Hoje, dia 8 de junho de 2018, completam-se cem anos da descoberta de uma nova estrela na constelação da Nova Aquilae ou Nova Águia. Essa façanha foi alcançada pelo então jovem médico Ulrich Heinrich Kuhlmann, que veio diretamente da Alemanha para Ijuí, onde chegou em julho de 1913. A par de sua principal atividade na medicina, sempre voltada a minorar os sofrimentos dos habitantes do município e da região, ele demonstrava especial interesse pela fotografia e astronomia.
Em seu livro Medicina em Ijuí, ao resgatar a trajetória de vida do doutor Kuhlmann, especialmente a sua atuação como médico, numa época em que as condições sanitárias eram muito precárias, a professora e historiadora Marilda Almeida da Silva assinala que, “enquanto na Europa (ele) dirigia seus estudos aos astros do Hemisfério Norte, em Ijuí (ele) passou a se dedicar, evidentemente, a um novo recorte: o céu do Hemisfério Sul. Para tanto, trouxe entre seus pertences um telescópio, com o qual descobriu, em 1918, uma nova estrela, a Nova Aquilae”. Foi assim que, na noite de 8 de junho de 1918, Kuhlmann descobriu a nova estrela na constelação de Águia, fato que ele comunicou telegraficamente ao diretor do Instituto Astronômico e Meteorológico da Escola de Engenharia. Observações executadas nesta entidade na noite seguinte pelo astrônomo e doutor Frederico Rahnenfürer confirmaram a informação e permitiram fixar a posição da nova estrela.
O fato foi noticiado por vários jornais e revistas do RS, entre os quais o Correio do Povo e A Federação, de Porto Alegre, em 12 de junho 1918; Correio Serrano, de Ijuí, em 17 de junho de 1918; Diário do Interior, de Santa Maria, em 13 de junho de 1918; e Gazeta Colonial, também da Capital, em 15 de junho 1918.
No livro, Marilda destaca: “O que foi observado pelo dr. Kuhlmann, naquela noite, é um fenômeno conhecido na astronomia como ‘nova’, de grande interesse para a ciência, no estudo dos processos de evolução estelar. Nesse sentido, para enfatizar a relevância de tal acontecimento, valemo-nos das informações registradas e atualizadas pela International Astronomical Union (IAU), sediada nos Estados Unidos. Segundo o site da instituição, 8 de junho de 1918 é considerada uma data histórica para a astronomia, em decorrência da descoberta da Nova Aquilae, ou Nova Águia, uma estrela que, dentro da sua categoria, foi a mais brilhante dos últimos 300 anos”.
Ulrich Kuhlmann, por sua capacidade, competência e espírito humanitário, escreveu seu nome na história da medicina e na da comunidade ijuiense. Ele dirigiu o primeiro hospital do município, construído nos anos de 1914 e 1915, por meio de uma sociedade surgida no seio da comunidade evangélica. Também teve destacada participação na escola antecessora do atual Colégio Evangélico Augusto Pestana.
Foi iniciativa sua adotar a Igreja Evangélica Luterana que até hoje ostenta o relógio em sua torre. Embora nunca tivesse atuação política, Kuhlmann recebeu, incrédulo e perplexo, o convite do chefe político Antônio Soares de Barros (Coronel Dico) para assumir o cargo de intendente municipal, que havia sido deixado pelo coronel Alfredo Steglich. Ele exerceu o cargo de 15 de abril a 30 de novembro de 1928. O doutor Kuhlmann atuou como clínico e cirurgião até julho de 1942, quando encerrou suas atividades, face ao surgimento do Hospital de Caridade de Ijuí (HCI), transferindo sua residência para Porto Alegre.
Já na Capital, ele descobriu o surgimento de um novo cometa, observado pela primeira vez às 21h do dia 12 de fevereiro de 1963, na constelação do Octante. Esse fato foi noticiado, na época, pelo jornal Folha da Tarde, de Porto Alegre. Ulrich Kuhlmann morreu em Porto Alegre no dia 15 de novembro de 1975, aos 91 anos de idade.
Colaboração do jornalista e escritor Ademar Campos Bindé, membro do Círculo dos Escritores de Ijuí Letra Fora da Gaveta.