiliense, Caio Graco Júnior, e o editor da Companhia das Letras, Luiz Schwarcz, também adotaram o formato de 11cm x 16cm na Coleção Primeiros Passos.
Historicamente, é notório que havia restrições quanto ao livro de bolso. Como os exemplares eram vendidos a preços mais baixos, o livreiro não se sentia atraído em receber margens menores por produto. Finalmente, em fevereiro de 1997, com o lançamento de uma série pela editora L&PM, composta de 12 clássicos da literatura universal, o pocket book iniciaria a sua consolidação no mercado.
Ivan Pinheiro Machado – um dos fundadores da L&PM – declarou que a editora, em 2004, já havia alcançado a marca de 1,5 mil displays dos pockets “do Belém à Avenida Paulista”. Em 2011, a editora atingia a venda expressiva de mais de 2 milhões de livros de bolso em todo o Brasil.
Em 1986, a nossa tradicional Editora Globo foi vendida à carioca Rio Gráfica Editora. Fundada em Porto Alegre em 1883, sua história permanece viva na memória cultural dos gaúchos. Entre novidades e tantos sucessos editoriais, a Editora Globo foi pioneira no Brasil ao introduzir no mercado o livro de bolso.
Colaboração de Carlos Roberto Saraiva da Costa Leite, pesquisador e coordenador do setor de imprensa do Museu da Comunicação Hipólito José da Costa