“Na maioria das vezes, a história é escrita pelos vencedores. Mas o Rio Grande do Sul fez exatamente o contrário. Daí a importância de livros como este para melhor entendimento dos dois lados em conflito.”
Com a frase anterior, o escritor Alcy Cheuiche, no verão deste ano, encerrou o prefácio do livro, recentemente lançado, Herval e a Revolução Farroupilha, de 48 páginas, da Martins Livreiro Editora, obra do hervalense Getúlio Dorneles Fernandes da Silva, autor também de Herval RS – Origens e Primórdios.
Getúlio nasceu na Fazenda Butiá, no interior desse município gaúcho, onde residiu até os 20 anos. Como orgulhoso filho daquela terra, ele enfatiza a relevância do lugar, e das personalidades ali nascidas, na história do nosso Estado. Claro, objetivo e sintético, como o define Cheuiche, o pesquisador (e pós-graduado em Administração pela UFRGS) resgata a decisiva participação de seu conterrâneo João da Silva Tavares (1790-1872), ao lado das forças imperiais, na Guerra dos Farrapos.
Tavares é genro de Bonifácio José Nunes, fundador de Herval. Ele lutou ao lado de Bento Gonçalves na Primeira Guerra Cisplatina (ou Guerra contra Artigas), entre 1816 e 1820, na qual tornaram-se amigos e compadres.
Quando a Revolução Farroupilha estava para estourar, Tavares deixou claro que, embora fosse solidário com a mágoa dos conterrâneos em relação às políticas do Império, nenhuma iniciativa que ameaçasse a “unidade da pátria ou o regime em vigor” teria seu apoio.
Num encontro com o líder farroupilha, teria dito: “Amigo Bento, minha lealdade faz com que eu guarde segredo, porém, fique sabendo que, declarada a revolução, serei dos primeiros a combatê-la; minha espada será desembainhada em defesa e garantia das instituições que nos regem”. Separaram-se amigos e foram lutar por suas convicções.
Nos dias que antecederam o 20 de setembro de 1935, Tavares foi avisado de que seria preso. Refugiou-se a uma légua de sua casa e preparou-se para reagir. No dia 22, a moradia foi atacada e os rebeldes repelidos e perseguidos. Teria sido esse o primeiro confronto da Guerra dos Farrapos. A presença de castelhanos no assalto a sua fazenda reforçou a convicção que tinha de que eles apoiavam os revoltosos para separar a província e, no futuro, mais facilmente anexá-la às terras do prata.
Por sua lealdade ao governo imperial, Silva Tavares acabou nomeado comandante da fronteira de Jaguarão, em abril de 1834. Um ano depois, seu comando foi ampliado para Rio Grande, Rio Pardo e Alegrete.
Continuou peleando, foi preso, fugiu, exilou-se, voltou, continuou brigando e, depois de uma trajetória rica de fatos e feitos, morreu, em Bagé, em 27 de março de 1872, com mais de 80 anos, como Barão e Visconde do Cerro Alegre.
Curiosamente, João da Silva Tavares é tataravô de Alcy Cheuiche pelo lado materno, ou seja: é bisavô da sua mãe, Zilah Maria Tavares Cheuiche.